Itália
Roberto Calderoli, vice-presidente do Senado, disse em discurso que, ao ver a ministra Cecile Kyenge, se lembrava de um orangotanto
Cecile Kyenge, cidadã italiana originária da República Democrática do Congo (RDC), foi nomeada ministra da Integração (Tony Gentile/Reuters)
O senador Roberto Calderoli, do partido Liga Norte, conhecido por se posicionar contra a imigração na Itália, comparou a primeira ministra negra do país, Cecile Kyenge, a um orangotango. Cecile, cidadã italiana nascida na República Democrática do Congo, vem sendo alvo de discursos racistas desde que foi nomeada ministra da Integração em abril.
"Amo animais, ursos e lobos, como todos sabem. Mas, quando vejo fotos de Kyenge, não consigo deixar de pensar em, e não estou dizendo que ela é, um orangotango", disse Calderoli, vice-presidente do Senado, em discurso na cidade de Treviglio no último sábado. Calderoli disse ainda que o sucesso de Kyenge encorajou "imigrantes ilegais" a rumarem para a Itália e afirmou que ela deveria ser ministra "em seu país natal", de acordo com a imprensa local.
Insultos — Nos últimos meses, a maioria dos insultos racistas, como "macaca do Congo", "Zulu" e "a negra anti-italiana", veio de membros de grupos da extrema-direita. Em junho, um integrante da Liga Norte no parlamento europeu foi expulso do grupo de coalizão Europa da Liberdade e da Democracia por comentários racistas a respeito de Kyenge.
Mario Borghezio atacou a ministra dizendo que ela queria impor "tradições tribais" na Itália como membro do governo "bonga bonga" — um trocadilho com as chamadas festas "bunga bunga" promovidas pelo ex-premiê italiano Silvio Berlusconi.
O opositor Calderoli, duas vezes ministro durante os mandatos de Berlusconi, costuma ser agressivo em suas declarações. Em 2006, ele se viu forçado a deixar o cargo de ministro depois de aparecer durante um evento do governo vestindo uma camiseta com um desenho ofensivo do profeta Maomé. No mesmo ano, depois que a Itália venceu a Copa do Mundo, ele fez comentários racistas sobre a seleção da França.
Neste domingo, vários políticos, incluindo alguns da própria Liga Norte, criticaram Calderoli duramente. Alguns pediram até mesmo a renúncia de Calderoli como vice-presidente do Senado. Em comunicado oficial e também pelo Twitter, o primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, disse que os comentários racistas são inaceitáveis. "Foi muito além do limite. Toda solidariedade e apoio a Cecile. Que ela continue com o seu e o nosso trabalho", declarou Letta.
Cidadania — Kyenge tem feito campanha para que os imigrantes tenham mais facilidade para adquirir a cidadania italiana. Ela apoia uma lei que automaticamente torna italiano qualquer cidadão nascido em solo, o que não ocorre atualmente.
A ministra não se manifestou oficialmente, mas disse à agência AGI que Calderoli deveria refletir sobre sua função como membro do Senado.
(Com agência Reuters)
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