Congresso
Antiga pedra no sapato da presidente, deputado segue firme na briga pela presidência da Câmara. Ao revelar irritação com petistas, prenuncia 'tensão'
Marcela Mattos, de Brasília
Eduardo Cunha: se o PT não quer, não há diálogo (Lúcio Bernardo Jr/Agência Senado/VEJA)
"Não há um espaço aberto que não haja um petista reivindicando” Eduardo Cunha
Passadas as eleições presidenciais, uma nova disputa já domina os corredores da Câmara dos Deputados: a que definirá o novo presidente da Casa. E a briga aqui não se dá entre governo e oposição, mas entre os maiores partidos da base – PT e PMDB. Pivô da disputa, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é uma antiga pedra no sapato da presidente Dilma Rousseff. A ideia de vê-lo no comando da Câmara provoca arrepios nos petistas, que já lançaram um contra-ataque a sua campanha. E afirmam: “jamais” concordarão com a candidatura de um membro da base que “age como oposição”. Diante da postura do PT, Cunha afirma: “Quando um não quer, dois não conversam. Se eles têm uma postura radical, tudo bem. A democracia inventou uma maneira fácil de resolver isso, que é o voto”. Ao que parece, o propalado “diálogo” da presidente Dilma passará longe da disputa na Câmara – o que deve significar mais dores de cabeça para a petista.
Pouco depois de Cunha anunciar que procuraria o PT para conversar, o líder da sigla na Câmara, deputado Vicentinho (SP) afirmou nesta semana que não há espaço para conversas. E continuou: “Nós jamais vamos concordar com qualquer candidatura que signifique uma postura de oposição. Se é de um partido da base, como age sendo oposição?”, afirmou, pouco depois do PT definir que lançará uma candidatura adversária à do líder do PMDB. A decisão irritou Cunha.
Em conversa com o site de VEJA, Cunha indicou também certa irritação ao ser tratado como “oposição” pelos petistas. “Essa rotulação é equivocada ou, no mínimo, não é de boa fé. Eu não estou postulando uma candidatura como oposição, mas não sou um candidato submisso ao governo. O PT, nas vezes em que ocupou a presidência da Câmara, teve uma atitude muito mais receptiva ao Planalto do que, por exemplo, o Henrique Alves (PMDB-RN), atual presidente. Não quero levar a disputa da presidência da Câmara à continuidade da disputa eleitoral. Mas quero defender a autonomia do Parlamento”, continuou.
Nos bastidores, a campanha petista tenta propagar a tese de que a quebra do acordo firmado com o PMDB em 2007, pelo qual os partidos se revezariam no comando da Câmara, pode levar ao rompimento de outros pactos, como a distribuição das comissões que compõem a Casa, que também se dá em relação ao tamanho das bancadas. E desafia Cunha: “Os açodados comem frio. Com o PT unificado em época de composição ministerial, seria muita incompetência perder a presidência da Câmara”, disse um dos postulantes ao cargo. O PT ainda não definiu quem será o candidato do partido.
Já Cunha carrega a bandeira de que os deputados não querem apoiar uma dobradinha petista no Palácio do Planalto e na Câmara, que representa a segunda linha sucessória do presidente da República, atrás somente do vice-presidente. “A Casa não quer nenhum processo hegemônico. Não há um espaço aberto que não haja um petista reivindicando”, afirmou. E diz não temer ataques nos moldes feitos durante a corrida para a Presidência da República: “Qualquer maneira que não seja correta na disputa certamente vai acabar produzindo algum tipo de dificuldade de convivência posterior. Então, cada um escolhe um caminho”.
Nesta semana, PT e PMDB lançaram estratégias similares para intensificar a campanha: vão conversar com representantes dos partidos da Câmara em busca de votos. O peemedebista já tem praticamente definido o apoio do chamado “blocão”, composto por PR, PSC, PTB e Solidariedade, além do PMDB, e vai negociar individualmente com as bancadas. No mesmo molde, os petistas criaram uma comissão composta por ex-presidentes e lideranças influentes para dialogar com todos os partidos.
Turbulência – Cunha começou a pavimentar a candidatura já em fevereiro, quando passou a se reunir semanalmente com lideranças partidárias, consolidando o “blocão”. À época, teve nas mãos quase metade dos deputados da Casa, que agiam em sintonia às suas demandas, como as mudanças em torno do Marco Civil da Internet – aprovado somente depois que o governo concordou em acatá-las. Estudioso das matérias de seu interesse e profundo conhecedor da legislação da Câmara dos Deputados, o parlamentar fluminense consegue brincar com o andamento das sessões recorrendo a estratégias regimentais. Graças a ele, por exemplo, a votação da regulação portuária se arrastou por mais de 30 horas em dois dias e foi alterada às pressas pelo governo para viabilizar a aprovação, antes que perdesse a validade.
Também é de praxe Cunha causar dificuldades ao governo para impor suas vontades. Caso emblemático se deu em 2007: relator da emenda na Comissão de Constituição e Justiça, o deputado somente apresentou parecer pela prorrogação da CPMF – um apelo do então presidente Lula – após ter a presidência de Furnas em suas mãos. Ele indicou o ex-prefeito do Rio Luiz Fernando Conde para o cargo.
Agora, o deputado já antecipa o posicionamento contrário a matérias caras ao governo petista, como a regulação econômica dos meios de comunicação e o plebiscito para a reforma política. Os dois temas compõem resolução divulgada nesta semana pela cúpula do partido. “O PMDB é absolutamente contrário à regulação da mídia e ao plebiscito, como foi contrário aos conselhos populares. Então nós temos pelo menos três divergências claras, três contrastes fortes com o PT, o que talvez provoque tensão no debate”, diz.
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