sábado 14 2014

Jornalistas da empresa americana ESPN incentivam o ódio racial, agridem a Constituição e transgridem a Lei 7.716, contra o racismo; lei prevê cassação da licença. Com a palavra, o Ministério Público Federal! Ou: A direção da ESPN também acha que a elite branca de SP não presta?

Ai, ai… Vamos lá. Fiquei sabendo que um certo José Trajano, um esquerdista que presta seus serviços para a norte-americana ESPN, me atacou em seu programa. Escrevi um post a respeito e não pretendia voltar ao assunto. Mas os leitores me convenceram do contrário. Insistiram para que eu assistisse a dois vídeos do que andaram dizendo por lá, inclusive a babada hidrófoba do tal Trajano. Vi. A coisa é bem mais séria do que eu supunha.
De saída, deixem que lhes diga uma coisa. Quando afirmei que nunca tinha ouvido falar do bruto, não estava posando de esnobe. Sei quem é Gay Talese, mas não sabia quem era Trajano. Sei quem é Bob Woodward, mas não Trajano. Sei quem é H. L. Mencken, mas não Trajano. Sei quem é Karl Kraus, mas não Trajano. Sei quem é o guarda da minha rua, mas não Trajano. É bem possível que eu conheça gente ainda mais mixuruca do que Trajano, mas não Trajano. Não creio que ele tenha feito falta à minha formação. Considerando as ideias toscas que, descobri, habitam aquele cérebro, acho que não perdi nada. Sigamos.
Mais: até esta sexta-feira, eu nunca havia assistido a um miserável programa ou vídeo dessa emissora. O único esporte que me interessa é futebol, mas não o bastante para sintonizar num canal especializado no assunto. Por isto, por nem saber da sua existência, fui surpreendido pelo ataque bucéfalo que ele dirigiu a mim — e não só a mim: aproveitou para atingir Demétrio Magnoli, Augusto Nunes e Diogo Mainardi.
Já haviam me falado mais de uma vez que a ESPN era uma espécie de Gaiola das Loucas do lulo-esquerdismo, com sotaque até de PSOL; que a crônica esportiva ali se misturava com o proselitismo arreganhado e meio burro. E eu disse: “Então tá!”. Os EUA financiam coisa até pior mundo afora. Eles lá, eu cá. Não tenho nada com isso. À diferença dos que me odeiam com fanatismo, eu não dou bola para as coisas que detesto. Os meus dias se tornaram bem mais suaves depois que passei a ignorar absolutamente o JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista). Sem contar que tenho três empregos, né? Não me sobra tempo para as ignorâncias alheias. Prefiro me livrar das minhas.
Esclarecimento para quem não leu o post anterior a respeito e chegou até aqui sem entender direito. Os “companheiros” da ESPN não gostaram nada, nada dos xingamentos dirigidos por parte da torcida à presidente Dilma Rousseff no Itaquerão. Criticaram duramente os torcedores por isso (e já direi em que termos), Trajano inclusive. Houve uma reação indignada dos próprios espectadores da emissora, que passaram a criticar a equipe. Muito bem!
O que fez, então, Trajano? Ele, que já estava furioso com os que haviam xingado e vaiado Dilma, resolveu ficar bravo também como os que se manifestaram nas redes sociais contra a sua opinião. E reagiu assim:


