“Acabei de falar pela segunda vez com a presidenta Dilma”, comunica Sérgio Cabral nos primeiros segundos do vídeo divulgado nesta quarta-feira para mostrar que o governador está em ação, e combate simultaneamente em todas as frentes, cumprindo o dever de abrandar os estragos causados pelas chuvas que castigam o território fluminense. “Ela tem dado todo o apoio ao nosso governo, à nossa estrutura. Falei com o ministro Cardozo (…), falei com o ministro Teixeira, da Integração Nacional, que também tem dado todo o apoio, e o general Adriano, que é o secretário Nacional de Defesa Civil. Pedindo três coisas básicas neste momento, que são prioritárias: colchonetes, água potável e cestas básicas”.
Pelos antecedentes de Cabral, é bom que os beneficiários das promessas esperem sentados, e rezando para que os próximos temporais sejam menos severos. A discurseira deste dezembro é apenas a versão revista e atualizada do palavrório endereçado aos flagelados da Região Serrana depois dos aguaceiros que no começo de 2011, durante duas semanas, atingiram com especial intensidade os municípios de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Naquele ano, em 27 de janeiro, Cabral apareceu ao lado de Dilma Rousseff para tranquilizar a imensidão de flagelados.
Tudo seria diferente no verão seguinte, garantiu a dupla. “Posto que os empresários estão colocando duas mil casas para atender a emergência”, desandou a presidente, “nós fizemos um cálculo e estamos colocando mais seis mil casas para as famílias da Região Serrana para atender a emergência, fora, obviamente, do conjunto do Minha Casa, Minha Vida, que aqui para a região do Rio de Janeiro é bem mais do que isso”.
A conversa fiada não parou por aí: “Então, para esse momento de emergência, nós acrescentamos seis mil casas, moradias, que assuma a forma ou de casa ou de apartamento para que essa população que perdeu o seu lar, que perdeu o seu lugar de morar, tenha acesso o mais rápido possível ao seu lar”. Além das construídas pelos governos estadual e federal, outras 2.000 seriam erguidas através de parceria com empreiteiros.
Em 2013, quando as enchentes anuais voltaram, nenhuma casa aparecera por lá. Só em março a presidente e o governador deram as caras no local das promessas criminosas, agora para anunciar que as 8 mil moradias haviam sido reduzidas a 4.702. Neste 12 de dezembro, 1064 dias depois da tragédia de 2011, apenas 506 imóveis ficaram prontos. E 6.589 famílias continuam a receber o aluguel social (entre R$ 400 e R$ 500 reais). Segundo uma reportagem do site de VEJA, a Secretaria Estadual de Obras atribui o atraso a dificuldades de encontrar terrenos disponíveis para a construção dos imóveis.
O início prematuro da temporada de chuvas de 2014 encontrou milhares de brasileiros entregues às mãos do destino. Em vez de casas, o governo estadual providenciou um sistema de alerta amparado em meia dúzia de sirenes. E adicionou ao espetáculo do cinismo a distribuição de 1,7 mil kits compostos de uma cartilha explicativa, um imã de geladeira com orientações para desocupação, uma pasta impermeável para guardar documentos e uma capa de chuva.
Maria Antonieta às vésperas da Revolução Francesa disse: “Se o povo não tem pão, que coma brioches!”. Caso ressuscitasse no Rio de Janeiro do século 21, a rainha saberia o que dizer aos flagelados fluminenses: “Se o povo não puder nadar, que use o helicóptero”. Maria Antonieta acabou na guilhotina. Sérgio Cabral dificilmente escapará da degola nas urnas.
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