terça-feira 29 2014

Petrobras buscou sócio para 'camuflar' gasto bilionário no exterior com refinaria de Pasadena

Política

Negociação com a japonesa Mitsui & Co. não vingou, mas foi arquitetada com propósitos políticos, já que, na campanha presidencial de 2002, Lula criticou a internacionalização da estatal brasileira

Refinaria Pasadena comprada pela Petrobrás no Texas (EUA)

Petrobras pretendia incluir um sócio, a empresa japonesa Mitsui & Co., na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), para camuflar a extensão da transação em solo estrangeiro e evitar uma contradição com o discurso nacionalista do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação aos negócios da estatal. A informação consta em documentos confidenciais da estatal obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo
O texto de 11 páginas foi assinado por Luis Carlos Moreira da Silva, gerente executivo internacional de Desenvolvimento de Negócios da Petrobras. O documento data de 2005, um ano antes da efetivação da compra da primeira metade de Pasadena pela estatal brasileira. Procurada, a Petrobras disse que não comentará o assunto.
"A participação da Mitsui nesta aquisição, ou outro sócio financeiro, visa reduzir a exposição política da Petrobras com a aquisição de ativos de refino no exterior, enquanto existe um apelo interno para a construção de novas refinarias do Brasil", diz o documento.
De acordo com a exposição realizada pela Diretoria Internacional da estatal, independentemente de ser ou não mais vantajoso para a Petrobras dividir a compra da refinaria com um sócio, essa condição era vista como fundamental sob o ponto de vista político.
Em 2002, o então candidato do PT começou sua campanha à Presidência criticando a gestão da Petrobras, na época sob comando do PSDB, por fazer encomendas de petroleiros e plataformas a estaleiros estrangeiros. Lula citou uma concorrência para construção de um navio em Cingapura e prometeu que, em seu governo, daria preferência a investimentos e encomendas da Petrobras em solo brasileiro.
Na campanha seguinte, quando a Petrobras comprou a participação em Pasadena com base em um plano de investimentos elaborado desde a gestão tucana, o então presidente candidato à reeleição atacou a oposição dizendo que o PSDB privatizaria a Petrobras.
Oferta - Os executivos da Petrobras ofereceram a parceria à Mitsui em julho de 2005, quando a ideia era adquirir 70% das ações de Pasadena. Os japoneses enviaram uma carta demonstrando interesse em participar do negócio. No documento, a Mitsui disse que já haviam "firmado parcerias anteriores com a Petrobras envolvendo valores que passaram dos 5 bilhões de dólares".
A parceria não avançou porque a Astra Oil, dona de 100% da refinaria texana, concordou em vender apenas 50% de sua participação. Foi essa a cota comprada pela Petrobras em 2006, operação que, seis anos depois, se completou com a compra da metade restante, ao custo total de 1,18 bilhão de dólares. No último dia 15, em audiência no Senado, a atual presidente da estatal, Graça Foster, reconheceu que a compra "não foi um bom negócio".
A própria presidente Dilma Rousseff, afirmou que só aprovou a compra de 50% de Pasadena em 2006, quando era ministra da Casa Civil e comandava o Conselho de Administração da Petrobras, por ter recebido um resumo técnico "falho" e "incompleto".
Investigação - A aquisição da refinaria é investigada por Polícia Federal, Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério Público e Congresso por suspeita de superfaturamento e evasão de divisas. O conselho da Petrobras autorizou, com apoio de Dilma, a compra de 50% da refinaria e de estoques de petróleo por 360 milhões de dólares. Posteriormente, por causa de cláusulas do contrato, ela foi obrigada a ficar com 100% da unidade, após longa disputa judicial.
Apesar de não ter vingado a sociedade com a Petrobras em Pasadena, a Mitsui mantém outros negócios com estatais brasileiras no país. Os japoneses atuam nas obras da Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, cujo custo passou de 9 bilhões para 17,4 bilhões de reais. Nesse consórcio, a Mitsui é sócia da GDF Suez e das estatais Chesf e Eletrosul, do Grupo Eletrobras.
(Com Estadão Conteúdo)

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