Viram só?
Eu, Demétrio, Augusto e Diogo semeamos o “ódio” e a “inveja”!!!
Inveja de quê, babaca?
Não deve ser da cara. 
Não deve ser da dicção.
Não deve ser do salário.
Não deve ser da inteligência.
Não deve ser da independência.
Não deve ser da sabedoria.
Jornalista que chama Dilma de “presidenta” se define de saída e de joelhos. Como disse o jovem Antero de Quental sobre o decrépito Castilho (e não estou comparando para não ser injusto com Castilho…), esse Trajano precisaria ter 50 anos a menos de idade, hipótese em que sua tolice seria passável, ou 50 anos a mais de reflexão, hipótese em que talvez fosse menos tolo.
Meus leitores — e certamente os dos demais — são donos do seu nariz. Eu até os convido a nunca mais sintonizar a ESPN, a deixar de lado esse lixo chapa-branca, mas isso é com eles. O que sabe esse cretino sobre o meu trabalho? Escrevi, sim, sobre a vaia a Dilma aqui — e volto ao assunto na edição da Folha deste sábado, em caráter excepcional — como todos sabem, minha coluna é publicada às sextas-feiras, mas o jornal me convidou a comentar o caso. Quem me leu ficou sabendo que não aprovo esse tipo de manifestação em si, mas que, obviamente, não acho que se tenha cometido um crime de lesa-pátria no Itaquerão.
Trajano e a sua patota estão obedecendo a uma palavra de ordem do PT, já vocalizada por Lula, diga-se: responsabilizar a imprensa — da qual eles fazem parte — pela manifestação de desagrado dos torcedores. Não toda ela, claro! Só aquela que os petistas sabem ser aquilo que esses caras nunca serão: independente!
Eu dissemino o ódio? É sinal de que Trajano tem, então, uma leitura crítica do trabalho que faço. Topo um debate público — sem claque, com transmissão ao vivo. Se quiser, a gente grava e torno disponível no blog, sem cortes. Sem palavrões nem ofensas. Vamos ver o que Trajano julga saber sobre o meu pensamento. Vamos ver quais são as suas referências e as minhas. Qual é a sua bibliografia e qual é a minha. Mas ele não topa! Alguém me disse que é dado a faniquitos até com parceiros de programa.
Esse sujeito resolve puxar o saco do Palácio do Planalto — e deve saber por que o faz —, os espectadores do seu programa reagem, e ele decide culpar, por isso, quatro jornalistas? Como vocês sabem, há muito tempo não dou a menor pelota para o que diz a meu respeito certa canalha financiada por estatais e por anúncios do governo federal. Não respondo a trabalhadores a soldo disfarçados de jornalistas. Meu compromisso é com os leitores deste blog e da Folha e com os ouvintes da Jovem Pan. Esses paus-mandados que vão se criar em outro lugar.
Mas a idade de Trajano me moveu. Deve ser triste chegar a esse ponto da trajetória secretando, ele sim, tanto rancor, tanto ódio, tanto ressentimento. E me volta Antero de Quental: “A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança”. Ou, então, me vem o grande Ulysses Guimarães numa resposta memorável a Fernando Collor, quando este o chamou de velho: “Velho, sim; velhaco, não!”. Então ficamos assim. Eu me inspiro em Antero de Quental e sugiro que Trajano se inspire em Ulysses.
E antes que alguém fique com peninha: eu estava quieto, no meu canto, sem nunca ter visto a cara desagradável desse sujeito. Foi ele que atravessou a rua para me ofender.
Agora a Constituição e a Lei
Mas isso tudo ainda é bobagem perto das enormidades que se disseram na ESPN, que é uma concessão pública e está sujeita às leis brasileiras.
Comentaristas da emissora disseram com todas as letras que o mau comportamento dos torcedores se devia ao fato de que eram todos… brancos! Falaram explicitamente na “elite branca de São Paulo”. Segundo eles, aquilo só aconteceu porque não havia negros no estádio.
A Constituição Federal, no Inciso VIII do Artigo 4º, repudia o racismo. No Inciso XLII do Artigo 5º, estabelece que “a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”. E esses “termos” estão dados pela Lei 7.716, que, no Artigo 20 (Redação dada pela Lei 9.459), define:
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
Não é só isso, não! Cumpre ficar atento ao que estabelecem os Parágrafos 2º e 3º desse Artigo 20. Prestem atenção:
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 3º No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
I – o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo;(Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
II – a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio
Retomo
Se alguém tivesse atribuído um ato considerado inadequado de milhares de pessoas à pele negra, alguma dúvida de que a fala seria caracterizada como indução ou incitamento ao preconceito de raça? Preconceito contra branco pode, ainda que exercitado por… brancos? O Ministério Público vai deixar por isso mesmo? Qualquer branco que se sinta ofendido pelas declarações desses senhores pode recorrer ao Estado para pedir a devida reparação. Até porque essas considerações foram feitas numa emissora de televisão, que é uma concessão pública e sujeita à cassação.
Sobre a elite branca
De resto, a Gaiola das Loucas do Esporte de Esquerda deveria, então, estar brava com o PT, não é? Quer dizer que alguns bilhões de dinheiro público foram torrados pelos “companheiros” para fazer um evento que só privilegia a “elite branca”?
Por que esses corajosos da ESPN, então, não desistem da cobertura e vão lá fazer a transmissão do torneio da invasão “Copa do Povo”, que realiza uma competição com militantes do MTST, ongueiros e outros deslumbrados? Na hora de ganhar o rico dinheirinho, Trajano e seus vermelhos amestrados não se importam com a “elite branca de São Paulo”, né?, que deve garantir boa parte da audiência da ESPN.
E os outros é que incentivam o ódio?
Agora eu sei quem é Trajano. Não adianta botar a cachorrada de segundo time pra latir pra cima de mim, não. O meu negócio é com o pit bull. De rottweiller para pit bull.
Convite para entrevista
Na segunda, vou procurar a direção da ESPN para uma entrevista. Quem estará no comando no Brasil? Quero saber se a emissora concorda com a afirmação de que as vaias e os xingamentos a Dilma são coisas próprias da elite branca de São Paulo. E vou perguntar se a ESPN abre mão dos assinantes brancos de São Paulo. E também indagarei se a emissora se envergonha dos seus espectadores brancos de São Paulo. Aliás, as perguntas estão aí. Não desistirei delas com facilidade. Se a direção local endossar esses pontos de vista, aí procurarei saber se a orientação para hostilizar os brancos de São Paulo parte do coração do sistema, nos EUA.

Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

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