Nativo da Ilha do Marajó, o fruto amazônico é utilizado na produção de doces, sorvetes, sucos, geleias e licores
Após o avanço do consumo do açaí e do cupuaçu por todo o país, o bacuri (Platonia insignis) é considerado um dos próximos frutos a romper as fronteiras da Região Amazônica, onde é típico da vegetação local. A rota para abastecer o território nacional, no entanto, exige aumento da área manejada e de plantio, cuja produção atual ainda é insuficiente para atender à demanda interna.
Se depender do alto valor que o bacuri chega ao varejo dos Estados do Norte, em torno de R$ 42 o quilo da polpa em supermercados de Belém (PA), por exemplo, não vai faltar interesse de produtores agrícolas de outras partes do Brasil. Fora da área de ocorrência espontânea, a faixa dos litorais do Nordeste e do Sudeste é considerada preferencial para o cultivo da fruteira.
De tamanho e peso variáveis, indo de 200 gramas a 1,4 quilo, o bacuri é um fruto agridoce que serve para a produção de doces, sorvetes, sucos, geleias e licores. Rico em potássio, fósforo e cálcio, também pode ser consumido in natura. A casca do bacuri tem aproveitamento na culinária regional e o óleo, extraído das sementes, como anti-inflamatório e cicatrizante na medicina popular, além da indústria de cosméticos, graças à fartura de ácido palmítico em sua composição.
No passado, o bacurizeiro foi mais importante como fornecedor de madeira resistente para a construção de embarcações e casas. Frondosa, a árvore, ao crescer naturalmente, pode atingir até mais de 30 metros de altura, com tronco de 2 metros de diâmetro, e levar até mais de dez anos para frutificar. Contudo, a cultura tem condições de se adaptar à agricultura familiar.
Por meio da técnica de enxertia e manejo adequado, a fruteira tem o tamanho reduzido e condições de iniciar a produção com 4 a 5 anos de idade, tornando-se mais viável como opção de complemento de renda para pequenos agricultores. Vale destacar a necessidade de trabalhar com diferentes clones na área para assegurar a variabilidade genética e a conversão de flores em frutos.
Onde é nativo – a árvore é oriunda da Ilha do Marajó, na foz do Rio Amazonas, até o Piauí, seguindo a costa do Pará e do Maranhão –, o bacurizeiro é encontrado em baixa densidade na mata virgem. Porém, na vegetação secundária, existem milhares de exemplares jovens por hectare, facilitando a transformação de capoeiras em pomares da fruteira.
Também é vista como planta muito adequada para recompor Áreas de Reserva Legal ou Áreas de Preservação Permanente, como recomenda o novo Código Florestal brasileiro.
Nas áreas onde não ocorrem rebrotamentos de bacurizeiros, recomenda-se o seu plantio com mudas ou semeadura direta de sementes no campo.
Mãos à obra
>>> INÍCIO Certifique-se em contar com mais de um tipo de bacurizeiro na área onde se pretende realizar o manejo, aproveitando os rebrotamentos. Como as mudas da planta não são facilmente encontradas no mercado, devido ao longo tempo requerido para a germinação, é importante adquirir as sementes durante o curto período de safra, que vai de janeiro a abril.
>>> AMBIENTE O bacurizeiro prefere clima quente e úmido, com temperaturas médias anuais entre 24 ºC e 27 ºC, umidade relativa do ar entre 71% e 88% e quantidade de chuva na faixa de 1.300 a 3.100 milímetros. Assim, pode ser cultivado em toda zona tropical úmida, com exceção das regiões de altitude elevada, pois as baixas temperaturas podem comprometer o crescimento e o desenvolvimento da planta.
>>> PLANTIO Indicado no início da estação das chuvas, pode ser realizado com mudas produzidas em sacos de plástico de 18 centímetros de largura e 35 centímetros de altura. Se direto no campo, coloque três sementes em covas de 15 centímetros de diâmetro por 8 centímetros de profundidade, distanciadas entre si de 7 em 7 metros. Não é necessário adubar até que as plantas atinjam 30 centímetros de altura. A enxertia no campo, por meio do método de garfagem no topo para frutificação mais cedo e reprodução integral das características da planta-mãe, ocorre quando as plantas estão com 40 a 60 centímetros de altura. O bacurizeiro aceita todos os tipos de solo, desde que seja profundo e de boa drenagem.
ESPAÇAMENTO É indicado 10 por 10 metros em culturas oriundas de brotações de raízes e 7 por 7 metros de mudas enxertadas. A medida de cada cova para a planta é de 40 x 40 x 40 centímetros.
>>> ADUBAÇÃO Após dois meses do plantio, aplique 50 gramas da fórmula 18-18-18 a cada 60 dias durante o primeiro ano. Nos dois anos seguintes, use 200 gramas da mesma formulação no início, meio e fim do período de chuvas, sendo que na primeira parcela adicione de 15 a 20 litros de esterco de bovino, ou cama de aviário, e mais 100 gramas de FTE (micronutrientes). No quarto ano, repita as aplicações nas mesmas datas, utilizando a fórmula 10-28-20. Aumente o volume das três parcelas juntas para 850 gramas, com acréscimo de 350 gramas de cloreto de potássio, quando os bacurizeiros atingirem produtividade acima de 200 frutos.
>>> PRODUÇÃO Leva de quatro a cinco anos em plantios realizados com mudas enxertadas e mais de dez anos caso a propagação tenha sido feita por semente. Em uma mesma área, plante dez clones diferentes para garantir a variabilidade de grãos de pólen e a conversão de flores em frutos.
Solo: profundo e de boa drenagem
Clima: quente e úmido
Área mínima: pode ser plantado em sítios e chácaras
Colheita: quatro anos após o plantio de mudas enxertadas e mais de 10 anos em plantas oriundas de sementes
Custo: R$ 10 é o preço da muda de semente e R$ 20 o da enxertada
Onde comprar: a maioria dos viveiristas da Amazônia produz mudas em grandes quantidades e por encomenda, mas também há geralmente mudas em estoque para áreas menores; no Pará, podem ser adquiridas no Viveiro São Francisco, tels.(91) 3788-0096 e (91) 9628-3285, e na Amazonflora, amazonflora@amazonflora.com.br
Mais informações: a Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA), recebe visitas de interessados no assunto
*José Edmar Urano de Carvalho, Antônio José Elias Amorim de Menezes e Alfredo Homma são pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, Tv. Dr. Enéas Pinheiro, s/no, Belém, PA, Caixa Postal 48, CEP 66095-100, tel. (91) 3204-1000
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