Mario Goes, que acaba de firmar acordo de colaboração, entregou informações sobre quinze movimentações financeiras até então desconhecidas
O mais novo delator da operação Lava Jato, o operador Mario Goes, deu detalhes ao Ministério Público sobre o esquema de distribuição de dinheiro sujo orquestrado pela construtora Andrade Gutierrez (AG) no exterior. Logo nos primeiros depoimentos aos procuradores do Ministério Público Federal, Goes esmiuçou pelo menos quinze operações de lavagem de dinheiro ainda desconhecidas pelos investigadores. Ele contou que, por meio da subsidiária Zagope Angola, vinculada à Andrade, a empreiteira repassou propina de 2008 a 2012 para uma conta bancária da empresa offshore Phad Corporation controlada pelo próprio na Suíça. De lá, o dinheiro foi enviado, por meio de contratos falsos, ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e ao ex-gerente da petroleira Pedro Barusco.
"[Mario Goes disse] que os serviços constantes do contrato nunca foram e não seriam prestados, que os valores indicados no contrato foram efetivamente pagos pela Andrade Gutierrez, que a integralidade do saldo da conta Phad à época adveio da Andrade Gutierrez", diz a transcriação do depoimento. De acordo com Goes, o esquema de pagamento de propina era uma "decisão empresarial" da Andrade Gutierrez.
O fluxo do propinoduto montado entre a Zagope e a Phad com a simulação de um contrato com a Andrade Gutierrez chegou a 6,42 milhões de dólares, segundo os investigadores. Com o auxílio de investigadores da Suíça e de outros depoimentos de delação premiada, o Ministério Público já havia detectado pelo menos 83 repasses de propina entre julho de 2006 e fevereiro de 2012 envolvendo contas do operador Mario Goes para contas correntes de Pedro Barusco, usadas também para o recolhimento de propina a Renato Duque. Nesse período, o esquema de propina envolvendo o trio movimentou expressivos 48,2 milhões de reais.
"Com o objetivo de ocultar e dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores que são oriundos dos diversos crimes, [os executivos da Andrade Gutierrez] Otávio Marques de Azevedo, Elton Negrão, Flávio Machado Filho e Antônio Pedro Campello valeram-se da empresa Zagope Angola, integrante do Grupo Andrade Gutierrez, para efetuar repasses ao operador Mario Goes no exterior, os quais posteriormente seriam destinados a Pedro Barusco e Renato Duque", relatou o MP ao juiz Sergio Moro.
Os procuradores afirmam que, para dar ares de veracidade à contratação de Mário Goes pela construtora Andrade Gutierrez, foram simulados contratos para a "prestação de serviços de consultoria com identificação de oportunidades de investimento nos setores de infraestrutura industrial, rodoviária, portuária, aeroportuária, imobiliária, de cimento na costa atlântica da África" e para a prospecção de oportunidades de investimento na área de óleo e gás na costa atlântica da África. Para os investigadores da Lava Jato, os contratos são "evidentemente falsos" porque a Phad Corporation era "uma empresa de fachada constituída no exterior apenas para a movimentação de recursos", e porque "Mario Goes não detinha expertise que justificasse a contratação".
Goes detalhou ainda como seria a participação de Antonio Pedro Campello, ex-diretor da Andrade, como distribuidor da propina paga pela empreiteira em negociações também no Brasil. Em um dos contratos, no valor de 5 milhões de reais, apenas 1,5 milhão de reais por serviços prestados - o restante, de acordo com o delator, era propina a ser direcionada a Pedro Barusco depois de "acertos" com a Andrade Gutierrez. Caberia a Campello, por exemplo, fazer pagamentos em espécie para Goes. A propina seria entregue pelo executivo na própria casa de Mario Goes em dinheiro vivo ou recolhida no prédio da empreiteira em São Paulo.
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