domingo 14 2013

Senador italiano compara ministra negra a orangotango

Itália

Roberto Calderoli, vice-presidente do Senado, disse em discurso que, ao ver a ministra Cecile Kyenge, se lembrava de um orangotanto

Cecile Kyenge, cidadã italiana originária da República Democrática do Congo (RDC), foi nomeada ministra da Integração
Cecile Kyenge, cidadã italiana originária da República Democrática do Congo (RDC), foi nomeada ministra da Integração (Tony Gentile/Reuters)
O senador Roberto Calderoli, do partido Liga Norte, conhecido por se posicionar contra a imigração na Itália, comparou a primeira ministra negra do país, Cecile Kyenge, a um orangotango. Cecile, cidadã italiana nascida na República Democrática do Congo, vem sendo alvo de discursos racistas desde que foi nomeada ministra da Integração em abril.
"Amo animais, ursos e lobos, como todos sabem. Mas, quando vejo fotos de Kyenge, não consigo deixar de pensar em, e não estou dizendo que ela é, um orangotango", disse Calderoli, vice-presidente do Senado, em discurso na cidade de Treviglio no último sábado. Calderoli disse ainda que o sucesso de Kyenge encorajou "imigrantes ilegais" a rumarem para a Itália e afirmou que ela deveria ser ministra "em seu país natal", de acordo com a imprensa local.
Insultos — Nos últimos meses, a maioria dos insultos racistas, como "macaca do Congo", "Zulu" e "a negra anti-italiana", veio de membros de grupos da extrema-direita. Em junho, um integrante da Liga Norte no parlamento europeu foi expulso do grupo de coalizão Europa da Liberdade e da Democracia por comentários racistas a respeito de Kyenge.
Mario Borghezio atacou a ministra dizendo que ela queria impor "tradições tribais" na Itália como membro do governo "bonga bonga" — um trocadilho com as chamadas festas "bunga bunga" promovidas pelo ex-premiê italiano Silvio Berlusconi.
O opositor Calderoli, duas vezes ministro durante os mandatos de Berlusconi, costuma ser agressivo em suas declarações. Em 2006, ele se viu forçado a deixar o cargo de ministro depois de aparecer durante um evento do governo vestindo uma camiseta com um desenho ofensivo do profeta Maomé. No mesmo ano, depois que a Itália venceu a Copa do Mundo, ele fez comentários racistas sobre a seleção da França.
Neste domingo, vários políticos, incluindo alguns da própria Liga Norte, criticaram Calderoli duramente. Alguns pediram até mesmo a renúncia de Calderoli como vice-presidente do Senado. Em comunicado oficial e também pelo Twitter, o primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, disse que os comentários racistas são inaceitáveis. "Foi muito além do limite. Toda solidariedade e apoio a Cecile. Que ela continue com o seu e o nosso trabalho", declarou Letta.
Cidadania — Kyenge tem feito campanha para que os imigrantes tenham mais facilidade para adquirir a cidadania italiana. Ela apoia uma lei que automaticamente torna italiano qualquer cidadão nascido em solo, o que não ocorre atualmente.
A ministra não se manifestou oficialmente, mas disse à agência AGI que Calderoli deveria refletir sobre sua função como membro do Senado.
(Com agência Reuters)

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