Mensalão
Ex-presidente será investigado por denúncia de intermediar o repasse de 7 milhões de reais da Portugal Telecom ao PT no auge do mensalão
Gabriel Castro, de Brasília
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: nenhuma vergonha de sonegar explicações (Helvio Romero/Estadão Conteúdo)
A Polícia Federal recebeu na manhã desta segunda-feira pedido de abertura de inquérito para investigar a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema do mensalão. Na semana passada, o Ministério Público Federal solicitou que a PF apure as denúncias feitas pelo operador do mensalão, Marcos Valério de Souza, de que o ex-presidente intermediou um repasse de 7 milhões de reais feito ao PT por uma subsidiária da Portugal Telecom. Além de Lula, o ex-ministro Antonio Palocci Filho também é citado no caso.
As novas acusações contra Lula surgiram no ano passado, na fase final do julgamento do mensalão. Já condenado, o publicitário Marcos Valério resolveu contar ao menos parte do que sabe à Procuradoria Geral da República (PGR). Ele disse que o então presidente não só sabia da engrenagem criminosa como se envolveu diretamente na montagem do esquema.
A partir desses depoimentos, a PGR elaborou seis procedimentos de investigação. Como Lula não tem mais foro privilegiado, os casos foram encaminhados à Procuradoria da República no Distrito Federal, que ainda analisa se abrirá outros inquéritos. Uma das investigações está a cargo da Procuradoria Eleitoral do Distrito Federal, já que trata de uma acusação de caixa dois.
Portugal Telecom - O novo inquérito vai apurar a participação de Lula na intermediação de um empréstimo de 7 milhões de reais da Portugal Telecom para o PT. De acordo com depoimento prestado por Marcos Valério à Procuradoria Geral da República no ano passado, uma fornecedora da Portugal Telecom, sediada em Macau, repassou o dinheiro ao PT para quitar dívidas de campanha. Os recursos teriam entrado no país por meio das contas de publicitários que trabalharam para o partido.
Segundo a denúncia, Lula teria se reunido com Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom, para negociar o repasse. A transação estaria ligada a uma viagem feita por Valério a Portugal em 2005. O episódio foi usado, no julgamento do mensalão, como uma prova da influência do publicitário em negociações financeiras envolvendo o PT.
Segredos – Com a certeza de que iria para a cadeia, Marcos Valério começou a contar os segredos do mensalão em meados de setembro, como revelou VEJA. Em troca de seu silêncio, Valério disse que recebeu garantias do PT de que sua punição seria amena. Já sabendo que isso não se confirmaria no Supremo – que o condenou a mais de 40 anos por formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro – e, afirmando temer por sua vida, ele declarou a interlocutores que Lula "comandava tudo" e era "o chefe" do esquema.
Pouco depois, o operador financeiro do mensalão enviou, por meio de seus advogados, um fax ao STF declarando que estava disposto a contar tudo o que sabe. No início de novembro, nova reportagem de VEJA mostrou que o empresário depôs à Procuradoria Geral da República na tentativa de obter um acordo de delação premiada – um instrumento pelo qual o envolvido em um crime presta informações sobre ele, em troca de benefícios.
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