É sob pressão que os homens revelam a sua real natureza. Em condições, vamos dizer, estáveis, normais, quase todos somos cordeiros. A questão é saber o que basta para despertar o lobo sanguinolento que habita nossas almas. Então todos temos em nós lobos e cordeiros? É possível que sim; talvez essa dualidade faça parte da nossa natureza. Mas é por meio da razão, das escolhas morais, das escolhas éticas e, sim! das escolhas ideológicas que um ou outro se sobressai. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, construiu uma carreira política que o identificava com um cordeiro, mesmo fazendo parte do PT. Como um dos principais aliados de Antonio Palocci, por exemplo, nos primeiros tempos do governo Lula, ajudou a conter a alcateia partidária que queria pôr fogo na floresta da economia com seu socialismo rombudo e desinformado.
Mas, agora, diante da possibilidade de seu partido perder a eleição presidencial — e isso nunca pareceu tão possível desde 2002 —, eis que o cordeiro de Barnardo já não dá balidos, e o que se ouve é o rosnado do lobo. Em entrevista à Folha e ao UOL, o ministro tenta fazer passar por normal um crime contra a democracia e tenta transformar em crime contra a democracia a normalidade do debate. Explico.
Referindo-se à tramoia organizada pelo PT, pelo Palácio do Planalto e pela Petrobras para fraudar a CPI, afirmou: “Isso vem desde Pedro Álvares Cabral. Porque, na primeira CPI, já deve ter acontecido isso. A não ser que a gente queira fingir que nós somos todos inocentes, que somos muito hipócritas, e falar: ‘Não, isso não acontece’”.
Entendi. O ministro não apenas acha a lambança normal como, ao declarar a culpa dos entes envolvidos — uma vez que ele considera a inocência um fingimento —, sente-se confortável para defender um crime político porque avalia que todos fazem a mesma coisa. O grande mal que o PT faz ao regime democrático é precisamente este: naturalizar a ação criminosa. O ministro deixa claro que é um lobo e está convicto de que todos são.
Já o caso do banco Santander — que demitiu, por exigência dos petistas, quatro analistas que apenas cumpriram o seu papel ao estabelecer a conexão óbvia entre política e economia —, ah, nesse caso, Bernardo chega até a vislumbrar um crime. Afirmou: “Quando o banco entra na discussão política, eu tenho o direito de polemizar com ele (…) O principal problema é que paralelamente às avaliações sobre o desempenho da economia tem uma jogatina no mercado financeiro e no mercado de capitais (…) Na minha opinião, pode configurar até crime ficar fazendo movimentação atípica de ações. Acho que isso não é correto. O erro do Santander é entrar nesse jogo de jogatina. Vamos ser francos, é isso que está acontecendo”.
Direito de polemizar, todo mundo tem; de satanizar pessoas e de pedir cabeças, inclusive de jornalistas, como faz esse governo, aí não tem, não, senhor! Lamento! Mesmo tendo divergências severas com o que pensa Bernardo, eu mantinha por ele um respeito pessoal que se esvanece agora. O ministro não tinha, claro!, obrigação nenhuma de prezar essa consideração. O problema é que os petistas não estão se dando conta de que, a cada dia, vão se divorciando um pouco mais da cultura democrática.
Segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ainda é a favorita na disputa de outubro. Digamos que isso se mantenha e que o partido vença a eleição. A questão é saber com quem pretende governar e com quais valores. Parece que o lobo acha que não precisa nem mais usar a pele do cordeiro. Sua fantasia, agora, é ser lobo entre lobos.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/paulo-bernardo-tira-a-pele-de-cordeiro-e-deixa-claro-agora-o-pt-quer-um-regime-de-lobo-entre-lobos/
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