Ministério da Fazenda
Ministro afirmou que relatório publicado nesta terça, que aponta situação 'moderadamente frágil', teve como autor um economista de "escalão inferior"
Guido Mantega afirma que desconhece avaliação do FMI sobre o Brasil (Ueslei Marcelino/Reuters/VEJA)
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, desqualificou nesta terça-feira o relatório divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmando que o Brasil seria um dos países emergentes mais vulneráveis a mudanças na economia mundial. Por mais de uma vez, Mantega disse não ter informação sobre "o escalão" dentro do FMI responsável pelo relatório. "O relatório é de uma equipe do FMI que não sei quem é. Não é o diretor para o Hemisfério Sul", afirmou. O ministro disse que o relatório é de um escalão inferior.
Mantega afirmou que o Brasil tem um sistema financeiro sólido e pouco alavancado. "O Brasil tem uma situação bastante sólida, que nos permitiu atravessar as turbulências causadas pela retirada dos estímulos pelo Fed e isso foi superado e nos colocou à prova. Então, não faz sentido a conclusão desse relatório. Eu não li o relatório". "Com seis meses de atraso, o FMI repetiu o erro cometido no passado por outros analistas", declarou.
O ministro disse ainda que a avaliação feita no relatório não tem sido incluída nas análises das instituições financeiras respeitáveis. Ele afirmou que o déficit em transações correntes no ano passado foi afetado negativamente pelo déficit da conta petróleo, que, segundo ele, este ano, está melhor. A afirmação do ministro, contudo, é contrária aos próprios dados do Banco Central, que mostram o déficit num patamar muito acima do recomendável pelo FMI e acima também do resultado de 2013.
Relatório — Em relatório divulgado nesta terça-feira, o FMI alertou para a situação "moderadamente frágil" da economia brasileira. Segundo o fundo, o déficit em transações correntes, divulgado pelo Banco Central na sexta-feira, indica que os investimentos estrangeiros não são mais suficientes para cobrir os gastos dos brasileiros no exterior. Tal conta, diz o relatório, é o maior indicativo da fragilidade do país em momentos de turbulências externas. De acordo com o FMI, o Brasil consta, ao lado de Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul, no grupo dos cinco emergentes mais vulneráveis. Desde o início do ano, o país tem sido colocado em tal posição devido ao avanço de seu rombo. Tal constatação foi feita, inclusive, pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.
As transações correntes mostram o fluxo de divisas que circula no Brasil por meio de importações, exportações e transferências de recursos. O montante é composto pelas contas da balança comercial, serviços, rendas e pelas remessas ao exterior. O déficit em transações correntes do Brasil somou 3,345 bilhões de dólares em junho. Em maio, o déficit das transações ficou em 8,3 bilhões, o pior desempenho para o mês desde o início da série histórica, em 1947. No acumulado de janeiro a junho de 2014, o déficit em conta corrente soma 43,311 bilhões de dólares, o equivalente a 3,47% do Produto Interno Bruto (PIB). No acumulado dos últimos 12 meses até junho, o saldo está negativo em 81,193 bilhões de dólares, o que representa 3,58% do PIB.
O relatório do FMI seria mais alarmante se o fundo tivesse levado em consideração os dados de 2014. O texto informa que, em 2013, o rombo externo fechou no vermelho em 2,9% do PIB, muito abaixo do verificado neste ano. A avaliação do Fundo é de que um déficit equilibrado está entre 1% e 2,5%. "Mesmo que tenham diminuído, os desequilíbrios ainda são muito grandes. Em linhas gerais, se somarmos todo mundo, eles são o dobro do que esperávamos ver. Isso não é razão para alarme. É razão para preocupação", disse Steven Phillips, do Departamento de Pesquisa do FMI, em conferência telefônica sobre o relatório, divulgado em conjunto com outro estudo sobre contágios econômicos.
(Com Estadão Conteúdo)
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