Pistas não faltam: seja pelo jeito peculiar com que as famílias vão se transformando, seja pela rotina das cidades, a evolução dos gostos e preferências das sociedades, as apostas da ciência ou os caminhos abertos pela tecnologia, já é possível vislumbrar como será a vida de um cidadão daqui para a frente. Os sinais estão por aí, como mostram os especialistas em tendências. E é bom ir se acostumando com as novidades. Grande parcela da população mundial vai preferir morar sozinha, sem o apoio de empregados domésticos e sem sofrer com a solidão. A vida social online será intensa e a vida real, adequada a um mundo de diversidades. O novo cidadão nem saberá o que é dinheiro de papel e estará livre das preocupações de armazenar coisas – sejam livros, sejam discos, documentos pessoais ou até mesmo comida. Ele só tomará remédios personalizados, mudará costumes e hábitos financeiros para cuidar da velhice – sua e de seus familiares. Nas páginas seguintes, ISTOÉ detalha dez das principais tendências que definirão seu novo cotidiano.
1 - Morar Sozinho
Sozinho em um apartamento. Assim viverá grande parcela da população mundial nas próximas décadas, de acordo com os analistas de tendências. A largada foi dada pelos países mais ricos, em especial os localizados na península escandinava. Ali estão os três com mais moradores avulsos do mundo: Noruega, Finlândia e Dinamarca – em todos, mais de um terço das casas tem um só habitante. No Brasil, o fenômeno ainda desponta, mas com bastante vigor. Entre o censo de 2000 e o de 2010, o número total de moradias com um só habitante subiu 41%. Hoje são cerca de sete milhões de casas de sozinhos. A equação que explica o fenômeno, seja aqui, seja na Noruega, tem em sua base três fatores comuns. “São eles a estabilidade econômica, a independência feminina e a revolução da comunicação”, disse à ISTOÉ Eric Klinenberg, pesquisador da Universidade de Nova York e autor do livro “Vivendo Sozinho” (tradução livre, Editora Penguin, 2012). Nesse somatório, explica Klinenberg, cada elemento influencia a seu modo. O dinheiro é fundamental para pagar os custos, que são maiores. A independência feminina permitiu às mulheres bancar um estilo de vida independente, tornando-as parcela significativa dessa população. E os meios de comunicação facilitam a convivência, evitando que os sozinhos se tornem solitários.
Solidão, inclusive, não é boa palavra para definir essa nova geração de quem mora só. O que se vê nesses lares nem de longe lembra a imagem estigmatizada da excêntrica tia solteirona sem amigos e cheia de gatos. “Moro só por opção e nem bicho de estimação tenho, pois passo quase o dia todo fora”, diz o engenheiro Frederico Lainer, 30 anos, que vive em um espaçoso quarto e sala na Cidade Baixa, bairro tradicional de Porto Alegre. Lainer resolveu assumir a casa por sua conta e risco após um período de vida em comum com uma namorada. Hoje engrossa a lista dos sozinhos de Porto Alegre, capital brasileira líder no ranking de gente que vive só. Por lá, 21,4% das residências abriga um único morador, índice bem acima da média do País, que é de 12,2%. Mas quem imagina que morar só é coisa de jovem, se engana. Os maiores de 60 anos representam 42% das casas de um único habitante no Brasil. “O fenômeno ocorre atrelado ao envelhecimento da população”, afirma a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Ana Lúcia Sabóia. Mais velhos, com boa saúde e estabilidade financeira, os idosos têm optado por seguir a vida em suas próprias casas, bancando as despesas.
Enquanto cada vez mais gente opta por um estilo de vida sozinho (apenas nos Estados Unidos, 36% de sua população estará morando só até 2020), teóricos começam a discutir outra faceta desse fenômeno: sua sustentabilidade. “A quantidade de alimento que se compra é grande, então se perde muito, sem contar os gastos fixos, como eletricidade, que não são divididos”, afirma o professor Samy Dana, da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Todo esse consumo concentrado em uma só pessoa tem feito vários pesquisadores rotularem esse estilo de vida como insustentável em larga escala. O próprio Dana, porém, faz a defesa de quem mora só e diz que há necessidade de se estudar melhor o tema. “Se por um lado se gasta mais eletricidade, de outro se economiza combustível, porque a maior parte das residências dos sozinhos está nas regiões centrais, então se gasta menos com deslocamento.” .
