“Muitas pessoas sabem, há um pensamento muito extenso de um filosofo alemão, que alguns um dia talvez tenham lido, que é Immanuel Kant, foi um pensador alemão do século dezoito que tem um conjunto de reflexões sobre o tema da ética, da integridade, da paz. E esse pensamento de Kant que é mais extenso pode ser sintetizado numa ideia muito marcante, quando ele de maneira mais ampla, disse algo que se traduz numa noção central que é: ‘Tudo que não puder contar como fez, não faça‘, porque se há razões para não contar, estas são as razões para não fazer.
Evidentemente que Kant não está falando contra a privacidade, não está falando contra o sigilo, não está falando contra a intimidade, Kant está falando contra a vergonha, isto é, tudo que eu não puder contar como fiz, porque se alguém souber que fiz, ficarei com vergonha de ter feito ou de que saibam.
Mas, eu quero lembrar uma coisa a você, é dificílimo fazer isso que Kant levanta. Afinal, cada um, e cada uma, de nós é tentado ou tentada, todos os dias para arranhar a integridade na família, no casamento, na comunidade, no trabalho, na política. Nós não somos imunes ao acidente, desde que especialmente a gente esteja distraído, nós não somos imunes à intenção, desde que a gente não esteja distraído.
É só você lembrar o seguinte: Uma das coisas mais bonitas da história do ocidente é aquilo que foi relatado a alguém que foi chamado de Homero – não há clareza se ele de fato existiu – que são duas obras marcantes do pensamento ocidental, e hoje um patrimônio da humanidade, que é o livro ‘Ilíada e Odisseia’ (…) Pois bem, na Ilíada se conta sobre um semideus grego, que muita gente aqui – ou leu a obra diretamente em forma de poesia, ou tem o relato dela – chamado ‘Aquiles’, um semideus que perece com uma flechada no calcanhar. Não há o relato dessa morte no livro Ilíada, mas no relato geral se sabe que o calcanhar era o único ponto vulnerável que Aquiles tinha, e todo o resto do seu corpo era blindado.
Aquiles morre com a flechada no calcanhar porque ele achou que não tinha o ‘Calcanhar de Aquiles’, ou seja, achou que fosse invulnerável, e a melhor maneira de se tornar vulnerável é achar que é invulnerável; a melhor maneira de ficar inseguro é achar que já está seguro; a melhor maneira de ficar desprotegido, é achar que já está protegido. Por isso, em relação ao tema da ética e da integridade é necessário que a gente saiba o tempo todo que nenhum e nenhuma de nós é imune à fratura ética ao arranhar da integridade. Nós somos capazes sim de fazer o que a gente não deve, neste sentido, é preciso que numa organização, numa empresa, num grupo de homens e de mulheres (…), que nós cuidemos da ética. A integridade é uma plantinha que a gente tem que regar diariamente, do contrário ela perde a vitalidade. É uma energia renovável, precisa ser renovada”.
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