Fernanda Montenegro em "Viver Sem Tempos Mortos": monólogo minimalista
O dicionário autoriza o uso da palavra, mas a atriz defende que não é um "espetáculo", não no sentido comumente usado. "De espetáculo não tem nada. Não tem penduricalhos, parangolés. Ele é essencial, muito dentro do que eu esperava", disse, em entrevista na capital paulista, onde se apresentou com a peça por um curto período em 2009.
A ideia surgiu numa conversa com o amigo Sérgio Britto, quando os dos ficaram interessados em adaptar "Tête-à-Tête", história da relação de Sartre e Beauvoir. A parceria não evoluiu e Montenegro decidiu levar o projeto adiante por conta própria. A partir das correspondêncidas e da autobiografia de Simone, escreveu um resumo de 200 páginas, depois diminuído para 30. "É apenas um cheiro, um nada em relação à vida dessa mulher – só de autobiografia são seis volumes."
A atriz tinha, então, um texto estritamente literário, mas não sabia se "dava samba" em cena. Depois de uma conversa com o diretor Felipe Hirsch, não só ficou tranquila como encontrou uma "simbiose maravilhosa". "Hirsch é um minimalista, um dos poucos diretores brasileiros que fogem do barroquismo. Muito criativo, mas sem ser histriônico."
Para a atriz, um monólogo é sempre um desafio do tipo "viver ou morrer", mas que, na sua opinião, acabou se tornando o retrato de um período de recursos parcos para a produção teatral, mais do que um opção meramente estética.
A atriz durante entrevista em São Paulo: inquietação, feminismo e coragem no palco
Liberdade e verdade
Fernanda Montenegro tomou contato com a obra de Simone de Beauvoir pela primeira vez aos 19 anos, ao ler "O Segundo Sexo", divisor de águas do pensamento feminista. "Mudou o mundo. Antes disso, o homem era considerado o centro, o absoluto, e a mulher, o outro. Um ser superior e outro que está ao lado para pegar o que resta da mesa."
"Sem Sartre e Simone, não haveria 68 em Paris. Eram provocadores, contribuíram para a mudança libertária que hoje vemos no mundo. Tinham dois princípios: liberdade e verdade", acrescentou.
Mais do que colocar a plateia para refletir sobre suas certezas, a ideia da atriz de mergulhar na obra de Beauvoir também estava relacionada a um desejo de refletir sobre sua própria vida. "Já estou com a idade que estou, há 65 anos vivendo publicamente. Passei por muitos textos, mudança de vida, cidade, filhos, netos, perdi pai, irmã, família. Experiências duras. Simone tem sempre algo que faz você refletir. E pessoas de idade gostam de contar sobre sua vida, para relembrá-la."
Idade que não parece pesar. Ao ser perguntada sobre a reestreia de "Viver Sem Tempos Mortos", Montenegro tem humildade para assumir e dizer: "sinto que melhorei".
Serviço – "Viver Sem Tempos Mortos" em São Paulo
De 08 de outubro a 27 de novembro de 2011
Teatro Raul Cortez, Fecomércio
Sextas, às 21h30; sábados, às 21h; domingos, às 18h
Ingressos de R$ 80 (sexta e domingo) a R$ 100 (sábado)
Informações: (11) 3254-1700
De 08 de outubro a 27 de novembro de 2011
Teatro Raul Cortez, Fecomércio
Sextas, às 21h30; sábados, às 21h; domingos, às 18h
Ingressos de R$ 80 (sexta e domingo) a R$ 100 (sábado)
Informações: (11) 3254-1700
Nenhum comentário:
Postar um comentário