quinta-feira 26 2015

'Esquema de corrupção se formou fora da Petrobras', diz Graça Foster


Ex-presidente da estatal disse que as auditorias externas não detectaram funcionamento do esquema de corrupção até que a Justiça passou a investigar o caso

Por: Gabriel Castro, de Brasília
Graça Foster presta depoimento na CPI da Petrobras
Graça Foster presta depoimento na CPI da Petrobras(Divulgação/VEJA)
A ex-presidente da Petrobras Graça Foster afirmou nesta quarta-feira em depoimento à CPI da Petrobras que o esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato da Polícia Federal foi montado "fora" da estatal.
Em sua fala inicial e em resposta às indagações do relator da CPI, o petista Luiz Sérgio (RJ), Graça Foster disse que as auditorias externas contratadas pela estatal não detectaram o funcionamento do esquema de corrupção até que a própria Justiça passou a investigar o caso. Por isso, segundo ela, não é possível dizer que os desvios começaram dentro da companhia. "O esquema de corrupção, no meu entendimento, com os dados que tenho hoje, se formou fora da Petrobras", disse ela.
A ex-dirigente da companhia fez coro ao também ex-presidente José Sérgio Gabrielli para afirmar que a corrupção na empresa não era sistêmica: "A partir do momento em que eu não sabia, como diretora e como presidente, e passei a ter as informações depois da operação Lava Jato, eu não posso caracterizar a corrupção como sistêmica e generalizada", declarou.
Contradições - Quando depôs à CPI anterior que investigou os desvios na Petrobras, em junho do ano passado, a ex-presidente disse que a empresa não chegou a detectar o pagamento de propina pela SBM Offshore a funcionários da empresa brasileira. Em novembro, entretanto, ela admitiu que já em maio havia sido informada do caso pela própria SBM. Graça Foster negou ter mentido: "Eu li milhões de vezes e não entendi que tivesse mentido", disse ela. No entanto, desculpou-se: "Peço desculpas por não ter sido tão clara quanto eu deveria ser".
A ex-presidente afirmou ainda que, "olhando agora", a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, "não foi um bom negócio". A transação gerou perdas de mais de 792 milhões de dólares à Petrobras.
No depoimento, Graça Foster afirmou que se sente envergonhada e constrangida pelos desvios. Ao fazer suas perguntas, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) voltou ao assunto e a ex-presidente admitiu: "Eu tenho vergonha. Muita vergonha".
Graça Foster também disse não compreender a afirmação do ex-gerente Pedro Barusco, que confessou ter recebido propina "por iniciativa pessoal" desde 1997 e que até 2003 não tinha notícia da participação de outros servidores em atos de corrupção. "Eu não consigo imaginar como pode ser verdadeira a fala do Barusco, que ele sozinho recebia propina. Eu não consigo entender isso de forma alguma."
Lula - Venina também admitiu que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva dava "broncas" em reuniões com diretores e membros do conselho de administração da Petrobras. Uma delas foi para pedir que o projeto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) fosse levado adiante. O delator Alberto Yousseff afirma que a Toshiba pagou propina ao PT e ao PP para obter uma obra no empreendimento - que hoje está paralisado. "Existiu uma reunião no Palácio do Planalto (...) em que ele falou da importância de fazer as refinarias, sim, e do Comperj. Ele foi de fato enfático como costumava ser", relatou a ex-presidente da Petrobras.​
Balanço - Graça Foster foi questionada sobre o balanço de 2014, que detectou prejuízos de 88 bilhões de reais. Ela disse que o cálculo inclui não só a corrupção, mas também fatores como a ineficiência e até perdas geradas pela chuva. A ex-presidente negou que Dilma Rousseff tenha pedido que o valor fosse acobertado.
Em seu depoimento, Graça Foster ainda negou ter transferido a então gerente Venina Velosa para Singapura. Em 2009, Venina chegou a avisar Graça Foster, que era diretoria de Gás e Energia, sobre irregularidades em contratos da estatal. A ex-presidente disse à CPI que entregou as informações ao então diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa - que depois se tornaria réu confesso nas investigações da Lava Jato.
"Ela teve o cargo que pediu para ter e foi ser uma técnica bastante bem remunerada. Eu não sei como a Venina tinha informações durante tanto tempo e não as passou para o presidente da Petrobras, para mim, e só decidiu fazê-lo depois que teve a comissão interna de apuração", afirmou.

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