quarta-feira 16 2015

Acuada, Dilma ataca: 'Usar crise para chegar ao poder é versão moderna de golpe'


No momento em que ganham força os movimentos por sua saída, presidente reforça comparação esdrúxula entre eventual processo de impedimento e o golpe de 1964. Sobre rebaixamento do país, diz: 'Brasil é maior que sua nota'

A presidente Dilma Rousseff durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília
A presidente Dilma Rousseff durante coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília(Ueslei Marcelino/Reuters)
Acuada diante da grave crise política e sem conseguir traçar estratégias sólidas para tirar o Brasil da recessão, a presidente Dilma Rousseff decidiu nesta quarta-feira reforçar o discurso petista que compara, de maneira indevida, um eventual processo de impeachment ao golpe militar de 1964. Em entrevista a uma rádio do interior paulista, Dilma afirmou que oposicionistas usam a crise financeira para tentar chegar ao poder - o que classificou como uma "versão moderna de golpe". Com a afirmação, a presidente volta a reconhecer a preocupação do seu governo com as movimentações pró-impeachment, que ganharam força no Congresso nos últimos dias.
Em entrevista à rádio Comercial de Presidente Prudente, cidade em que fará entrega de unidades do programa Minha Casa, Minha Vida nesta quarta-feira, a presidente disse que há pessoas no Brasil que torcem pelo "quanto pior, melhor", à espera de "uma oportunidade para pescar em aguas turvas". E completou: "Esses método, que é querer utilizar a crise como um mecanismo para você chegar ao poder, é uma versão moderna do golpe". "Acredito que há no Brasil, infelizmente, pessoas que não se conformam que nós sejamos uma democracia sólida, cujo fundamento maior é a legitimidade dada pelo voto popular", prosseguiu.
Cinco dias depois de assistir à perda do grau de investimento do Brasil, anunciada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P), o governo apresentou na segunda-feira medidas de ajuste que somam 66,2 bilhões de reais entre cortes de gastos e previsão de elevação de receitas - ou seja, maquiagem contábil e criação de imposto. Praticamente todas as ações propostas dependem de aprovação do Congresso. E a reunião de terça-feira entre o governo e líderes na Câmara mostrou que a tarefa não será simples: parlamentares já avisaram o Planalto que a proposta de recriar a CPMF, por exemplo, dificilmente sairá do papel. Entre as medidas anunciadas para cortar gastos estão a suspensão de concursos públicos, do reajuste de servidores, corte de gastos de custeio, além de redução dos repasses ao PAC e ao Minha Casa, Minha Vida. Sobre o quadro econômico, Dilma afirmou que o governo "trabalha diuturnamente, incansavelmente, para garantir a estabilidade econômica e política do país".
Ela ainda defendeu que o país se una, "independentemente de posições e interesses pessoais e partidários", para mudar a atual situação. "Nós estamos trabalhando intensamente para que nossa macroeconomia, nossa economia, se torne cada vez mais sólida para aumentar a confiança dos agentes econômicos em relação aos investimentos, para permitir que o Brasil volte a crescer", disse a presidente.
Partidos de oposição lançaram na última semana um movimento formal pró-impeachment e deram mais um passo nesta terça-feira em favor do tema, ao apresentar uma questão de ordem ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pedindo um posicionamento sobre os diversos procedimentos relacionados ao impedimento da presidente apresentados até aqui.
Nota de crédito - Ao comentar a perda do grau de investimento do país, Dilma afirmou que o país não tem problemas de crédito internacional ou dificuldade para atrair investimentos estrangeiros. Ela citou países que também tiveram a nota de crédito rebaixada na última década, como os Estados Unidos, a Espanha, França e Itália, e disse que, assim como eles, a economia brasileira vai se recuperar. Para isso, segundo ela, o governo aposta em medidas de controle da inflação, de reequilíbrio do Orçamento e de estímulo ao investimento. "Todos os países foram muito maiores que suas notas e o Brasil é maior que sua nota também. Todos voltaram a crescer e assim vai ser com o Brasil vai também."
A presidente Dilma Rousseff reuniu nesta terça líderes e presidentes de partido da base aliada para debater o seu pacote de medidas para eliminar o déficit de 2016 e ainda fazer um superávit de 0,7% do PIB. O encontro não foi bom, e Joaquim Levy, ministro da Fazenda, acabou metendo os pés pelas mãos e dizendo uma grande inverdade no encontro. E isso, definitivamente, não o ajuda na relação com o Congresso.
(Com agência Reuters e Agência Brasil)

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