Rio de Janeiro
Eloisa Samy, 45 anos, pretendia passar a noite no Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro acompanhada de black bloc, mas fugiu do prédio após a negativa
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Manifestantes protestam na entrada do Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro (Daniel Haidar/Veja.com)
(Atualizado às 23h10)
O pedido de asilo político feito ao Uruguai pela advogada Eloisa Samy, acusada de ter ligação com black blocs, foi negado na noite desta segunda-feira, segundo a assessoria da deputada estadual Janira Rocha (Psol), que acompanhou a advogada e outros dois foragidos no Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro.
Os advogados Rodrigo Mondego e Rogério Borba, que auxiliavam Eloisa Samy no pedido, já haviam admitido que a solicitação dificilmente serria atendida. Nesta segunda-feira, eles visitaram Eloisa, de 45 anos, no prédio do consulado uruguaio no Rio. "É difícil sair o asilo porque o Uruguai teria de reconhecer que foi quebrada a ordem democrática no Brasil. Entendo a dificuldade. Mas o Rio de Janeiro está sofrendo uma crise institucional no que tange às liberdades democráticas", afirmou Mondego.
Mondego e Borba levaram alimentos e bebidas para que Eloisa passasse a noite no interior do consulado. Após a negativa, no entanto, a advogada deixou o prédio em um carro da deputada Janira Rocha. Ela estava acompanhada do black bloc David Paixão, de 18 anos, e da namorada do rapaz, menor de idade. Paixão e a adolescente, que também buscavam asilo no Uruguai, também foram detidos durante a Operação Firewall da Polícia Civil, que efetuou a prisão de quadrilhas acusadas de planejar depredações. Eloisa é apontada pela polícia como responsável por incentivar e oferecer apoio a black blocs. A advogada teve a prisão preventiva decretada junto com outras 22 pessoas pela 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, mas apenas cinco deles estão presos até o momento.
Além de ter feito o pedido de asilo ao Uruguai, Eloisa também tenta na Justiça o direito de responder ao processo em liberdade. "Eloisa nega todas as acusações. Diz que nenhuma reunião política ocorreu na casa dela", afirmou Mondego.
A Polícia Militar e a Polícia Civil chegaram a procurar por ela no local, mas foram orientados a deixar o consulado. Com prisão preventiva decretada, a advogada é considerada foragida.
Eloisa costuma defender manifestantes presos em protestos no Rio. Na denúncia encaminhada à Justiça, o promotor Luís Otávio Lopes diz que ela se aproximou dos outros ativistas como advogada, mas que depois teria participado dos atos violentos, "inclusive passando instruções aos ocasionais participantes, tendo sido vista ordenando o início de atos de violência". Ela também é acusada de prestar "apoio logístico" ao grupo, "inclusive cedendo sua residência para reuniões".
Segundo Mondego, o Uruguai foi escolhido pelo "histórico de ser um país libertário e pelo presidente (José Mujica) ter sido preso político por mais de uma década".
Em vídeo de pouco mais de dois minutos divulgado na internet, Eloisa afirma que é "perseguida" e criminalizada por sua "atuação na defesa por direito de manifestação". "Jamais cometi qualquer ato que infringisse a lei, mas estou sendo vítima das forças coercivas do Estado exatamente por defender pessoas que se ergueram e foram às ruas para protestar contra as ilegalidades cometidas por ele próprio. Quem atua na ilegalidade é o Estado. A democracia é regra e nos pertence".
Bombas - Relatório final do inquérito da Polícia Civil do Rio de Janeiro que baseou denúncia aponta que os baderneiros planejavam ações com bombas para o dia 13 de julho, data da final da Copa do Mundo no Maracanã. Trechos do documento foram divulgados na edição desta segunda-feira do jornal O Globo.
O inquérito se baseia em informações obtidas a partir do monitoramento de e-mails e telefonemas trocados pelos integrantes do grupo – e revela como os black blocs se organizavam e distribuíam bombas e outros artefatos com o objetivo de ferir policiais. De acordo com o documento publicado pelo jornal O Globo, baderneiros escondiam bombas nos locais onde protestos estavam agendados.
A investigação serviu de base para a denúncia apresentada ao juiz Flávio Itabaiana e resultou na determinação da prisão preventiva dos 23 investigados. O promotor Luís Otávio Figueira Lopes escreveu que Sininho incitou manifestantes a incendiar o prédio da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, durante a ocupação do local por baderneiros no ano passado – o ato foi impedido por outros participantes do protesto.
Do grupo formalmente acusado, apenas cinco estão presos: três desde o último sábado (Elisa Quadros, Camila Jourdan e Igor D'Icarahy) e dois desde fevereiro (Fábio Raposo e Caio Silva). Outros dezoito são considerados foragidos.
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