Eleições 2012
Adversários históricos, os dois políticos veteranos trocam a ideologia por tempo na televisão
Thais Arbex
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o deputado federal Paulo Maluf, durante anúncio de apoio do PP à candidatura de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo (FolhaPress)
É um momento antológico da política brasileira: Luis Inácio Lula da Silva e Paulo Maluf, antagonistas históricos, e dos mais renhidos, de mãos dadas para dar à luz o "novo homem" Fernando Haddad, candidato petista à prefeitura de São Paulo. O encontro aconteceu na tarde desta segunda-feira, quando o Partido Progressista (PP) do deputado federal Paulo Maluf selou apoio à chapa encabeçada pelo PT nas eleições municipais deste ano. “Foi por amor a São Paulo”, disse o deputado sobre a aliança. Lula, incomumente, não disse nada desta vez.
O encontro, que começou por volta das 13 horas, aconteceu na ampla residência de Maluf, no Jardim Europa, bairro nobre da capital paulista. Maluf serviu uma popular feijoada aos petistas. Estiveram presentes Fernando Haddad, vereadores e deputados do PT, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, e o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho. Após ficar afastado de compromissos na semana passada por recomendação médica, Lula até tinha um salvo-conduto médico para escapar do mico, mas submeteu-se ao constrangimento de ser fotografado de mãos dadas com o inimigo histórico. Foi a primeira vez que o ex-presidente visitou casa de Maluf. Segundo um personagem central da campanha petista, Lula compareceu "porque quis" e levou, inclusive, seu fotógrafo pessoal, Ricardo Stuckert. Sua única exigência: não dar entrevistas.
Talvez pela proximidade com Lula, Maluf decidiu usar uma metáfora futebolística. “Política é como futebol: quem é palmeirense não gosta do Corinthians; quem é corintiano não gosta do Palmeiras. Alguém pode não gostar de mim, mas ninguém pode dizer que não conheço os problemas de são Paulo”. Em seguida, voltou à sua própria frequência de raciocínio politico: “Não devemos olhar pelo retrovisor, mas pelo para-brisa. Quem olha para trás não olha para frente”. Irretocável.
No passado, o fato de ser petista, por si só, já era considerado um defeito incorrigível por Maluf. Foi assim que ele tentou ofender sua então adversária, na eleição de 2000, Marta Suplicy: "A senhora é uma petista! E não perdeu o jeito da calúnia e da mentira!". A frase foi gritada diante das câmeras, durante um debate. Doze anos depois, porém, Maluf não acha mais os petistas tão ruins assim. E tem até elogios de almanaque para vários deles. Sobre Lula, afirmou: "O Brasil deve muito a Lula, foi o presidente que ajudou as empresas, ajudou a gerar empregos, ajudou os pobres. Está entre os melhores presidentes da república que o Brasil já teve". E sobre a ex-prefeita Luiza Erundina (PSB), hoje vice na chapa de Haddad e que torceu o nariz para o apoio de Maluf, contemporizou: “Tenho muito respeito pela ex-prefeita Erundina. Ela foi uma boa prefeita, uma prefeita correta e decente”.
O presidente estadual do PP afirmou que para ele não não existe mais a divisão entre esquerda e direita. “Se você vai a Paris e pergunta se é esquerda ou direita, eles vão pensar que você está falando em sinal de trânsito. O que importa é um governo eficiente”.
O pré-candidato Fernando Haddad, entretanto, discordou da tese ideológica de Maluf. “Do meu ponto de vista existe sim direita e esquerda. Estamos fazendo um pacto pela cidade, não há correspondência entre todas as ideias que eu defendo na vida e o que o PP defende”, disse o petista. “Existem muitas divergências em vários campos, mas isso não pode nos impedir de buscar convergências com os partidos da base do governo federal.” O PP detém no governo Dilma o Ministério das Cidades.
Contorcionismos verbais à parte, as razões por trás do notável encontro desta tarde: o PP, de Maluf, dará à campanha de Haddad 1min35s de tempo na propaganda eleitoral televisiva. O PT terá agora 7min39s de propaganda gratuita - um minuto a mais que o tucano José Serra, seu principal adversário. O PP, além da secretaria dada a Maluf no Ministério das Cidades, ganha a liberdade de compor sua própria chapa de candidatos a vereador - algo que o PSDB lhe negava, por causa do acordo com o PSD para formar uma chapa única também nas eleições proporcionais.
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