Infectologia
Compostos que estão presentes naturalmente na pele humana podem impedir que os insetos sintam o cheiro de suas vítimas
As picadas de mosquitos não são apenas um pequeno incômodo, mas podem transmitir doenças potencialmente fatais, como malária, dengue e febre amarela (Thinkstock)
Pesquisadores americanos anunciaram a descoberta de uma série de substâncias presentes na pele humana que podem proporcionar uma espécie de capa da invisibilidade contra os mosquitos. Em vez de funcionar como os repelentes, que afastam os insetos, os compostos descobertos simplesmente impedem que eles sintam o cheiro dos seres humanos, tornando-os incapazes de localizar e atacar suas vítimas. A pesquisa foi apresentada nesta segunda-feira, durante o Encontro Nacional Sociedade de Americana de Química, realizado nos Estados Unidos.
Longe de ser apenas um incômodo, os mosquitos costumam ser mais mortais para os seres humanos do que qualquer outro animal. Suas picadas são capazes de transmitir uma série de doenças, como malária, dengue e febre amarela, que matam cerca de um milhão de pessoas por ano em todo o mundo.
São as fêmeas dos mosquitos que costumam picar os seres humanos e outros animais. Elas não se alimentam do sangue, mas buscam nele uma proteína que as ajuda a produzir ovos férteis. Por isso, essas fêmeas possuem a capacidade de sentir o cheiro dos humanos a mais de 30 metros de distância.
Desde os anos 1940, o governo americano vem realizando estudos em busca de substâncias que possam repelir esse tipo de ataque. Mas, segundo os autores da atual pesquisa, chegou a hora de tentar uma nova abordagem. "O repelente mais usado, conhecido como Deet, costuma ser bastante eficaz e já é empregado há bastante tempo. No entanto, algumas pessoas não gostam de sua sensação na pele ou de seu cheiro. Estamos explorando uma abordagem diferente, usando substâncias que prejudicam a capacidade do mosquito de sentir odores. Se ele não pode sentir que o jantar está pronto, não chegará perto, não pousará e não picará", afirma Ulrich Bernier, cientista do Centro de Pesquisas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e autor do estudo.
Invisibilidade — A partir da década de 1990, os pesquisadores passaram a acumular informações sobre substâncias secretadas pela pele humana — ou liberadas por bactérias presentes na pele — que tornam algumas pessoas mais atraentes para os mosquitos do que outras. Para identificar qual das centenas de compostos ali presentes atraíam os mosquitos, os cientistas usaram uma gaiola especial, dividida ao meio por uma tela, para prender os insetos.
Eles pulverizaram diversas substâncias da pele humana em um lado da gaiola e documentaram seus efeitos sobre os mosquitos. Alguns compostos, como o ácido lático — um componente comum de suor humano —, foram iscas perfeitas, atraindo 90% dos insetos para perto da tela.
Com a pulverização de outras substâncias, no entanto, muitos deles nem sequer levantaram voo. “Se alguém colocasse a mão em uma gaiola de mosquitos onde lançaram alguns desses inibidores, a maioria deles apenas ficaria parada próxima à parede — sem conseguir reconhecer que a mão está ali. Chamamos isso de anosmia, a incapacidade de sentir odores", afirma Bernier.
Os pesquisadores descobriram alguns compostos, como o 1-methylpiperazine, que bloqueiam o olfato de mosquitos. Isso poderia explicar por que eles costumam voar em direção a algumas pessoas, mas não atacam outras. Esse conhecimento pode ajudar a desenvolver cosméticos, loções, roupas e outros produtos que incorporem essas substâncias e deixem as pessoas “invisíveis” aos insetos.
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