2- O fim do dinheiro
Pouco seguro, o dinheiro de papel vislumbra uma derrota cada vez mais próxima para as novas tecnologias. Com um mercado de pagamentos móveis com potencial para movimentar US$ 600 bilhões por ano até 2016, nos cálculos da consultoria Gartner, o celular é a próxima fronteira a ser explorada pelos bancos (leia reportagem à página 64). Lançado recentemente pelo governo brasileiro, o Sistema de Pagamento Móvel promete ser uma alternativa para quem ainda não está incluído no sistema financeiro, além de reduzir os custos das transações eletrônicas e aumentar a concorrência, reinventando assim a forma como se utiliza a moeda no País. As regras do novo marco regulatório serão definidas pelo Congresso em 2013. O alcance da medida é amplo. Afinal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 70% dos brasileiros acima de 10 anos de idade têm celular. A perspectiva da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é que, até 2018, os aparelhos móveis tenham o mesmo peso que a internet nas transações bancárias.
Com o avanço da classe média e o aumento da renda da população, a substituição do papel é resultado direto da expansão dos meios digitais. Nos últimos cinco anos as movimentações virtuais tornaram a internet o principal meio para transações financeiras. Segundo a Febraban, o número correspondeu a 24% do total em 2011 (último dado disponível), enquanto as transações em terminais de
autoatendimento e agências caíram para 13,5% e 10,9%, respectivamente. Ao redor do mundo, o dinheiro virtual se transformou também no principal campo de disputa das gigantes da tecnologia, sedentas por abocanhar uma fatia de um universo trilionário. Enquanto a moeda do Facebook, chamada de Facebook Credits, amplia sua função original de comprar aplicativos e bens virtuais, para se integrar a promoções de empresas físicas, como lojas e restaurantes, Apple e Google investem na criação do que chamam de “carteira universal.” Graças a essa tecnologia, um simples aplicativo de celular vai reunir e armazenar versões digitais de cartões de crédito, de fidelidade e cupons de descontos num lugar só.
3- A casa sem empregada
Agências que oferecem serviço eventual de faxineiras. Eletrodomésticos mais práticos e compactos. Comida congelada e produtos de higiene mais eficientes e concentrados. Alta expressiva no número de famílias que optam por diaristas. Vale-tudo para compensar a escassez de empregadas domésticas mensalistas no Brasil. Cerca de 500 mil mulheres, 10% do total, largaram a profissão entre 2009 e 2011, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As profissionais que se ocupavam dos afazeres domésticos tiveram acesso à educação e optaram por se recolocar em postos de trabalho no setor de comércio e serviços. E o mercado tem respondido com novos serviços e produtos para suprir os hábitos das famílias.
