Eleição nos Estados Unidos
A menos que republicanos reajam, crescimento populacional de negros, latinos e asiáticos descortina 'futuro democrata' na Casa Branca, diz pesquisador
Gabriela Loureiro
Os latinos são o grupo que mais deve crescer até 2050, e eles são um eleitorado fiel de Obama (Marc Piscotty / AFP)
Os Estados Unidos vivem uma tendência demográfica que pode estabelecer uma hegemonia democrata na Casa Branca se a oposição republicana não abrir os olhos ao que indicam os censos e pesquisas de opinião: até 2050, o país dos anglo-saxões protestantes será composto majoritariamente por negros, asiáticos e hispânicos. Ou seja, as minorias serão maioria. E o voto delas, historicamente, favorece os democratas.
Esta é a tese de um dos maiores especialistas em efeitos da demografia na política dos Estados Unidos, Ruy Teixeira, pesquisador da Brookings Institution e The American Foundation. Foi lançada em 2002 no livro A Maioria Democrata Emergente. Seis anos depois, Barack Obama deu rosto ao crescente peso eleitoral das minorias, abocanhou 80% dos votos desta fatia e se tornou o primeiro presidente americano negro. De acordo com Teixeira, a tendência deve se acentuar. "Os grupos que apoiam Obama estão crescendo. Isso vai ser determinante", diz, em entrevista ao site de VEJA.
A identificação de negros, latinos e asiáticos com o Partido Democrata é antiga. "As minorias tendem a preferir governos mais ativos na vida das pessoas, então elas costumam votar nos democratas", explica Teixeira. De qualquer forma, Obama tratou de reforçar os laços. Enquanto seu rival na disputa pela Casa Branca, o republicano Mitt Romney, defendia a 'autodeportação' de imigrantes, Obama anistiou jovens sem antecedentes criminais que entraram no país ilegalmente.
Economia vs. demografia
Bolso vai pesar em 2012
Obama pode ter a demografia na palma da mão, mas a economia está fora de seu controle - quatro em cada dez americanos desses estados acham que a economia está ficando cada vez pior. Ponto para Romney. Analistas são unânimes ao afirmar que a economia americana, que se recupera aos poucos e com fragilidade, definitivamente é o que mais importa para os eleitores na hora de escolher o futuro presidente. O índice de desemprego, que não dá trégua a Obama, é alvo constante das críticas de Romney.
Obama pode ter a demografia na palma da mão, mas a economia está fora de seu controle - quatro em cada dez americanos desses estados acham que a economia está ficando cada vez pior. Ponto para Romney. Analistas são unânimes ao afirmar que a economia americana, que se recupera aos poucos e com fragilidade, definitivamente é o que mais importa para os eleitores na hora de escolher o futuro presidente. O índice de desemprego, que não dá trégua a Obama, é alvo constante das críticas de Romney.
Em campanha, Romney até tentou se aproximar dos grupos minoritários. Até agora, em vão. Discursou para a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, e foi vaiado por 25 segundos. Montou um comitê especialmente para angariar o voto dos latinos, mas continua a quilômetros de Obama nas pesquisas: 26% contra 65% das intenções de voto dos latinos.
O voto dos hispânicos é particularmente importante nos Estados Unidos, e a tendência é que ganhe ainda mais relevância. Conforme as projeções demográficas, seu peso vai dobrar até 2050, pulando de 15% para 30% da população. Os negros passarão de 14% para 15% da população, e os asiáticos, de 5 para 9%. Somados, até 2050, latinos, negros e asiáticos terão pulado de 28,4% em 2000 para 54%.
Trunfo republicano - Republicanos também têm seus trunfos (o eleitorado evangélico e a classe operária branca, por exemplo). Um deles, em particular, se impõe a todos os outros e pode ser decisivo em 2012: comparecimento eleitoral. O voto nos Estados Unidos não é obrigatório, e o engajamento político é mais forte em importantes bastiões republicanos.
