Troca de cadeiras
Ações da Petrobras despencam na BM&FBovespa, repercutindo decepção do mercado com a entrada do ex-presidente do BB na presidência da estatal
Marília Carrera e Naiara Infante Bertão
Aldemir Bendine renunciou nesta tarde de sexta à presidÊncia do Banco do Brasil (Luis Ushirobira/Valor /Folhapress)
A indicação de Aldemir Bendine não foi bem recebida pelos investidores nesta sexta-feira. Ex-presidente do Banco do Brasil, o executivo assume a presidência da Petrobras no lugar de Graça Foster, que renunciou na última quarta-feira. O nome de Bendine acaba de ser confirmado pela estatal, mas desde o início da manhã desta sexta o mercado já reage negativamente. As ações da Petrobras fecharam em queda de mais de 7%, depois de subirem quase 20% ao longo da semana, na expectativa de um nome alinhado com o mercado. Para analistas ouvidos pelo site de VEJA, a sensação é de frustração. "Definitivamente, não é 'super-homem' que estava nas contas do mercado", diz Roberto Altenhofen, analista da Empiricus. "Embora sob a égide de 'banqueiro', não é um nome de mercado. O Banco do Brasil é uma estatal, recente alvo de ingerência política sob sua gestão."
A ligação de Bendine com o governo – ele é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – é um dos pontos que mais pesam contra o executivo na opinião de analistas. "Para o mercado, trocou-se seis por meia dúzia. Ficou mais do mesmo", diz Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos. "Não estou discutindo a pessoa em si, mas o perfil de proximidade com o governo. Ele não é isento; a influência do governo permanece", completou. A avaliação dos especialistas é de que os outros nomes que estavam na mesa eram muito mais fortes em termos de governança corporativa, blindagem de ingerência política e orientação pró-mercado, no sentido de recuperar a credibilidade da empresa. Até a tarde de quinta-feira, circulavam os nomes de Murilo Ferreira (atual presidente da Vale), Roger Agnelli (ex-Vale), Henrique Meirelles (ex-BC) e Paulo Leme (Goldman Sachs).
Os analistas admitem, porém, que seria muito difícil um executivo com as características esperadas pelo mercado aceitar prontamente assumir a direção de uma empresa cuja presidente renunciou há apenas dois dias, e que ainda não se tem claro qual o tamanho do rombo contábil resultado das denúncias de corrupção da Operação Lava Jato.
Na avaliação de Flávio Conde, consultor da Gradual Investimentos, uma opção mais equilibrada seria designar Bendine apenas como presidente interino até que a empresa divulgue seu balanço financeiro do quarto trimestre, já com ajustes contábeis decorrentes das perdas com corrupção. A empresa é obrigada a publicar o resultado de outubro a dezembro até o fim de março, pelas regras brasileiras do mercado de capitais. "Os ajustes vão ter de ocorrer no balanço do quatro trimestre e quem assiná-lo vai ter uma responsabilidade civil, ou seja, pode ser processado em função dos ajustes", explica. Ele acredita que governo possa estar negociando um nome de mais peso nos bastidores, que substituiria Bendine daqui um tempo.
Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, alerta que as ações da Petrobras podem cair ainda mais se o novo presidente não transmitir confiança às agências de classificação de risco, que colocaram a estatal a um passo de perder o grau de investimento. Além dos problemas de confiança, a Petrobras precisa publicar um balanço financeiro do ano de 2014 já auditado para garantir aos investidores transparência. Caso isso não ocorra, os investidores podem contestar a dívida da empresa, obrigando-a a pagar antecipadamente mais de 100 bilhões de reais em títulos. Se isso acontecer, a Petrobras enfrentará dificuldades sérias para captar dinheiro para seus projetos e até para manter a saúde de seu caixa operacional. "A atenção agora se volta para as agências de classificação de risco. Este será o grande ponto de atenção na semana que vem", acredita Pereira.
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