Lava Jato
Meire Bonfim Poza presta testemunho sobre o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) nesta quarta, mas a expectativa é que ela faça revelações sobre outros políticos
Marcela Mattos, de Brasília
Meire Poza – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo." (Jefferson Coppola/VEJA)
O Conselho de Ética da Câmara reúne-se nesta quarta-feira para ouvir o mais importante depoimento desde que surgiram as denúncias de envolvimento de parlamentares com o doleiro Alberto Youssef, pivô de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro. Contadora do doleiro, Meire Bonfim Poza é considerada testemunha-chave da Operação Lava Jato da Polícia Federal. Ela foi convidada pelo colegiado para ser ouvida como testemunha do processo de cassação do mandato do deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), o mais próximo dos parlamentares que mantinham relação com Youssef.
O convite para ouvir a contadora ocorreu depois da entrevista dela a VEJA, na qual contou um pouco do que presenciou durante os três anos em que atuou no escritório do doleiro – preso desde março. Meire Poza era responsável por manusear notas fiscais frias, assinar contratos de serviços que jamais foram feitos e montar empresas de fachada destinadas à lavagem de dinheiro. Nesse período, ela viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras e chegando às mãos de notórios políticos. Ela cita cinco deles: além de Argôlo, o ex-petista André Vargas (PR), que também responde a processo disciplinar, o senador Fernando Collor (PTB-AL), o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o ex-ministro e atual conselheiro do Tribunal de Contas da Bahia Mário Negromonte, filiado ao PP.
Segundo Meire Poza, o deputado Argôlo era sócio de Youssef. O parlamentar baiano é alvo de dois processos disciplinares na Câmara depois de a Polícia Federal ter encontrado registros de repasses de recursos de Youssef a ele. Um dos depósitos, no valor de 120.000 reais, teria sido depositado na conta de Vanilton Bezerra, chefe do gabinete do deputado. Em depoimento ao colegiado na semana passada, Bezerra negou ter recebido qualquer valor do doleiro. Mas o comprovante de depósito no valor de 8.000 reais, ao qual o site de VEJA obteve cópia, desmente sua versão. Ainda recaem sobre Argôlo as suspeitas de que ele tenha recebido de Youssef dois caminhões de bezerros.
"Com a reportagem nós já temos informações contundentes sobre o caso. O que falta, agora, é a contadora dar clareza a essas informações", afirma o relator do processo de cassação, Marcos Rogério (PDT-RO).
O relator considera crucial para as investigações entender a suposta sociedade entre Argôlo e Youssef. "O Ministério Público dá a entender que ainda fazia parte da sociedade o empresário Leonardo Meirelles, também sócio da Labogen. A Meire trará um depoimento de quem cuidava da organização dessa rede criminosa e pode esclarecer os principais pontos", disse Marcos Rogério.
O relator considera crucial para as investigações entender a suposta sociedade entre Argôlo e Youssef. "O Ministério Público dá a entender que ainda fazia parte da sociedade o empresário Leonardo Meirelles, também sócio da Labogen. A Meire trará um depoimento de quem cuidava da organização dessa rede criminosa e pode esclarecer os principais pontos", disse Marcos Rogério.
Expectativa – Nos corredores do Congresso, a expectativa na terça era que a contadora possa fazer novas revelações. "Meire será testemunha do Argôlo, mas ela pode ampliar o depoimento e trazer informações sobre novos parlamentares. Outros nomes foram citados e eles têm de ser investigados. O Conselho de Ética não tem o poder de abrir um processo, então eu espero que algum partido faça uma representação para que esses nomes sejam investigados”, disse o deputado Ricardo Izar (PSD-SP), presidente do colegiado.
Na opinião do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que na semana passada pediu a cassação de André Vargas, o depoimento da funcionária de Youssef deve respaldar seu relatório. "A ida dela só potencializa o meu voto pela perda de mandato", avalia. O conselho marcou para o próximo dia 20 reunião para votar o parecer, mas depende de um quórum mínimo de onze parlamentares em meio à campanha eleitoral.
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