Lava-Jato
Investigações da Polícia Federal apontam que o deputado baiano emitia bilhetes com dinheiro público para fazer negociatas com o doleiro Youssef
Laryssa Borges, de Brasília
'BEBÊ JOHNSON' – O deputado Luiz Argôlo (SDD-BA): situação se complica a cada dia (Divulgação/Câmara dos Deputados)
A Operação Lava-Jato da Polícia Federal apontou que o deputado Luiz Argôlo (SDD-BA) mantinha uma estreita relação com o doleiro Alberto Youssef, pivô de um megaesquema de lavagem de dinheiro. Agora, os desdobramentos das investigações indicam que o deputado não só participou da trama criminosa do doleiro, como o fez com dinheiro público. Segundo a PF, Argôlo usou passagens aéreas pagas pela Câmara para se reunir com Youssef. O político baiano responde a processo de cassação no Conselho de Ética da Casa.
Apelidado pelo doleiro de "bebê Johnson", Argôlo utilizou 18.188,85 reais de sua cota parlamentar da Câmara para emitir bilhetes aéreos em novembro do ano passado. A emissão de passagens é permitida em lei, mas os altos valores declarados em apenas um mês levantaram suspeitas da Polícia Federal, que há tempos monitorava as atividades de uma rede de doleiros no país. As investigações apontam que Alberto Youssef tinha um telefone exclusivo para falar com Argôlo.
No dia 26 de novembro do ano passado, o deputado comprou com dinheiro público um bilhete de Brasília para o Aeroporto de Congonhas (SP), no valor de 1.624,55 reais, para conversar pessoalmente com Youssef na capital paulista. O bilhete número 9572480.419740, da TAM, foi utilizado dias após Argôlo reclamar, em uma conversa no dia 19 de novembro, das dificuldades na entrega de dinheiro movimentado pelo esquema. Um interlocutor registrado como “LA”, que a Polícia Federal diz ser Argôlo, se queixa da quantidade de dinheiro: “Impossível eu ter errado. É aquele [sic] 'num' mesmo que te falei”. Na sequência, Youssef avisa que tentará resolver a situação: “Nao vou ficar doido agora, tranquilo, amanhã falo com ele e vemos entre nós. Não tem erro. Confere direito para não dar mais para alguém, só isso. E olhe lá de novo”.
Em março deste ano, Argôlo utilizou novamente os recursos da Câmara para comprar passagens e se encontrar com o doleiro. No dia 10 de março, um bilhete no valor de 826,57 reais foi emitido pela Avianca para o trecho entre Salvador e Brasília. Nos dias que antecedem a emissão do bilhete, o deputado cobra de Youssef o pagamento de 200.000 reais. Nas mensagens trocadas entre Argôlo e Youssef, monitoradas pela Polícia Federal, o parlamentar exige o pagamento: “200 hoje resolve”. Depois de novas cobranças, o doleiro diz que vai resolver: “Calma que eu estou resolvendo. Sei o que você está passando”.
No dia seguinte, 7 de março, nova pressão do parlamentar: “Me dá notícia, o que você tem para depositar hoje. Tenho vários compromissos”, diz em mensagem enviada a Youssef. No mesmo dia, o deputado volta a reclamar que o doleiro não enviou o dinheiro prometido e afirma que os recursos ainda não estão na conta bancária indicada por ele. “Não entrou ainda. Zero”, reclama. Na sequência, manda uma foto que a Polícia Federal acredita ser de um extrato bancário da conta que deveria ter recebido o depósito. A baixa qualidade da imagem não permitiu que os policiais identificassem os dados inseridos.
Argôlo continua com as cobranças até que, em 10 de março deste ano, parece perder a paciência. Nas mensagens, reclama que viajou exclusivamente para se encontrar com Youssef e que o doleiro, chamado de última hora para uma reunião com o presidente da UTC/Constran, Ricardo Pessôa, não pode recebê-lo. Argôlo também tinha um encontro agendado com Pessôa, cujo nome já aparecia nas anotações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, também preso na Operação Lava-Jato. A passagem, paga pela Câmara, foi emitida pela Avianca. De acordo com a PF, as cobranças de Argôlo poderiam ocorrer porque "frequentemente Youssef mentia para seus clientes sobre as datas de entrega, de depósitos e de remessas de dinheiro.
Além das passagens aéreas, Argôlo também utilizou um telefone celular da Câmara para o envio das mensagens ao doleiro. Entre 14 de setembro de 2013 e 17 de Março de 2014, foram 1.411 mensagens trocadas entre os dois. A operadora Vivo confirmou à PF que o aparelho Black Berry utilizado por “LA” está registrado em nome da Câmara dos Deputados.
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