sexta-feira 13 2013

ONU: relatório deve confirmar uso de armas químicas

Síria

Ban Ki-moon acusou Assad de cometer “muitos crimes contra a humanidade”

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (Brendan McDermid/Reuters)
O secretário-geral da ONUBan Ki-moon, afirmou nesta sexta-feira que o relatório dos inspetores que investigaram os ataques na periferia de Damasco, que provocaram a morte de mais de 1 400 civis em 21 de agosto, deverá apontar o uso de armas químicas. “Eu acredito que o relatório vai apresentar um registro devastador, devastador de que armas químicas foram usadas, embora eu não possa dizer agora, antes da divulgação”, declarou o secretário-geral durante uma reunião. 
Ban também acusou o ditador sírio Bashar Assad de ter cometido “diversos crimes contra a humanidade” durante a guerra civil síria, mas não indicou se as forças do regime ou rebeldes foram responsáveis pelos ataques do dia 21 - o que o relatório também não deve fazer, já que a missão dos investigadores liderada por Ake Sellstrom, da Suécia, é apenas comprovar ou não o uso de arsenal químico. O porta-voz da ONU Farhan Haq disse que o documento ainda não foi repassado por Sellstrom ao secretário-geral. Anteriormente, no entanto, Ban Ki-moon afirmou que estava em contato com o líder da equipe e que pediu celeridade nas conclusões. A expectativa é que o secretário receba o documento na próxima segunda-feira.
Se o relatório realmente comprovar o uso de armas químicas, apenas confirmará o que já vem sendo dito por países como os Estados Unidos, que declararam ter provas inclusive de que o regime de Assad foi o responsável pelas mortes. A Casa Branca chegou a minimizar a relevância dos resultados a serem apresentados pelos investigadores. “O trabalho da equipe da ONU é averiguar se armas químicas foram usadas. Mas isso já está provado. Assad bloqueou o acesso dos investigadores aos locais por cinco dias, assim poderia eliminar os indícios”, afirmou o porta-voz Jay Carney no fim de agosto. Por outro lado, a Rússia, aliada da Síria, afirma haver razões para acreditar que o atentado foi obra das forças de oposição a Assad. 
Rastro de destruição na cidade síria de Maaloula
Diplomatas ocidentais afirma que é grande a expectativa de que o relatório confirmará a afirmação feita pelos EUA de uso de gás sarin. Além disso, o documento poderia indiretamente implicar o governo sírio no massacre. Entre os detalhes que a análise deve trazer estão os tipos de armas usadas e suas trajetórias. O relatório poderá fazer a balança pesar mais para um ou outro lado nas negociações em curso entre potências ocidentais e a Rússia em relação às condições a serem estabelecidas para que a Síria coloque seu arsenal químico sob controle internacional. 

Hospitais como alvo - 
Uma investigação separada da ONU, cujo relatório foi emitido na quarta-feira por uma Comissão de Investigação de infrações aos direitos humanos atribuiu crimes de guerra e contra a humanidade ao regime de Assad. Nesta quinta-feira, novos detalhes do documento apontaram que forças de segurança leais ao ditador bombardearem hospitais como tática de guerra. A comissão, liderada pelo jurista brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, foi impedida de entrar em território sírio, mas conversou nos últimos dois anos com 2 000 refugiados, dissidentes, antigos pacientes e médicos de países vizinhos. Os inspetores também analisaram fotografias, imagens de satélite e registros médicos e forenses. De acordo com o texto, porém, os vinte peritos da ONU que assinaram o documento não puderam confirmar o uso de armas químicas no país.
O relatório indica que o Exército sírio ocupou hospitais para transformá-los em bases de atiradores, tanques e soldados. Médicos, enfermeiras e motoristas de ambulância foram atacados, presos, torturados e desapareceram em estranhas circunstâncias, configurando claras violações às leis internacionais, diz o documento. Os principais ataques tinham como objetivo impedir que pessoas recebessem tratamento em áreas dominadas por rebeldes. Segundo o texto, pacientes de um hospital militar em Mazé, na capital Damasco, também foram espancados, queimados com cigarros e torturados até a morte.
“A origem dos ataques indica que as forças governistas deliberadamente atacaram hospitais e unidades médicas para ganhar vantagem militar ao privar grupos armados da oposição e seus aliados de receber atendimento médico”, diz o relatório, acrescentando que hospitais nas cidades de Homs, Alepo, Damasco, Deraa e Latakia foram bombardeados. A unidade nacional em Deraa foi ocupada em março por atiradores, que impediam doentes de entrar no local. Em Alepo, o hospital público Tal Rifat foi destruído por ataques aéreos em abril do ano passado, enquanto hospitais de campanha vêm sendo bombardeados desde maio.
Caio Blinder: Motivos para cautela com a Síria
Rebeldes - O documento também apresenta acusações contra os rebeldes, apontando que cometeram "crimes de guerra, assassinatos, execuções sumárias, atos de tortura, sequestros e bombardeio em bairros de civis". 

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