Congresso
Base teme alcance político das informações de Paulo Roberto Costa, delator do megaesquema de corrupção na Petrobras. Ele foi convocado a depor na quarta
Sessão da CPI Petrobras (Reprodução/Twitter PSDB/VEJA)
A amplitude e ramificações políticas contidas nos depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto Costa, delator do megaescândalo de corrupção na Petrobras, desencadearam no governo e entre integrantes da base aliada na CPI mista da Petrobras uma operação de "contenção de danos". Como revelou VEJA nesta semana, Costa entregou à Polícia Federal nomes de uma verdadeira constelação de políticos: três dezenas de parlamentares - entre deputados e senadores -, além de governadores, ex-governadores e um ministro de Estado.
Parte da base aliada ao governo tentou dissuadir nesta quarta-feira o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), de pedir ao Supremo Tribunal Federal cópia das declarações de Costa - que cumpre prisão preventiva no Paraná - no acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal em troca de uma eventual redução de pena ou até mesmo do perdão judicial.
A lista de Costa inclui os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), além do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). Do Senado, citou Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP, e Romero Jucá (PMDB-RR). Já no grupo de deputados figuram o petista Cândido Vaccarezza (SP) e João Pizzolatti (PP-SC). O ex-ministro das Cidades e ex-deputado Mario Negromonte, também do PP, é outro citado por ele como destinatário da propina. Da lista de três “governadores” citados pelo ex-diretor, todos os políticos são de estados onde a Petrobras tem grandes projetos em curso: Sérgio Cabral (PMDB), ex-governador do Rio, Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República morto no mês passado em um acidente aéreo.
Em reunião da comissão a portas fechadas, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), argumentou que a lei do crime organizado impede a divulgação dos depoimentos de delação. O líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), também reforçou essa posição contrária, segundo relatos de presentes, acompanhado do relator da CPI, Marco Maia (PT-RS). Esse grupo também tentou adiar o novo depoimento do ex-diretor, que foi agendado ontem para a próxima quarta-feira. O argumento é que Costa poderia se recusar a responder às perguntas por causa da delação premiada. A oposição não aceitou acordo e o senador Vital do Rêgo manteve o depoimento marcado e seu pedido ao Supremo. Sem o apoio do PT para sua campanha ao governo da Paraíba, Vital tem sido um braço da oposição quando o assunto é incômodo ao Planalto.
Na reunião, fechada à imprensa, o senador Gim Argello (PTB-DF) teria afirmado que o ex-diretor delatou aos policiais corrupção em contratos da Petrobras na África. O senador, contudo, não deu mais detalhes. No seu mandato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou a empresa a investir em países africanos. Lula tinha canal direto com Costa quando era presidente. Ele se referia ao executivo como "Paulinho" e, segundo ex-dirigentes da Petrobras, tratava diretamente com o ex-diretor sobre investimentos da estatal. Segundo fontes, na Costa Global, empresa do ex-diretor, há um macacão emoldurado na parede com uma dedicatória de Lula no lado esquerdo do uniforme dos funcionários da empresa. Na delação premiada, Costa citou o ex-presidente Lula, mas não se sabe em que contexto.
Na reunião reservada, o presidente da CPI afirmou que será necessário "refundar a República" ao se referir à delação de Costa. Humberto Costa, em seguida, sugeriu o clima de apreensão entre empresas citadas por envolvimento com o esquema ao dizer que vários diretores estariam a caminho do aeroporto. Sobre sua posição em relação ao novo depoimento do ex-diretor, disse: "Eu não fui contra. Só ponderei que acho que não vai acontecer é nada".
Acesso - Na linha de frente do governo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que pediria pessoalmente ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acesso à delação premiada feita por Costa. Cardozo disse que ainda não sabe quando poderá ter acesso às informações prestadas pelo ex-diretor da Petrobras. "Não posso pressionar o procurador da República. Ele tem todo o tempo que achar necessário, mas ele disse que responderá de forma célere", ressaltou, ao deixar a posse de Ricardo Lewandowski como presidente do Supremo.
Segundo ele, os documentos poderão possibilitar que sejam tomadas "medidas corretivas" pelo Executivo. "É tudo muito novo. É a primeira vez que nós temos uma delação premiada nessas características de foro privilegiado, que sai para vir para o Supremo", afirmou.
(Com Estadão Conteúdo)
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