Pesquisa
PIB dos Municípios 2011, divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, expõe concentração da economia nos grandes centros e retrata os efeitos da alta do petróleo, que beneficiou regiões produtoras e prejudicou cidades com instalações de refino
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Avenida Paulista, São Paulo (Mario Rodrigues)
A concentração de riqueza nas seis cidades brasileiras com maior participação na economia manteve-se estável em 2011, como mostra o PIB dos Municípios, apresentado nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar disso, no período analisado foi confirmada a trajetória de decadência, retomada em 2009, da participação da capital paulista no PIB nacional – resultado também do recuo da indústria no total de riquezas produzidas no país. São Paulo mantém-se na liderança entre os municípios, com 11,5% de participação no PIB nacional – 0,3 ponto percentual a menos que em 2010. A capital paulista gerou 477.005.597.205,00 de reais em riquezas em 2011.
O retrato do desempenho dos municípios não escapa da realidade global que demarcou o potencial de crescimento brasileiro em 2011. Neste ano, o PIB nacional desacelerou, com alta de apenas 2,7%, depois de avançar 7,5% em 2010. A perda de força foi reflexo da demora do governo federal em se adaptar a um agravamento da crise europeia, que prejudicou o cenário para exportações, enquanto o BC mantinha os juros em alta - até setembro - para tentar segurar a inflação.
Com exceção de algumas regiões agrícolas e de bolsões de prosperidade impulsionados por atividades extrativistas – em especial cidades com instalações petrolíferas –, a produção de riqueza no Brasil ainda aparece concentrada nos grandes centros, apesar de ter ocorrido um processo de desconcentração nos últimos anos. Em 2007, os 10% maiores PIBs municipais geraram 120,1 vezes mais riquezas do que os 50% menores municípios em produção, mas em 2011 essa superioridade foi de 115,3 vezes. Ainda assim, os seis maiores municípios em participação no PIB nacional foram responsáveis por aproximadamente 24,5% de toda a renda produzida no país, em regiões que, somadas, abrigam 13,7% da população brasileira, enquanto essas mesmas cidades geraram 25,3% das riquezas do país em 2007.
Depois de São Paulo, estão Rio de Janeiro (5,1% de participação no PIB nacional), Brasília (4%), Curitiba (1,4%), Belo Horizonte (1,3%) e Manaus (1,2%). Como se observa, as seis maiores participações estão nas capitais. No entanto, se considerado o conjunto, o grupo de 27 capitais teve a menor responsabilidade pela geração de riqueza nacional desde 1999. Naquele ano, responderam por 39,67% do PIB nacional e essa fatia caiu para 33,69% em 2011.
A redução da participação de São Paulo no total do PIB nacional se explica por alguns fatores atrelados ao cenário econômico global e a aspectos específicos da região. De forma geral, o comércio na região expandiu-se menos que em cidades vizinhas, onde houve um incremento acentuado de atividade econômica. Ainda assim, nacionalmente foi um ano em que os serviços cresceram menos do que o setor agrícola e a indústria extrativa mineral. Coordenadora da pesquisa PIB dos Municípios 2011, a pesquisadora Sheila Zani lembra que, após a inauguração do trecho Sul do Rodoanel em 2010, aumentaram os investimentos em centros de distribuição nos municípios da Região Metropolitana de São Paulo, o que tirou espaço de crescimento da capital.
"O setor de serviços cresceu pouco no país em 2011, sendo que o comércio cresceu mais nos municípios vizinhos da capital paulista", afirmou Sheila, coordenadora do PIB dos Municípios.
Com área livre cada vez mais exígua para novos investimentos, é também esperado que a cidade de São Paulo tenha menos potencial de expansão. "São Paulo vive um processo de exaustão. É natural para uma sede de Região Metropolitana", afirma Alexandre Mattos, diretor da consultoria Macroplan.
Além das capitais, onze municípios destacaram-se por gerarem individualmente mais de 0,5% do PIB, contribuindo para 8,7% da renda do país. O IBGE destaca, nesses locais, “grande integração entre indústria e serviços”. São eles: Guarulhos (SP), com 1% de participação no PIB nacional; Campinas (SP), 1%; Osasco (SP), 0,9%, Campos dos Goytacazes (RJ), 0,9%; São Bernardo do Campo (SP), 0,9%; Barueri (SP), 0,8%; Santos (SP), 0,8%; Betim (MG), 0,7%; Duque de Caxias (RJ) e São José dos Campos (SP), que individualmente contribuíram com 0,6%; e Jundiaí (SP), 0,5%.
O IBGE também destacou as maiores variações entre os municípios que produziam pelo menos 0,5% do PIB nacional. Campos dos Goytacazes (RJ), que passou de 0,7% para 0,9% entre 2010 e 2011, foi beneficiada pelos altos preços do petróleo, que motivaram maiores lucros para a região, ainda que nem todos tenham sido convertidos em renda para a população local. A mesma cotação elevada do óleo prejudicou Betim, em Minas Gerais: com o aumento dos custos para o refino dos derivados do petróleo, a cidade desceu de 0,8% para 0,7% de participação no PIB nacional. Segundo o estudo, o baixo crescimento da indústria automotiva também afetou o desempenho do município mineiro.
As regiões Norte e Nordeste exibem um retrato especial da desigualdade entre os municípios. Em diversos estados, atividades ligadas ao setor público são a principal fonte de geração de riqueza. De acordo com o IBGE, 1.976 municípios, ou 35,5% de todas as cidades do país, tinham mais do que um terço da economia dependente do Estado, seja por transferências assistenciais, carreiras de saúde e educação ou aposentadorias.
Em Roraima, todos os quinze municípios tinham mais de 33% da riqueza gerada pelo setor público. No Amapá, 93,8% dos municípios eram dependentes do Estado, mesmo porcentual que a Paraíba. A lista de estados com mais de 80% das cidades nesse nível de dependência era seguida por Piauí (88,8% dos municípios), Rio Grande do Norte (83,8%) e Pernambuco (80%). "Essas são regiões com economia fraca, que vivem de transferências e apresentam dificuldades para atrair investimentos", explica Mattos, da Macroplan.
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