Cerca de 580 empresários e consultores almoçaram hoje com o juiz Sergio Moro, encarregado da Operação Lava Jato, no hotel Grand Hyatt em São Paulo.
O público presente ao evento, promovido pelo grupo empresarial LIDE, era maior que o público do almoço que a LIDE organizou com Aécio Neves durante a campanha eleitoral do ano passado.
Aplaudido de pé, Moro foi elogiado pelos foi presentes por sua ‘postura comedida’, ‘humilde’ e sua capacidade de evitar o deslumbramento apesar de ter todos os holofotes do País sobre ele.
O relato abaixo é baseado nas notas tomadas por uma corretora de investimentos presente ao evento.
Moro abriu o evento dizendo que tem recebido muitos convites para falar, mas que achou interessante comparecer aquele evento pois queria se comunicar com o empresariado.
“Preciso que essa ação seja conjunta, e que todos apoiem,” disse ele sobre a Lava Jato. Em seguida, contou a história do Libero Grassi, um empresário italiano assassinado em 1991 depois de denunciar e tentar resistir à extorsão da Máfia siciliana. (Grassi escreveu uma carta aberta aos jornais de Palermo dizendo à Máfia que não estava mais disposto a pagar o ‘pizzo’ — ‘dinheiro de proteção’, no jargão da Sicília. No entanto, outros empresários de Palermo não lhe deram apoio, e Grassi foi morto a tiros na rua perto de sua casa oito meses depois de escrever a carta.)
Moro disse que a iniciativa privada acaba cedendo à tentação de pagar propina para obter facilidades. “A corrupção é um problema que sempre vai existir, mas a questão é o nível de corrupção,” disse ele, acrescentando que há diversos indícios de que, no caso investigado pela Lava Jato, a corrupção ‘entrou num nível sistêmico’.
Frequentemente, a celebração de um contrato público é seguida de pagamento a algum funcionário público ou político. Trata-se de um hábito já enraizado, disse Moro, citando casos investigados na Lava Jato.
“O que mais me incomoda é a percepção de naturalização da propina,” disse Moro. “Às vezes há uma certa dificuldade de se obter uma resposta sobre o motivo do pagamento.” Segundo ele, em muitos casos os investigados apenas respondiam: “Era a regra do jogo.”
“Não houve uma extorsão, e sim uma naturalização do pagamento de propina,” disse o juiz.
Moro também falou sobre a Operação Mãos Limpas, a investigação épica contra a máfia italiana na qual a Lava Jato inspira seus procedimentos, e disse que 40% dos indiciados na Itália tiveram o crime prescrito pela lentidão da Justiça.
Disse que a Lava Jato só terá um impacto se tiver continuidade na sociedade e no meio politico. “Do contrário, cairá no esquecimento,” disse. “A inciativa privada tem um papel importante de dizer não à propina.”
Durante a sessão de perguntas e respostas, Moro foi comedido.
Não respondeu a uma pergunta sobre o ‘fatiamento’ da Lava Jato, decidido ontem pelo STF, dizendo que não podia opinar sobre casos em andamento.
Sobre delação premiada: “É ruim ter um criminoso beneficiado, mas é pior ainda não ter um processo. Tudo que o criminoso fala deve ser provado.”
Alguém perguntou: “O senhor está preparado para ir até o fim?” Moro respondeu que vai “seguir em frente”.
“O senhor tem medo de ser assassinado?” Moro: “Não é uma pergunta que eu me sinto confortável em responder.”
O juiz afirmou ainda que as provas têm que ser categóricas para se prender alguém. “Mais vale ter 100 culpados soltos do que um inocente condenado pela justiça,” disse.
O organizador do evento, João Dória, perguntou se a prisão de Lula era “uma questão de tempo.”
Moro pensou muito e finalmente disse que não tinha como começar a responder.
Dória lançou a hipótese de que, se a Vale e a Telebras não tivessem sido privatizadas, Moro provavelmente estaria investigando estas estatais também. “O senhor é a favor das privatizações?” perguntou.
Moro desviou da casca de banana. Respondeu que é um juiz, e que esse é um assunto econômico.
Disse que quando uma pessoa ganha notoriedade acaba sendo indagada sobre ’n’ assuntos, mas que ele não iria opinar.
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