Investigação
Ministro da Justiça faz discurso em defesa da presidente da petrolífera e das apurações internas da estatal após procurador-geral prometer punição 'firme'
Laryssa Borges, de Brasília
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esfrega o rosto ao lado do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante Seminário Internacional de Combate à Corrupção (Sérgio Lima/Folhapress)
Depois de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ter feito um pedido público de demissão da cúpula da Petrobras, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, saiu nesta terça-feira em defesa da atual diretoria da estatal e disse que nem a presidente da companhia, Graça Foster, nem os atuais diretores da empresa deixarão seus cargos. De acordo com Cardozo, não há suspeitas nem indícios de qualquer envolvimento de Foster com o escândalo do petrolão. A mesma blindagem, porém, não será dada a integrantes de subsidiárias da estatal, como o presidente licenciado da Transpetro, Sergio Machado, suspeito de ter recebido propina em troca de favores empresariais.
Ao sair em defesa da companhia, Cardozo ainda prometeu para dentro de “poucos dias” a regulamentação de trechos da Lei Anticorrupção que tratam de acordos de leniência e da aplicação de multas a empresas.
“Afirmamos e reafirmamos que não existem quaisquer indícios ou suspeitas que recaem sobre a pessoa da atual presidente Graça Foster ou sobre os atuais diretores. Não existe nenhum indicador de irregularidade eventual que tenha sido praticada pelos atuais dirigentes. Não há razões objetivas para que sejam substituídos”, afirmou o ministro. Após o duro discurso do procurador-geral na Conferência Internacional de Combate à Corrupção, o ministro se encontrou com a presidente Dilma Rousseff, recebeu da Petrobras documentos para embasar a defesa da companhia e perguntou a Janot se havia suspeitas diretas contra a cúpula da petroleira.
“O próprio procurador-geral diz que não está imputando qualquer culpa prévia a essas pessoas. A própria procuradoria-geral tem nos dito que não existe nenhuma suspeita em relação tanto à presidente Graça quanto aos senhores diretores”, completou. “Tanto a presidente Graça como os atuais diretores têm colaborado intensamente com as investigações. Tudo aquilo que pode ser feito por parte dessa diretora tem sido feito para que as investigações cheguem a bom termo”, disse o ministro.
A despeito de ter dado uma espécie de atestado de idoneidade à cúpula da petroleira, o chefe da pasta da Justiça informou que novas avaliações serão feitas se aparecem indícios de envolvimento de qualquer atual diretor da Petrobras em irregularidades. “Em relação ao futuro, pode haver [suspeita] contra qualquer pessoa do planeta, se os fatos aparecerem”, declarou.
Em defesa da presidente Graça Foster e dos demais diretores da estatal, Cardozo discursou sobre a importância de se preservar a honra de pessoas que não são suspeitas de ilícitos. “Não há nenhum suspeito. É injusto que se fale que exista algum fato imputado a eles. Não existe. E a honra das pessoas é algo sobre a qual jamais devemos tergiversar. Posso afirmar, por tudo aquilo que está em apuração, que não há suspeição sobre a presidente ou sobre os diretores da Petrobras que hoje conduzem a empresa”, disse.
Cardozo também listou medidas adotadas pela estatal para conter focos de corrupção e descartou a possibilidade de Graça Foster poder ser responsabilizada por uma suposta ausência de vigilância. “Não podemos aplicar a culpa in vigilando. Imaginar que seria possível a uma presidente ter conhecimento de tudo é ignorar o mundo empresarial. Em uma empresa com a dimensão da Petrobras imaginar que devesse a presidente Graça [saber de todas as irregularidades] é injustiça cabal. Não se pode ser injusto com pessoa, especialmente com pessoas sérias que combatem a corrupção”, afirmou.
Entre as medidas em andamento na Petrobras, além de uma auditoria contínua feita pela consultoria PricewaterhouseCoopers, estão a criação da diretoria de compliance e de uma gerência de gestão corporativa de riscos empresariais e a contratação de dois escritórios, um brasileiro e um americano, especializados em investigação para analisar negócios decisórios da empresa. Uma empresa internacional de head hunter deverá fechar até sexta-feira o nome do primeiro diretor de compliance da companhia. Ele está sendo escolhido por seleção no mercado privado e terá mandato definido.
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