De 2000 a 2012, cresceu três vezes e meia o custo de manter uma funcionária na residência, informa a consultoria econômica LCA, com base na inflação oficial. Em 2012, o custo do serviço aumentou 12,8%, quase o dobro da inflação. Para a economista Hildete Pereira de Melo, especializada no estudo do trabalho doméstico, sem a figura da mulher contratada para cuidar da casa, as relações familiares tendem a ser mais igualitárias. As estatísticas, porém, mostram que essa mudança caminha em ritmo lento. “Em alguns lares, filhos e homens ganham mais responsabilidades. Mas, na maioria, é a mulher que fica sobrecarregada”, afirma Alexandre Fraga, sociólogo do trabalho na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Mas há transformações em curso. Na casa do professor carioca Cosme da Cunha, de 36 anos, a esposa, Marta, tem horários mais apertados e ele é quem dá conta da rotina doméstica e da filha Helena, de 3 anos. Cunha dá banho e alimenta a menina, que depois passa o dia na escola. Os adultos cooperam na faxina pesada de acordo com suas aptidões e tempo livre. “Escolhemos preservar nossa intimidade e segurar as pontas sozinhos. O lado ruim é ficar mais cansado, mas fazemos tudo aproveitando a família reunida”, diz. Para poupar tempo, Cunha apela para a comida congelada e investiu em um congelador avantajado. Lava-louças, aspiradores de pó e até máquinas que passam roupa entram no esforço para cortar o tempo gasto com tarefas domésticas. A expectativa da indústria é de alta de até 30% nas vendas de eletrodomésticos nos próximos anos. Cresceu também a procura por produtos de limpeza menos agressivos para quem vai manusear. “As donas de casa não investiam em tecnologia porque quem cuidava da limpeza era a empregada. Agora, elas querem fugir das tarefas mais desagradáveis e estão dispostas a pagar mais por isso”, afirma Maribel Suarez, professora do Centro de Estudos em Consumo da Coppead/ UFRJ.
4- Comida que não estraga
“Validade: 5 anos após a data de fabricação”. Parece absurdo, mas essa frase pode estar escrita na embalagem de um sanduíche num futuro não muito distante. E não estamos falando de comidas desidratadas e sem gosto. A culinária do futuro visa a estender o tempo que os produtos podem ficar nas prateleiras dos supermercados, mas sem perder em nutrientes, textura, aparência e, claro, sabor.
Uma das maiores interessadas no tema é a Nasa. Com a tecnologia disponível hoje, uma viagem tripulada de ida e volta a Marte levaria mais de três anos. Assim, um dos maiores desafios da agência espacial americana será alimentar os astronautas durante o período. “Vamos criar um menu que dure até cinco anos em temperatura ambiente, sem refrigeração ou congelamento, pois os equipamentos ocupariam muito espaço e energia da nave. Estamos investigando o uso de técnicas alternativas”, explica Grace Douglas, pesquisadora do Projeto de Tecnologia Avançada de Alimentos da Nasa.
Um dos métodos que mais têm atraído os cientistas é denominado HPP (sigla em inglês para Processamento por Alta Pressão), que usa pressões elevadíssimas para matar micro-organismos. “Bombeamos líquido a níveis muito altos de pressão para o interior de um cilindro especialmente projetado, no qual está o alimento. A pressão chega ao peso equivalente exercido por dois elefantes em cima da área de uma moedinha”, exemplifica Amauri Rosenthal, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Além de exterminar doenças, a técnica preserva os compostos e as vitaminas.
O Exército americano já usa a tecnologia de alta pressão para desenvolver o que tem sido chamado de “sanduíche indestrutível”. Com a meta de produzir alimentos que possam ser carregados pelos soldados em longas expedições, a principal função do HPP nesse caso é criar uma barreira contra a umidade e o oxigênio, elementos que tornam o ambiente propício e agradável para as bactérias. Até o momento, já conseguiram manter fresco um sanduíche de pepperoni por três anos.
Antes de um produto do tipo ir para as prateleiras, é preciso saber o que o consumidor pensa. “Um exemplo é o tratamento dos alimentos por irradiação (processo no qual a comida é tratada com raios gama, raios X ou feixe de elétrons). Quem vai comprar pode associar esse termo com a radioatividade e rejeitar o produto, apesar de o procedimento ter sido considerado seguro por um comitê de especialistas internacionais, não causando dano à saúde, desde que limitado a certos níveis de irradiação”, explica Rosenthal.
A alta tecnologia aplicada à conservação de alimentos pode ajudar o homem a explorar regiões inóspitas da Terra e do espaço. Além disso, se conseguíssemos diminuir as perdas durante o transporte e o armazenamento, poderíamos reduzir o desperdício de 1,3 bilhão de toneladas de comida que acontece todos os anos, de acordo com dados da ONU. Mas, como toda revolução tecnológica, os alimentos de longuíssima duração podem encontrar resistência. Afinal, quem se arriscaria hoje a comer um sanduíche fabricado cinco anos atrás?