"Os padrões de desistência tendem a favorecer os republicanos, porque os conservadores e os eleitores mais velhos geralmente são mais fiéis que os mais jovens e mais liberais", afirma Teixeira. Mas, adverte o pesquisador, os republicanos não devem contar apenas com a capacidade de mobilizar seus tradicionais eleitores se quiserem conter a "emergência democrata". Para tanto, Teixeira os aconselha a olhar com atenção para os interesses de negros, latinos e asiáticos. Em particular, o cientista aponta o risco político da intransigência de republicanos quando o assunto é imigração. "Os republicanos têm defendido uma postura conservadora demais", diz. "Acabam passando uma imagem retrógrada e nada moderna dos EUA, principalmente com o Tea Party."
Elas adoram Obama...
...e ele sabe retribuir
Segundo Ruy Teixeira, o voto das mulheres nunca foi tão decisivo como agora. Em 2008, Obama venceu o republicano John McCain por apenas 1% de diferença entre os homens e por 13% entre as mulheres, que são 53% do eleitorado. “Obama se beneficia da popularidade que seu partido sempre gozou no público feminino. As mulheres em geral veem o Partido Democrata como defensor dos seus direitos, tanto no ambiente de trabalho quanto no lar”, diz. A vantagem de Obama entre as solteiras é ainda maior (70% em 2008). E mais uma vez, a demografia está do lado do democrata. Em pouco mais de quarenta anos, elas saltaram de 38% para 47% da população feminina. A inclusão da cobertura de anticoncepcionais no plano de saúde apelidado de Obamacare e a defesa do direito ao aborto são duas cerejas no bolo da popularidade do presidente entre as americanas.
Segundo Ruy Teixeira, o voto das mulheres nunca foi tão decisivo como agora. Em 2008, Obama venceu o republicano John McCain por apenas 1% de diferença entre os homens e por 13% entre as mulheres, que são 53% do eleitorado. “Obama se beneficia da popularidade que seu partido sempre gozou no público feminino. As mulheres em geral veem o Partido Democrata como defensor dos seus direitos, tanto no ambiente de trabalho quanto no lar”, diz. A vantagem de Obama entre as solteiras é ainda maior (70% em 2008). E mais uma vez, a demografia está do lado do democrata. Em pouco mais de quarenta anos, elas saltaram de 38% para 47% da população feminina. A inclusão da cobertura de anticoncepcionais no plano de saúde apelidado de Obamacare e a defesa do direito ao aborto são duas cerejas no bolo da popularidade do presidente entre as americanas.
Brasil - No Brasil, renda e geografia são tradicionalmente mais relevantes que as questões de identidade na hora do voto. Em 2010, a petista Dilma Rousseff obteve ampla vantagem entre os eleitores que vivem com até dez salários mínimos, enquanto o tucano José Serra foi mais votado por quem tem renda mensal superior. "No Brasil, as questões sociais são mais determinantes. Por exemplo, os negros votaram mais em Dilma em 2010 e em Lula em 2006, mas não pela questão da cor, e sim porque são mais pobres e menos escolarizados", diz José Eustáquio Diniz Alves, professor de Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.
Além disso, mesmo por critérios de renda e geografia, o eleitorado não mostra fidelidade aos partidos que têm polarizado as eleições para presidente. Nas primeiras eleições que disputou, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve seu melhor desempenho no Sul do país, no Rio de Janeiro, em alguns bolsões metropolitanos e entre eleitores de nível superior. Ao longo dos anos 2000, o perfil do eleitorado de Lula mudou, e sua popularidade enraizou-se entre as classes mais pobres. Em 2010, apadrinhada por Lula, Dilma Rousseff venceu com larga vantagem no Norte e Nordeste, mas perdeu para José Serra no Sul e Centro-Oeste. E, curiosamente, a primeira mulher presidente do Brasil chegou ao Planalto com o voto dos homens, não das mulheres, que votaram majoritariamente em Serra.
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