Rio de Janeiro
Ex-presidente pede que governador não se afaste do cargo até março de 2014. Cabral, em troca, sonha com ministério no governo Dilma e até com candidatura a vice-presidente, na hipótese improvável de Lula concorrer novamente ao Planalto
Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
Sérgio Cabral é observado por aliados em entrevista no bairro de Campo Grande (Carlos Magno/Divulgação-Governo do Estado do Rio de Janeiro)
(Atualizado às 16h50)
Para conter a turbulência na base de apoio à presidente Dilma Rousseff no Rio de Janeiro, entrou em campo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma conversa no início deste mês, com representantes do PT e do PMDB, o ‘amigão de Sérgio Cabral’ fez um pedido ao governador: “Aguarde a definição de meu calendário até março de 2014”, disse Lula. O prazo é bem maior do que o previsto inicialmente para a renúncia de Cabral em favor de seu vice, Luiz Fernando Pezão, pré-candidato ao governo em 2014. E permite ao PT manter os aliados em banho-maria pelo menos até o início do ano eleitoral.
Em troca de sua paciência e lealdade, Sérgio Cabral, o governador com pior popularidade e ainda o mais atacado nas manifestações de rua, garantiria espaço ao lado do PT a partir do ano que vem e depois da eleição, seja em um ministério ou, num cenário menos provável, como vice em uma candidatura de Lula à Presidência em 2014.
Entre os peemedebistas que participaram do encontro ficou a convicção de que Cabral acatará o pedido e só deixará o governo do estado em meados de abril. A aposta anterior era a de que o governador renunciaria ao cargo no fim de 2013, para dar a Pezão a chance de comandar o estado e fortalecer sua imagem para disputar o Palácio Guanabara.
Lula não disse com todas as letras, mas deixou no ar, durante a conversa, da qual também participaram Pezão e o prefeito Eduardo Paes, a possibilidade de se candidatar a presidente caso as pesquisas eleitorais não estejam favoráveis a Dilma Rousseff. Lula pediu tranquilidade a Pezão e fez um apelo para que não houvesse brigas entre os dois partidos no Rio. A relação entre o PT e o PMDB anda estremecida desde que as duas legendas decidiram lançar candidatos próprios ao governo do estado, quebrando uma aliança de sete anos.
Em tempo: na manhã desta sexta-feira, em uma reunião no Rio, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, bateu o martelo em relação à saída do partido do governo Cabral. O desembarque deve acontecer até o fim de 2013, como mostrou reportagem do site de VEJA. O maior beneficiado com a decisão é o pré-candidato petista ao Guanabara, senador Lindbergh Farias, que passa a ter, assim, o partido finalmente empenhado em sua pré-campanha.
A oferta de um ministério ao atual governador em 2014 continua firme – e significa, por um lado, que o PMDB no Rio se mantém com Dilma; e, por outro, que Cabral não ficará na chuva. A proposta do PT é de que o governador faça um movimento articulado: renuncie e, em seguida, assuma uma pasta no governo federal. Cabral queria o de Minas e Energia, mas não há perspectiva de saída do atual ministro, Edison Lobão. O planalto também cogitou a Autoridade Pública Olímpica e o ministério do Turismo, mas ambos não apeteceram a Cabral. No momento, chegou ao PMDB nacional a proposta de acomodar Cabral no ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A pasta é comandada por Fernando Pimentel, que se afastará do cargo para poder se candidatar ao governo de Minas Gerais.
O anúncio da união entre Eduardo Campos e Marina Silva promoveu uma corrida do Palácio em busca dos aliados. Para afagar quem se mantiver fiel ao governo, o caminho será o da distribuição de cargos. O PMDB ficou insatisfeito por não ter assumido o ministério da Integração Nacional depois da saída de Fernando Bezerra (PSB), do grupo político de Campos. A possível entrada de Cabral para a linha de frente ministerial divide seu partido - nem todos enxergam a entrada do governador como uma forma de acomodar os peemedebistas. “Em se tratando de PMDB, nunca há unanimidade”, diz um correligionário. O presidente do Senado, Renan Calheiros, é um dos que não quer Cabral em Brasília.
“A entrega do ministério do Desenvolvimento a Cabral foi comentada por dirigentes do PT nos últimos dias. Mas não há uma versão oficial, nem uma conversa pragmática”, explica um peemedebista. Dilma não quer entregar um ministério com perfil político a Cabral, considerado um político inábil. O ministério do Desenvolvimento seria uma forma de deixar o atual governador a uma distância segura do trato com os congressistas. Para integrantes do PMDB do Rio, o cargo é uma maneira de reconhecer o governo de Cabral. “Apesar dos últimos tempos terem sido difíceis, há uma convicção de que Cabral faz grande governo”, disse.
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