5- Vida social online
Não se espante se boa parte dos desejos de um próspero 2013 chegar a você neste começo de ano pelo Facebook. Ou que as fotos das férias do seu filho pisquem na tela do seu celular poucos segundos depois que elas forem tiradas. Acostume-se. A vida social, antes condicionada à presença física em festas, viagens, passeios e encontros, hoje acontece cada vez mais no mundo virtual. Com a ajuda das mais populares redes sociais – como Facebook e Twitter –, as pessoas compartilham de votos de felicidade a opiniões políticas, de fotos e vídeos de férias a reclamações de trabalho, de fofocas pessoais a gritos de torcida. E tudo de forma assustadoramente veloz, com alcance cada vez maior. Em 2012, por exemplo, 63,9 milhões de brasileiros se identificaram como usuários de redes sociais, acessando as páginas do computador de casa, do trabalho e pelo celular. Até 2014, serão pelo menos 79,3 milhões, ou 37,7% da população nacional, segundo dados da consultoria americana eMarketer. “Todos temos uma necessidade muito grande de pertencer a um grupo, de nos sentirmos parte de algo”, diz Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisa de Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Hoje, estar nas redes sociais é garantir pertencimento a um grupo cada vez maior e mais influente.”
Com o avanço vertiginoso das redes sociais, não há faixa etária que fique de fora dessa nova onda. Mas, se as ferramentas são as mesmas para as diferentes idades, o uso delas é diferente. Entre os mais jovens, por exemplo, a construção de uma identidade virtual completa, com fotos, gostos e opiniões, tudo editado para que só o melhor apareça, é a regra. Já para os mais velhos, reencontrar amigos, manter contato com os filhos e mostrar as conquistas de uma vida madura parece ser o comportamento preferido. “Essa diferença pode gerar conflitos”, diz Luciana. Os maduros costumam implicar com a exposição dos jovens na rede. Queixar-se da falta de paciência que eles passam a ter com a vida real, acostumados com a velocidade da vida virtual, é outro problema comum.
“Lembrar os filhos que, apesar de parecidos, o mundo real e o virtual são coisas diferentes é importante”, afirma a psicóloga. Não é fácil, mas há quem consiga. Maria Paula Fernandes, 48 anos, roteirista e fundadora do Movimento Gota D’Água, é um exemplo. Usuária voraz do Facebook, ela vive ajudando os sobrinhos a tirarem o melhor das redes sociais sem confundir as coisas. “Os adultos que já estão nas redes têm mais condições de dar apoio”, diz. “Como a vida real, a virtual está cheia de maravilhas e problemas.”
6- Com a cabeça na nuvem
Uma boa memória e uma agenda de papel eram suficientes para armazenar boa parte das informações que utilizamos com mais frequência. Agora – com as facilidades oferecidas por computador, celular e ferramentas de busca –, datas de aniversário, números de telefone e compromissos migraram para fora de nossa cabeça. Não há consenso científico sobre se isso é bom ou ruim, mas uma coisa
é certa: a internet está mudando o funcionamento de nosso cérebro. Um experimento feito na Universidade de Colúmbia (EUA) apontou que as pessoas fazem menos esforço para memorizar uma informação quando acham que ela será armazenada no computador. Os pesquisadores notaram que, ao ouvir uma pergunta, os voluntários pensavam primeiro com quais mecanismos poderiam ir atrás da resposta. Segundo a psicóloga Betsy Sparrow, que conduziu o estudo, isso reflete uma falta de necessidade de decodificar internamente as informações que nos cercam.
Uma alteração, mais química, no cérebro foi diagnosticada por cientistas da Universidade da Califórnia (EUA). Eles compararam usuários frequentes de internet com aqueles que não têm familiaridade com a rede. A pesquisa mostrou que os cérebros dos voluntários do primeiro grupo foram ativados mais intensamente. “Pesquisar na internet exercita a mente, e eu especulo que isso seja positivo”, diz o neurocientista Gary Small, autor principal do estudo.
