Deputados da CPI tomam depoimentos de 14 acusados de participar do assalto aos cofres da estatal para abastecer o PT e partidos aliados
Primeiro a depor na CPI da Petrobras, o doleiro Alberto Youssef voltou a afirmar nesta segunda-feira que o Palácio do Planalto sabia dos desvios para pagamento de propina na Petrobras, conforme VEJA revelou no ano passado. Os deputados foram incisivos na pergunta: o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff sabiam do esquema criminoso? "Sim. Esta é uma opinião minha", respondeu o doleiro, em Curitiba (PR), onde ocorre uma nova etapa dos depoimentos.
Um dos delatores do petrolão, Youssef disse que, "em determinado momento, houve um racha no Partido Progressista (PP) e essa situação foi parar no Palácio do Planalto".
Questionado pelos parlamentares, Youssef apontou como alguns dos contatos no governo os ministros Ideli Salvatti, à época chefe da Secretaria de Relações Institucionais, e Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência. "O Paulo Roberto Costa [um dos operadores do esquema] sempre mencionava quando havia um imprevisto e alguma discussão entre os partidos que tinha de ter o aval do Palácio."
O doleiro também citou a anuência do Planalto ao narrar um episódio no qual o ex-ministro Paulo Bernardo (Comunicações) pediu dinheiro para bancar a campanha de sua mulher, a ex-chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann, ao governo do Paraná no ano passado. "Não tenho como imaginar que o Palácio não sabia."
Também estão agendados para hoje os depoimentos do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, ligados ao PMDB. Serão ouvidos ainda Mário Góes, Guilherme Esteves e Adir Assad, outros três lobistas acusados de operarem propina na Diretoria de Serviços, então cota do PT do propinoduto.
Nesta terça, serão ouvidos os depoimentos dos ex-deputados André Vargas (ex-PT) e Pedro Corrêa (PP). Eles estão presos na carceragem do Centro Médico Prisional, na Região Metropolitana de Curitiba.
PT e PP - Youssef repetiu partes de seus depoimentos que contrariam a defesa do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Ele afirmou que encontrou pessoalmente com Vaccari em restaurantes e disse que, em 2014, o petista foi pessoalmente ao seu escritório, mas em um momento em que não estava presente para recebê-lo. O doleiro reafirmou também ter entregado pessoalmente remessa de 400.000 reais para a cunhada de Vaccari, Marice Lima, e ter feito outra entrega em dinheiro no diretório do PT.
Segundo o depoimento, PT e PP dividiram 6 milhões de propina que paga à agência Muranno Marketing Brasil, em 2010, a pedido do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.
Youssef já havia relatado essa parte do esquema de corrupção em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato. Segundo o doleiro, o valor pago para a Muranno foi uma ordem do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli a pedido do ex-presidente Lula.
Segundo ele, quem pagou a parte do PT foi o lobista Julio Camargo, representante no Brasil do Grupo Mitsui. "Em determinado momento, Julio Camargo fez os repasses da parte da conta do PT."
A Muranno apareceu no rastreamento de valores da empresa MO Consultoria, uma das usadas na lavanderia de Youssef. Os delatores explicaram que o valor era referente a uma extorsão que seria feita pelo dono da Muranno, Ricardo Villani, para que valores atrasados a receber da Petrobras fossem pagos. A Muranno prestou serviços para a Petrobras, em provas da Fórmula Indy, nos Estados Unidos sem contrato.
Cunha e Renan - O doleiro disse que não pode confirmar a remessa de dinheiro da empreiteira OAS para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Recebi da OAS para que fosse entregue o recurso nesse endereço. Não sabia quem era morador dessa residência", disse Youssef aos parlamentares. "Eu recebia o endereço, o local, a cidade e quem iria receber", disse Youssef.
Segundo ele, quem fez a entrega foi o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca. Sobre o depoimento de Careca, que implicou Cunha e o senador Antonio Anastasia (PSDB), o doleiro disse não saber se o policial disse a verdade. "Não tenho ideia. Não sei se ele inventou nomes, porque quem foi ao endereço foi ele."
Youssef disse não conhecer pessoalmente Cunha nem ter lhe repassado diretamente recursos. O doleiro disse também não conhecer ou ter dado dinheiro ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Porém, disse ter feito repasses para Fernando Baiano, operador do PMDB no esquema.
'Operação abafa' - O doleiro voltou a citar um pagamento de 10 milhões de reais para abafar as investigações de outra comissão parlamentar, que funcionou em 2010, destinada a apurar irregularidades na estatal. Segundo ele, o pagamento teria sido exigência do ex-presidente do PSDB Sergio Guerra, morto no ano passado.
"Em 2010, fui cobrar a empreiteira Queiroz Galvão para que ela pudesse pagar seus débitos na diretoria de Abastecimento da Petrobras e fui informado que eles teriam repassado 10 milhõesde reais a pedido do ex-diretor Paulo Roberto Costa", afirmou Youssef, citando um dos operadores do esquema.
(Com Estadão Conteúdo)
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