Memória
Voluntários que receberam dados falsos foram capazes de prever o resultado de disputas esportivas de modo mais acertado do que aqueles que receberam informações reais
Pesquisadores demonstraram que memória humana é limitada e, por isso, não é capaz de fazer previsões estatisticamente corretas (Thinkstock)
O cérebro humano não é muito confiável na hora de fazer previsões. Quando o homem tenta antecipar o resultado de determinado evento, seja o vencedor de um jogo ou a probabilidade de chover, ele se baseia em uma série de memórias que servem como indicadores dos resultados possíveis. O problema é que a memória humana é limitada, e os eventos relembrados costumam ser aleatórios e a amostragem baixa — levando a previsões equivocadas. Em um estudo publicado nesta segunda-feira na revista PNAS, pesquisadores descrevem um modo mais efetivo para treinar o cérebro humano a prever o resultado de eventos esportivos: com informações falsas, mas estatisticamente acertadas.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Limits in decision making arise from limits in memory retrieval
Onde foi divulgada: periódico PNAS
Quem fez: Gyslain Giguère e Bradley C. Loveb,
Instituição: University College London, Inglaterra
Dados de amostragem: 84 voluntários, que foram treinados para prever os resultados de partidas de baseball. Metade deles recebeu informações corretas sobre os jogos anteriores. A outra metade recebeu informações distorcidas, nas quais os times com maiores pontuações sempre ganhavam os jogos
Resultado: Os voluntários do segundo grupo conseguiram acertar mais previsões do que aqueles do primeiro, mostrando que a memória humana não é confiável para esse tipo de atividade
Segundo os pesquisadores, os computadores são capazes de fazer previsões mais corretas que os humanos, pois são capazes de usar todas as estatísticas disponíveis para tomar sua decisão. Ao usar todos os dados de campeonatos anteriores, por exemplo, suas previsões costumam refletir os resultados mais prováveis dos jogos. “Ao contrário das máquinas, as decisões das pessoas são confusas porque elas se baseiam em quaisquer memórias que são relembradas ao acaso”, diz Bradley Love, pesquisador do University College London, na Inglaterra, que conduziu o estudo.
Para descobrir como melhorar as previsões humanas, os cientistas selecionaram 84 voluntários, que deveriam tentar antecipar os resultados de determinados jogos de baseball disputados nos Estados Unidos. Os pesquisadores se basearam nas rodadas finais de campeonatos disputados entre 1920 e 1960, mas os nomes dos times foram trocados, para que ninguém fosse capaz de conhecer os resultados de antemão. Antes de os participantes fazerem suas previsões, os times foram organizados em um ranking, de acordo com seu número de vitórias.
Os voluntários foram separados em dois grupos. A um deles, os pesquisadores apresentaram os resultados dos jogos anteriores de forma correta. Ao outro grupo, os resultados foram alterados, de modo que os times melhor colocados na lista sempre vencessem a partida, não importando o resultado real. Assim, eles foram apresentados a resultados fictícios, no qual o melhor time sempre vencia — o que nem sempre acontece.
Segundo o estudo, o segundo grupo, mesmo recebendo informações falsas, fez previsões significantemente mais acertadas. “Fornecer às pessoas situações idealizadas, ao contrário dos resultados reais, limpou sua memória e forneceu um estoque de evidências de boa qualidade para seu cérebro usar”, diz Love. Por ser capaz de recordar apenas um número limitado de eventos, a memória humana se mostrou mais eficaz quando foi apresentada com eventos falsos, mas estatisticamente corretos.
Como conclusão, os pesquisadores sugerem que situações idealizadas sejam usadas para treinar profissionais que dependam de sua habilidade de analisar e classificar informações, como médicos que tomam decisões a partir de raios X, analistas financeiros e mesmo homens do tempo.
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