Atualizado em 30 de janeiro, 2014 - 18:29 (Brasília) 20:29 GMT
Estudos do genoma revelam que a nossa espécie (Homo
sapiens) cruzou com neandertais após deixar a África em direção à Eurásia,
cerca de 65 mil anos atrás.
No entanto, até então não estava claro que tipo de
influência teve o DNA neandertal e se havia quaisquer implicações para a saúde
humana.
Entre 2% e 4% do código genético de não-africanos
atuais veio de neandertais.
Ao selecionar os genomas de 1.004 homens modernos,
os cientistas envolvidos no estudo, Sriram Sankararaman e seus colegas da
Escola de Medicina de Harvard (EUA), identificaram regiões que apresentavam
versões neandertais de diferentes genes.
Uma surpresa foi descobrir que uma variante do gene
associado à dificuldade em parar de fumar tem origem neandertal. Mas,
obviamente, não há qualquer sugestão de que nossos primos evolutivos
consumissem tabaco em suas cavernas.
Em vez disso, os pesquisadores argumentam, essa
mutação genética pode ter mais de uma função, e o efeito moderno desse gene no
ato de fumar pode ser um efeito entre vários.
Novas
paragens
Os pesquisadores descobriram que o DNA neandertal
não é distribuído uniformemente no genoma humano, mas é encontrado geralmente
em regiões que afetam a pele e o cabelo.
Isso sugere que algumas variações de genes
forneceram uma maneira rápida de os humanos modernos se adaptaram aos novos
ambientes mais frios que encontraram ao migrarem para a Eurásia. Quando as
populações se encontraram, os neandertais já vinham se adaptando a essas
condições há centenas de milhares de anos.
A espécie de fortes caçadores se espalhava por uma
área que ia da Grã-Bretanha à Sibéria, mas foi extinta há cerca de 30 mil anos,
enquanto o Homo sapiens se expandia para além de seu berço
africano.
A linhagem neandertal permaneceu nos humanos
modernos e foi encontrada, por exemplo, em regiões do genoma ligadas à
regulação da pigmentação da pele.
"Encontramos provas de que os genes
neandertais da pele fizeram com que europeus e asiáticos do leste se adaptassem
melhor à evolução", disse Benjamin Vernot, da Universidade de Washington,
coautor de outro estudo sobre o tema publicado na revista Science.
Vernot e sua equipe analisaram o genoma de mais de
600 pessoas da Europa e do leste da Ásia pelo computador, para encontrar
variantes de genes que continham marcas neandertais.
Genes responsáveis pelos filamentos de queratina -
uma proteína fibrosa que confere resistência a cabelos, pele e unhas - também
foram enriquecidos com o DNA neandertal. Isso pode ter ajudado os novos humanos
a terem um isolamento maior contra o frio, segundo os cientistas.
"É tentador pensar que os neandertais já
estavam adaptados ao ambiente não-africano e deixaram este benefício genético
aos humanos (modernos)", disse o professor David Reich, coautor do estudo
publicado na Nature.
Mas outros de seus genes variantes influenciaram
algumas doenças humanas, como a diabetes tipo 2, a depressão de longo prazo, o
lúpus, a cirrose biliar - doença autoimune do fígado - e a doença de Crohn. No
caso desta última, os neandertais passaram adiante diferentes marcados que
aumentam ou diminuem o risco da doença.
"Acho que o que estamos vendo, de maneira mais ampla,
são os restos mortais deste genoma extinto, enquanto ele é lentamente expurgado
da população humana."
Joshua Akey, pesquisador da Universidade de
Washington
No entanto, Sriram Sankararaman afirmou que os
cientistas ainda não conhecem o suficiente da genética neandertal para afirmar
se eles também sofreram destas doenças, ou se as mutações em questão só
afetaram o risco das doenças quando transplantadas para o contexto genético do
homem moderno.
Ele diz que mais pesquisas sobre o genoma da
espécie podem oferecer mais respostas à questão.
"Misturas aconteceram há relativamente pouco
tempo em termos evolutivos, então não esperávamos que o DNA neandertal tivesse
desaparecido completamente a esta altura", disse Joshua Akey, da
Universidade de Washington e coautor do estudo publicado na Science.
"Acho que o que estamos vendo, de maneira mais
ampla, são os restos mortais deste genoma extinto, enquanto ele é lentamente
expurgado da população humana."
Regiões
desérticas
Os cientistas também descobriram que algumas
regiões do nosso genoma são desprovidas de DNA neandertal, sugerindo que alguns
dos genes tinham um efeito tão prejudicial nos filhos dos casais de humanos
modernos e neandertais que eles foram descartados rapidamente pela seleção
natural.
"Vemos que há grandes regiões do genoma onde a
maioria dos humanos modernos têm pouca ou nenhuma linhagem neandertal",
disse Sankararaman à BBC.
"Esta redução na linhagem aconteceu
provavelmente pela seleção contra os genes que eram ruins ou deletérios para
nós."
As regiões privadas dos genes neandertais englobam
genes que se expressam em exames específicos e também o cromossomo X, ligado ao
sexo feminino.
Isso sugere que alguns híbridos de neandertais e
humanos modernos tinham fertilidade reduzida e, em alguns casos, eram estéreis.
"Isto nos diz que, quando neandertais e
humanos modernos se encontraram e se misturaram, eles estavam à beira da
compatibilidade biológica", afirmou o David Reich.
Para Joshua Akey, os resultados de sua equipe foram
compatíveis com a ideia de que houve múltiplas ondas de cruzamentos entre
humanos modernos e neandertais.
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