A rede não necessariamente nos deixa mais burros, mas pode atrapalhar o aprendizado. “Antes, um aluno lia livros, sublinhava textos, fichava e anotava. Hoje, faz uma pesquisa no Google, entrega um trabalho e logo esquece o que escreveu”, diz o psicólogo Eduardo Honorato, professor da Faculdade Martha Falcão, em Manaus, e especialista em internet. Para Rosa Maria Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, não é o caso de demonizar a internet. “Ainda estamos vivendo uma fase de aprendizagem”, diz.
7- Uma medicina feita para você
Você vai ao médico, relata seus sintomas e deixa o consultório com um pedido de exames tradicionais (colesterol, glicemia, etc.) e outro solicitando a análise do seu perfil genético. Ele deseja saber como seu organismo reagirá a determinada droga e se há algo em seu DNA que pode interferir – para melhor ou para pior – no trabalho a ser feito. Esta situação é a essência de um novo conceito de cuidado com a saúde chamado medicina personalizada. Ele consiste no oferecimento de estratégias desenhadas para o indivíduo de acordo com suas características genéticas.
A ideia começa a ganhar a prática médica graças aos avanços da genética, que possibilitam a realização de testes a preços mais acessíveis. O tratamento do câncer é a área na qual a aplicação do conceito está mais adiantada. Foi usado pela primeira vez no tratamento de câncer de mama. Descobriu-se que a droga Herceptin só funcionava nas mulheres que apresentavam atividade no gene responsável por determinar a produção da proteína HER-2. Foi criado um teste para selecionar essas pacientes e usar a medicação somente nos casos em que ela tem efeito. “Depois, verificou-se que 5% a 10% dos pacientes com tumor de estômago também manifestam amplificação desse gene”, explicou a médica Isabela Werneck, do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo. E eles passaram a se beneficiar do Herceptin. Hoje, há outros exemplos: há exames para saber em que pacientes serão eficazes drogas como o cetuximabe, contra o câncer colorretal, o bevacizumabe, indicado para combater o tumor de pulmão, o vemurafenibe, que combate o melanoma, e o crizotinibe, recomendado contra o câncer de pulmão.
A adoção da medicina personalizada também se intensifica na cardiologia. Existem testes para saber a resposta individual ao clopidrogel e a varfarina, usados por doentes cardíacos. E outras possibilidades estão em estudo. Um artigo publicado por Stephen Liggett, da Universidade do Sul da Flórida, descreveu como o perfil genético poderá predizer quem se beneficiará de uma droga para tratar insuficiência cardíaca, o bucindolol. “O teste nos diz quem irá responder à droga de uma forma muito favorável e quem não terá reação”, disse Liggett.
Nos laboratórios de diagnóstico, encontram-se testes que rastreiam reações a uma gama ampla de medicamentos. Um deles, o Amplichip 450, aponta como será a metabolização de drogas como o carvedilol (anti-hipertensivo), amitriptilina e paroxetina (antidepressivos) e fenitoína e diazepan (antiepiléticos). No Richet, do Rio de Janeiro, há um teste que indica a predisposição a doenças cardiovasculares e a reação a algumas drogas, principalmente as indicadas para o controle da pressão arterial. “Com o resultado, há menos risco de indicação de remédio em dosagem incorreta”, explica Hélio Magarinos Torres Filho, diretor-médico do laboratório..
O Laboratório SalomãoZoppi Diagnósticos, de São Paulo, em parceria com o geneticista Ciro Martinhago, oferecerá a partir deste ano o sequenciamento total do DNA humano feito aqui no Brasil. O processo reduzirá o tempo de espera para o resultado de cerca de três meses, quando a análise é feita fora do País, para um mês. Além disso, introduzirá testes para conhecer as reações de cada um a anti-inflamatórios e antialérgicos. “Este é o caminho da medicina. Hoje, as drogas que já passaram por testes que indicam com mais precisão a quem irão beneficiar têm preferência de aprovação nos Eua”, diz Martinhago, assessor científico do SalomãoZoppi.
