Espaço
Novas pesquisas refazem a trajetória do asteroide e mostram que a ocorrência desse tipo de impacto pode ter sido subestimada pelos cientistas
Em meados de fevereiro, um meteorito atingiu uma região próxima à cidade de Chelyabinsk, na Rússia. A maior parte de sua massa se desintegrou no ar, mas a onda de impacto foi forte o suficiente para ferir mais de 1 500 pessoas. O evento foi capturado por uma série de câmeras espalhadas pela região, o que possibilitou aos cientistas realizarem estudos detalhados de sua origem, trajetória e destruição. A conclusão das pesquisas não é tranquilizadora: esse tipo de impacto pode ser até dez vezes mais comuns do que se pensava.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: The trajectory, structure and origin of the Chelyabinsk asteroidal impactor, A 500-kiloton airburst over Chelyabinsk and an enhanced hazard from small impactors e Chelyabinsk Airburst, Damage Assessment, Meteorite Recovery, and Characterization
Onde foi divulgada: periódicos Nature e Science
Dados de amostragem: Centenas de filmagens realizadas no momento da queda de um meteorito na cidade de Chelyabinsk, na Rússia
Resultado: Os pesquisadores conseguiram traçar a rota do asteroide, suas características físicas e o impacto de sua destruição. Segundo os estudos, ele tinha cerca de 19 metros de diâmetro, e a queda desse tipo de corpo na Terra pode ser até dez vezes mais comum do que se pensava
Título original: The trajectory, structure and origin of the Chelyabinsk asteroidal impactor, A 500-kiloton airburst over Chelyabinsk and an enhanced hazard from small impactors e Chelyabinsk Airburst, Damage Assessment, Meteorite Recovery, and Characterization
Onde foi divulgada: periódicos Nature e Science
Dados de amostragem: Centenas de filmagens realizadas no momento da queda de um meteorito na cidade de Chelyabinsk, na Rússia
Resultado: Os pesquisadores conseguiram traçar a rota do asteroide, suas características físicas e o impacto de sua destruição. Segundo os estudos, ele tinha cerca de 19 metros de diâmetro, e a queda desse tipo de corpo na Terra pode ser até dez vezes mais comum do que se pensava
A queda do asteroide aconteceu sobre uma área densamente povoada da Rússia, onde pôde ser observada por uma série de equipamentos eletrônicos, desde instrumentos científicos até centenas de câmeras amadoras. A enorme disponibilidade de imagens forneceu aos pesquisadores uma oportunidade única para analisar o maior meteorito a atingir o planeta nos últimos cem anos.
O estudo dessas filmagens deu origem a três pesquisas publicadas nesta semana, duas delas na revista Nature e uma na Science. "Se a humanidade não quiser seguir o caminho dos dinossauros, precisamos estudar um evento como esse em detalhes", diz Qing-Zhu Yin, professor da Universidade da Califórnia, que participou do estudo publicado na Science.
Trajetória — Ao analisar o caminho percorrido pela bola de fogo no céu — e capturada por uma série de câmeras no solo — os cientistas conseguiram detalhes importantes de sua trajetória. Segundo os estudos, a bola de fogo teve origem em um asteroide com cerca de 19 metros de diâmetro, que entrou na atmosfera a uma velocidade de 19 quilômetros por segundo — mais de cinquenta vezes mais rápido que a velocidade do som.
Conforme penetrava na atmosfera terrestre, o meteorito foi se desgastando por causa do atrito com ao ar. A partir dos 45 quilômetros de altura, ele começou a se desintegrar em diversos pedaços, até que, a 27 quilômetros da superfície, explodiu em uma bola de fogo, poeira e gás. Nesse momento, a luz emitida pelo objeto foi até trinta vezes mais brilhante que a do sol e pôde ser vista por pessoas localizadas a até 100 quilômetros de distância — causando, inclusive, queimaduras.
Saiba mais
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ASTEROIDE, METEORITO E METEORO?
