terça-feira 19 2013

Discurso histórico de Lincoln ainda é preciso após 150 anos


19 de novembro de 1863
19 de novembro de 1863
Até hoje, nesta coluna, nenhum assunto mereceu com tanta precisão estar na categoria de curtas & finas como o discurso de Abraham Lincoln em Gettysburg, palco de batalha-chave na guerra civil americana, pronunciado há exatamente 150 anos (19 de novembro de 1863). Com suas 272 palavras, que podem ser pronunciadas em pouco mais de dois minutos, é uma obra de concisão e clareza sobre a origem dos EUA, a guerra civil e o futuro americano, embora não haja uma menção direta à escravidão.
O discurso do principal orador da cerimônia de inauguração do cemitério se arrastou por duas horas. Ninguém se lembra dele. Já Lincoln proferiu palavras breves sobre a tarefa inacabada, a renovação da esperança, o renascimento da liberdade e o anseio permanente da democracia. Impossível, em todos os sentidos, Fidel Castro fazer o seu discurso Gettysburg.
Li em algum lugar que não se escrevera algo com tanto concisão poética desde o primeiro capítulo de Gênesis. Portanto, não serei prolixo para não estragar a celebração do sesquicentenário. Sorry, por este último palavrão. E de pensar que 2/3 das palavras do discurso são monossilábicas. Peguei a tradução de Paulo Migliacci, da Folha de S.Paulo. Vocês podem escutar também aqui o discurso em inglês com o ator Jeff Daniels. E de pensar que Lincoln disse em Gettysburg que suas palavras seriam esquecidas.
***
“Oitenta e sete anos atrás, nossos antepassados criaram neste continente uma nova nação, concebida na liberdade e dedicada ao conceito de que todos os homens foram criados em igualdade.
Estamos agora envolvidos em uma grande guerra civil, para determinar se aquela nação, ou qualquer nação concebida daquela maneira e dedicada aos mesmos ideais, poderá perdurar.
Estamos reunidos em um dos grandes campos de batalha dessa guerra. Viemos para dedicar parte desse campo como local de derradeiro repouso para aqueles que deram suas vidas aqui a fim de garantir que a nação possa sobreviver. É justo e apropriado que assim o façamos.
Mas, em um sentido mais amplo, não podemos dedicar… não podemos consagrar… não podemos santificar este solo. Os bravos soldados, vivos e mortos, que aqui lutaram já o consagraram de maneira muito superior ao pouco que nos seria possível acrescentar ou subtrair.
O mundo pouco atentará e tampouco recordará por muito tempo aquilo que aqui dizemos, mas jamais poderá esquecer aquilo que eles fizeram.
Cabe a nós, os vivos, portanto, dedicar nossas forças à tarefa inacabada que aqueles que aqui combateram conduziram adiante com tamanha nobreza até agora… que dos mortos a quem honramos, adquiramos devoção ampliada à causa pela qual sua devoção foi expressa da maneira mais plena; que nós aqui resolvamos da forma mais altaneira que esses mortos não tenham dado suas vidas em vão; que este país, sob a tutela de Deus, veja um renascimento da liberdade; e que o governo do povo, pelo povo e para o povo não pereça neste mundo.”

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