Infectologia
Mal, identificado na Ásia, também enfraquece o sistema imunológico, mas não é provocada pelo vírus HIV e parece não ser contagiosa
Aids: nova doença descrita em artigo apresenta sintomas aos da doença provocada pelo vírus HIV (Hemera)
Pesquisadores americanos identificaram em asiáticos uma doença de causa desconhecida cujos sintomas são semelhantes aos da aids. Em artigo publicado nesta quinta-feira no periódico The New England Journal of Medicine, eles afirmaram que trata-se também de uma imunodeficiência adquirida, ou seja, que não é hereditária e que prejudica o sistema imunológico. A condição, no entanto, não é provocada pelo vírus HIV e parece não ser contagiosa.
Opinião do especialista
Stefan Cunha Ujvari
Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e autor de Pandemias – A Humanidade em Risco
Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e autor de Pandemias – A Humanidade em Risco
"Na verdade, essa doença é mais uma descrita entre as várias imunodeficiências que existem e já são conhecidas. A diferença é que ela interfere em um mecanismo de defesa do corpo que também é atingido, embora de outra forma, pelo vírus HIV.
Quando o corpo encontra um quadro de infecção, ele precisa das células CD4 para combatê-la. Enquanto o vírus HIV ataca diretamente essas células, essa nova doença parece interferir nas substâncias que ativam a sua ação. No fim, elas provocam os mesmos sintomas e tornam os pacientes vulneráveis a infecções parecidas.
Como ela não é contagiosa, atingiu poucas pessoas e em uma região específica do mundo, não há motivo para pânico. Além disso, não há risco de essa doença confundir o diagnóstico da aids, por exemplo."
Ainda de acordo com os pesquisadores, a doença se desenvolve em pessoas de, em média, 50 anos de idade. Como ela não é hereditária, é improvável que um único gene provoque o problema. Os autores afirmam que alguns pacientes, mas não especificaram quantos, morreram de infecções muito graves após apresentarem esse problema.
A pesquisa foi desenvolvida por especialistas do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, sigla em inglês) dos Estados Unidos, que analisaram mais de 200 pessoas de 18 a 78 anos de Taiwan e da Tailândia, países que concentraram a maior parte dos casos registrados desde 2004. Segundo o artigo, a maioria dos indivíduos que tinha a nova doença produziu substâncias chamadas auto-anticorpos, que bloqueiam uma sinalização química do organismo que ajuda o corpo a identificar infecções. Ou seja, é diferente da ação do vírus HIV, que ataca as células do nosso sistema de defesa.
No entanto, quando esses sinais são bloqueados, os sintomas da doença se parecem com os da aids — vulneráveis à invasão de vírus, fungos, parasitas e especialmente de micobactéria não-tuberculosa, um microorganismo parecido com o que causa a tuberculose. Os pesquisadores não identificaram o que leva as pessoas a produzir esses auto-anticorpos, mas eles sugerem que eles surgem ao longo da vida em decorrência de uma combinação de fatores ambientais e genéticos.
Abordagens — De acordo com os especialistas, o uso de antibióticos nesses casos nem sempre é eficaz. Por isso, os médicos vêm tentando abordagens diferentes, incluindo o uso de uma droga contra o câncer que suprime a produção de anticorpos. O medicamento atenuou os sintomas da doença em alguns pacientes, mas não a eliminou completamente, o que leva os especialistas a acreditarem no caráter crônico da condição.
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