Asteroides são corpos celestes menores que planetas que vagam pelo Sistema Solar desde sua formação, há 4,6 bilhões de anos. Meteoritos são pedaços de asteroides que eventualmente atingem a superfície da Terra. Meteoros são os rastros luminosos produzidos por pedaços de asteroides em contato com a atmosfera da Terra, resultado do atrito com o ar, e são popularmente reconhecidos como estrelas cadentes.
Asteroides são corpos celestes menores que planetas que vagam pelo Sistema Solar desde sua formação, há 4,6 bilhões de anos. Meteoritos são pedaços de asteroides que eventualmente atingem a superfície da Terra. Meteoros são os rastros luminosos produzidos por pedaços de asteroides em contato com a atmosfera da Terra, resultado do atrito com o ar, e são popularmente reconhecidos como estrelas cadentes.
Os pesquisadores estimam que cerca de três quartos do asteroide evaporou nesse instante. A maior parte do material que restou virou poeira e apenas cerca de 4 000 quilos — 0,05% de sua massa total — atingiu a superfície terrestre como meteoritos. A maior peça, pesando 570 quilos, foi encontrada por mergulhadores no fundo do lago Chebarkul, em outubro.
Caminho no espaço — Ao desenhar o caminho percorrido pelo meteoro na atmosfera terrestre, os pesquisadores também conseguiram estimar a rota que percorreu antes de atingir o planeta. Descobriram, assim, que o impacto não foi previsto por nenhum astrônomo, pois, nos últimos anos, percorreu uma órbita que não podia ser vista a partir de telescópios terrestres.
Essa trajetória é muito semelhante à de outro corpo que gira em volta do Sol e passou perto da Terra recentemente: o asteroide 86039, de dois quilômetros de diâmetro. Segundo os pesquisadores a semelhança entre as duas órbitas é tanta que, muito provavelmente, ambos os corpos faziam parte de um mesmo asteroide, que se fragmentou no meio do caminho.
Destruição — As imagens também ajudaram os cientistas a estimarem o poder de destruição do meteorito. Segundo o estudo, a onda de impacto da explosão liberou uma energia equivalente a 500 quilotons de TNT, o suficiente para estraçalhar milhares de janelas pela região. O impacto foi tão forte que causou danos por uma área de até 90 quilômetros dos dois lados de sua trajetória.
A fim de estimar a probabilidade desse tipo de evento voltar a acontecer, os pesquisadores analisaram os registros de explosões detectadas na atmosfera nos últimos vinte anos. Os dados analisados foram coletados por equipamentos do governo americano originalmente desenhados para detectar a ativação de bombas nucleares, mas que conseguem perceber qualquer tipo de explosão na atmosfera.
A análise mostrou que a queda de meteoritos com mais de 10 metros de diâmetro pode ser até dez vezes mais comuns do que mostravam as observações anteriores, feitas a partir de telescópios. A maior parte desses impactos costuma passar despercebida por acontecer em regiões isoladas ou desabitadas, como o mar. Se estimativas anteriores previam que um evento como o de Chelyabinsk poderia acontecer uma vez a cada 150 anos, os pesquisadores dizem que os novos dados podem diminuir essa frequência para uma vez a cada 30 anos.
Proteção — Durante os últimos anos, os pesquisadores realizaram grandes esforços para mapear todos os asteroides grandes — com mais de 1 quilômetro de diâmetro — que possam atingir a Terra. Os corpos menores, no entanto, não são tão conhecidos e, como mostraram essas pesquisas, também podem causar grandes danos. Dos cerca de 20 milhões de asteroides que medem entre 10 e 20 metros, somente cerca de 500 foram catalogados até agora.
A própria ONU propôs um plano de coordenação internacional para detectar asteroides potencialmente perigosos e, em caso de risco para a Terra, preparar uma missão espacial com capacidade para desviar sua trajetória. O que essas pesquisas mostram, e os cientistas fazem questão de alertar, é que esse plano precisa sair logo do papel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário