Depoimento
Segundo jornal, empresário disse ao MP que fez depósitos para empresa do ex-assessor da Presidência, Freud Godoy. Lula teria avalizado empréstimos do PT
Lula e Valério: novas revelações complicam ainda mais o ex-presidente (Juliana Knobbel/Frame/Folhapress e Cristiano Mariz)
O empresário Marcos Valério, o operador financeiro do mensalão, afirmou em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República em 24 de setembro que dinheiro do esquema foi utilizado em 2003 para pagar despesas pessoais do então presidente Lula. A revelação aparece em reportagem publicada nesta terça-feira pelo jornal O Estado de S. Paulo. O depoimento foi dado após Valério ter sido condenado a mais de 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o jornal, Valério disse que os valores foram depositados na conta da empresa do ex-assessor da Presidência, Freud Godoy, conhecido como o "faz-tudo" de Lula na época – e ligado ao escândalo dos aloprados. O empresário declarou ainda que o ex-presidente deu "ok" para o PT tomar empréstimos com os bancos BMG e Rural para pagar deputados da base aliada. O aval teria sido dado em um reunião no Palácio do Planalto, que teve a presença do ex-ministro José Dirceu e do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, ambos também condenados pelo STF.
Na ocasião, Dirceu teria dito que Delúbio negociava em seu nome e no de Lula – o ex-ministro teria autorizado inicialmente pegar um empréstimo de 10 milhões de reais e, depois, mais 12 milhões. Além disso, conforme a reportagem do jornal, Marcos Valério também afirma no depoimento que Lula e o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, negociaram com a Portugal Telecom no Palácio do Planalto o repasse de 7 milhões de reais para o PT – dinheiro que, segundo Valério, foi recebido por suas empresas de publicidade.
Ele afirma ainda no relato ao Ministério Público que Paulo Okamotto, atual diretor do Instituto Lula e amigo próximo do ex-presidente, o ameaçou de morte pouco depois do escândalo do mensalão ter sido revelado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, em 2005. Segundo Valério, Okamotto o procurou por ordem de Lula.
Segredos – Com a certeza de que iria para a cadeia, o empresário mineiro começou a revelar os segredos do mensalão em meados de setembro, como revelou VEJA. Em troca de seu silêncio, Valério disse que recebeu garantias do PT de que sua punição seria amena. Já sabendo que isso não se confirmaria no Supremo – que o condenou a mais de 40 anos por formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro – e, afirmando temer por sua vida, ele declarou a interlocutores que Lula "comandava tudo" e era "o chefe" do esquema.
Pouco depois, o operador financeiro do mensalão enviou, por meio de seus advogados, um fax ao STF declarando que estava disposto a contar tudo o que sabe. No início de novembro, nova reportagem de VEJA mostrou que o empresário depôs à Procuradoria-Geral da República na tentativa de obter um acordo de delação premiada – um instrumento pelo qual o envolvido em um crime presta informações sobre ele, em troca de benefícios. Pela primeira vez, ele informou ter detalhes sobre outro caso escabroso envolvendo o PT: o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002.
Valério disse que Lula e seu braço-direito, o atual secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, estavam sendo extorquidos por figuras ligadas ao crime de Santo André, em especial o empresário Ronan Maria Pinto, apontado pelo Ministério Público como integrante de um esquema de cobrança de propina na prefeitura. Procurado por petistas para pagar o dinheiro da chantagem, Marcos Valério contou que recusou: "Nisso aí, eu não me meto", disse. Segundo ele, quem acertou a questão foi um amigo de Lula, utilizando-se de um banco não citado no esquema do mensalão. Trata-se do pecuarista José Carlos Bumlai, que teria acertado um empréstimo com o banco Schahin.
Procurados por O Estado de S. Paulo, os advogados de José Dirceu e Antônio Palocci negaram a existência das reuniões no Planalto. Freud Godoy não se manifestou. Em viagem à França, onde acompanha a presidente Dilma Rousseff, Lula evitou falar com a imprensa e, segundo o jornal, não foi encontrado para comentar as acusações.
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