Criação: No início dos anos de1940, o governo americano - mais especificadamente o assessor de Washington para assuntos da América Latina, Nelson Rockfeller - estava preocupado com o interesse crescente dos governos latinoamericanos sobre o nazismo e o fascismo e pediu a Walt Disney que fizesse uma viagem de “boa vizinhança” aos principais países do continente.
Disney e uma equipe de desenhistas vieram ao Brasil (visitaram Manaus, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) e desta viagem surgiu o simpático “embaixador” Joe Carioca, ou melhor, José Carioca.
O personagem, cujas características principais eram arrumar comida grátis, evitar o trabalho, fugir de cobradores e conquistar garotas, fez sua estréia em alto estilo nas páginas dominicais dos jornais americanos, em outubro de 42.
A página inicial mostrava uma panorâmica do Rio de Janeiro, fechando lentamente no barrado que era “a moradia de um jovem alegre e folgazão papagaio chamado José Carioca”.
O personagem durou dois anos nas páginas dominicais antes de ser substituído por outro latino de Disney, o galo Panchito. Os dois por sinal, contracenaram em dois desenhos animados com o Pato Donald - Saludos Amigos (1943) e The Three Cabaleros (1945) - Donald e o Papagaio também se encontraram no desenho Você já foi à Bahia, de 1944.
Com o fim da Segunda Guerra, José Carioca sumiu dos jornais americanos, mas em julho de 1950 a Editora Abril lançou no Brasil o número 1 do Pato Donald, trazendo na capa o personagem brasileiro. A Abril contratou desenhistas e roteiristas locais para criarem histórias do papagaio que até hoje tem publicação própria no Brasil, ainda na mesma editora.
Zé, Panchito e Donald no desenho de 1945: política de boa vizinhança contra o nazismo |
Quando o prazo apertado exigia mais HQs e não havia tempo para elaborar argumentos, o personagem chegava a ser desenhado sobre o Mickey ou o Pato Donald em histórias menores estreladas por eles.
Mas os quadrinhistas brasileiros também criaram outros papagaios de sucesso, primos de Zé Carioca, que representam outros Estados e constantemente entram em cena com o personagem - Zé Paulista, Zé Jandaia, Zé Queijinho, Zé dos Pampas, etc.
Também aprimoraram o núcleo do Papagaio – personagens como o simpático Afonsinho e os cobradores da Anacozeca são obra nacional.
Nos anos de 1990 os estúdios da Abril reformularam o papagaio e sua turma para os tempos atuais, trocando o tradicional terno e chapéu de palha por camisetas, tênis e boné. O novo visual foi bem aceito, mas nem sempre é usado - mesmo porque grande parte das histórias de antigamente são reeditadas entre as novas HQs nas revistas.
Com a namorada Rosinha, no visual mais moderno: sai o chapéu, entra o boné |
Em abril de 2000, Zé Carioca protagonizou uma HQ excelente sobre a descoberta do Brasil, em homenagem aos 500 anos. Na revista, a história, feita com muito bom humor, é intercalada com relatos científicos e históricos sobre a descoberta do Brasil e a navegação portuguesa.
Enredo: Zé Carioca é um típico malandro brasileiro. Odeia trabalho, vive correndo de cobradores e mora em uma vila quase que favelada, a Vila Xurupita. O papagaio também sonha em ganhar na loteria (o que já ocorreu em uma das melhores séries já criadas pelos artistas nacionais, na revista O Zé Cutivo), não perde a chance de roubar uma jaca do vizinho e de filar uma boa feijoada e, principalmente, não pode ver um rabo-de-saia (para o azar da eterna prometida Rosinha Vaz). Zé também se mete em encrencas como detetive, na sua agência Moleza (que não é exatamente um - argh - trabalho) e tem uma identidade secreta, a de Morcego Verde - inspirado pelo Morcego Vermelho, de Patópolis (por sua vez, uma alegoria bem-humorada ao herói Batman na pele do atrapalhado Peninha). Nas histórias mais novas, o politicamente correto dá as caras e Zé é mostrado de maneira menos caricata, em especial menos malandro e vagabundo.
Personagens:
Além do próprio Zé, aparecem no núcleo de Vila Xurupita, entre outros: Rosinha, a namorada, e o “sogrão” ricaço Rocha Vaz; Nestor, Pedrão e Afonsinho, os melhores amigos; os cobradores da ANACOZECA (Associação Nacional dos Cobradores do Zé Carioca); Zé Galo, o rival malandro e atrapalhado; Luís Carlos, outro rival no amor de Rosinha; Glória, rival de Rosinha no amor pelo Zé; Zico e Zeca, os sobrinhos travessos.
Curiosidade: José Carioca foi criado por um brasileiro? - O grande ilustrador brasileiro J. Carlos participou da escolha e da criação de um papagaio para o grupo de desenhistas de Walt Disney. Em um jantar com os americanos, o próprio Walt teria convidado J. Carlos para trabalhar nos EUA. O artista chegou a fazer um cartoon em cores, onde um papagaio de charuto na boca (vale lembrar, Zé Carioca aparecia fumando charuto nos primeiros números) fazia as malas observado por outros animais. Mas J. Carlos desistiu da viagem. Disney, no entanto, foi embora levando o papagaio na mala. E mandou de volta José Carioca.
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