Estilo de vida
Viver em lares com alto índice de stress modifica o desenvolvimento cerebral da menina, levando a conexões mais fracas entre áreas que regulam a emoção
Exposição precoce ao stress familiar aumenta níveis de ansiedade em meninas durante a adolescência (Thinkstock)
Meninas expostas a altos níveis de stress familiar no começo da infância tendem a ter mais ansiedade na adolescência. De acordo com um estudo populacional da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, o stress no começo da infância altera o desenvolvimento cerebral, levando a conexões mais fracas entre áreas responsáveis pela regulação e processamento da emoção. O estudo foi publicado no periódico Nature Neuroscience.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Developmental pathways to amygdala-prefrontal function and internalizing symptoms in adolescence
Onde foi divulgada: revista Nature Neuroscience
Quem fez: Cory Burghy e equipe
Instituição: Universidade de Wisconsin-Madison
Dados de amostragem: 57 adolescentes, sendo 28 mulheres e 19 homens
Resultado: Meninas que viviam em lares com altos índices de stress no começo da infância tendiam a ter níveis mais elevados de ansiedade na adolescência. Essa diferença é causada por uma alteração no desenvolvimento cerebral relacionada à exposição prematura ao stress.
Segundo os pesquisadores, meninas ainda bebês que viviam em lares com mães estressadas eram mais suscetíveis a chegar ao fim do ensino infantil com níveis mais elevados de cortisol (hormônio do stress). Além disso, depois dos 14 anos, essas garotas também tinham menos comunicação entre as áreas cerebrais associadas com a regulação da emoção. No estudo, os meninos não demonstraram nenhum dos padrões relacionados ao stress na infância.
“Queríamos entender como o stress no começo da vida impacta nos padrões do desenvolvimento cerebral, o que pode levar à ansiedade e depressão”, diz Cory Burghy, coordenadora do estudo. “As jovens que, no ensino infantil, tinham níveis de cortisol intensificados, passaram a ter menos conectividade cerebral em caminhos neurais importantes para a regulação da emoção — o que prediz sintomas de ansiedade durante a adolescência.”
Pesquisa — O cérebro de 57 voluntários (28 mulheres e 19 homens) foi analisado por ressonância magnética para mapear a força das conexões entre a amígdala, uma área do cérebro conhecida por sua sensibilidade à emoção negativa e à ameaça, e o córtex pré-frontal, frequentemente associado em ajudar a processar e regular emoções negativas. Em seguida, os resultados de exames foram comparados com outros feitos durante a infância.
Descobriu-se, então, que as garotas com conexões mais fracas viveram, enquanto crianças, em lares onde suas mães haviam relatado níveis gerais altos de stress — o que pode incluir sintomas de depressão, frustração dos pais, conflitos conjugais, sensação de opressão no papel de pais e/ou problemas financeiros. Aos quatro anos de idade, essas garotas também demonstraram níveis mais altos de cortisol no fim do dia, mensurado pela saliva.
Os resultados sugerem que níveis mais altos de cortisol na infância podem ter modificado o desenvolvimento cerebral nas meninas, deixando conexões mais fracas entre o córtex pré-frontal e a amígdala — uma associação que explica 65% da variação dos níveis de stress na adolescência. “Sabemos que mulheres relatam níveis mais altos de desordens do humor e de ansiedade. Essas diferenças baseadas no sexo são muito pronunciadas, especialmente em adolescentes”, diz Davidson.
Nenhum comentário:
Postar um comentário