8- O convívio com a diversidade sexual
Não passou despercebida a iniciativa da Rede Globo de mostrar, na final do reality show “The Voice”, em dezembro do ano passado, imagens da família da vencedora, Ellen Oléria, com a seguinte legenda: “Mãe e namorada de Ellen”. A opção por não esconder a identidade sexual da participante é reflexo da mudança no modo como a sociedade brasileira lida com a diversidade – um avanço que ocorre a passos rápidos. “Sou formada em direito e minha monografia, apresentada em 2009, foi sobre a união homoafetiva”, afirma Rosa Maria Gonzaga Arouche, que acaba de formalizar seu casamento com Antonieta Cavalcante de Sousa na cidade de Santos, em São Paulo. “Na hora em que assinei a certidão, três anos depois, senti toda a emoção de ver o meu trabalho se concretizar.”
A história de Rosa e Antonieta só foi possível porque, em 2011, o Supremo Tribunal Federal estendeu os direitos da união estável aos homossexuais. Com esse precedente, uma série de jurisprudências foi aberta e benefícios como herança, acesso a plano de saúde e pensão alimentícia se tornaram realidade para essa parcela da população. “O direito acompanha a evolução da sociedade”, diz Luiz André Sousa Moresi, presidente da ONG Revida e primeiro a se casar com uma pessoa do mesmo sexo no Brasil. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, no entanto, esse avanço precisa ser acompanhado pelo Poder Legislativo, onde as principais propostas do movimento gay seguem estancadas, como é o caso do Projeto de Lei 122, que criminaliza a homofobia. “O Judiciário tem sido sensível ao princípio da igualdade e o Poder Executivo tem ampliado as políticas antidiscriminatórias. Mas falta o pilar do Legislativo”, afirmou a ministra Maria do Rosário à ISTOÉ. Esse vazio faz com que, apesar de todos os avanços, a violência homofóbica siga aumentando. Dados do Grupo Gay da Bahia mostram que os assassinatos de homossexuais subiram de 266 em 2011 para 308 em 2012. Segundo a Secretaria de Direitos Humanos, as denúncias registradas no Disque 100 aumentaram 197% nos últimos 12 meses. “Trata-se de um segmento muito vulnerável”, afirma Maria Berenice Dias, presidente da Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
9- O preço da longevidade nas famílias
O Brasil já é uma nação de idosos. “E os estudos apontam que a partir de 2030 a população com mais de 45 anos crescerá”, afirma a economista Ana Alice Camarano, especialista em longevidade do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Se por um lado a convivência entre gerações de uma mesma família é gratificante, por outro, quando o envelhecimento não ocorre de forma saudável, é motivo de apreensão. Hoje, por exemplo, 3,1 milhões de idosos brasileiros têm dificuldades de executar as atividades mais básicas da vida diária, como tomar banho, comer e ir ao banheiro sozinhos. Os impactos financeiros e emocionais para cuidar deles são grandes e desgastantes para toda a família.“Um familiar em geral abre mão da sua vida para assumir o gerenciamento da vida do idoso. As contas, a compra e a administração dos remédios, as consultas, tudo vira tarefa dessa pessoa”, afirma o geriatra Saulo Buksman, diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. O peso é tamanho que existe até uma doença já descrita com o nome de “estresse do cuidador”. “Mistura depressão, culpa e raiva. A pessoa tem um estresse muito forte, que pode induzir a doenças”, diz o médico.
Uma das soluções que vêm ganhando força são as instituições de longa permanência para idosos. São casas nas quais os mais velhos são acompanhados por equipes de saúde multidisciplinares, participam de atividades terapêuticas e desfrutam de acomodações confortáveis. Na grande maioria delas, o idoso também pode ser deixado durante um período do dia, como numa creche. Mas o preço é mais alto do que o pedido para cuidar de crianças: gira em torno dos R$ 4 mil mensais.
Um dos problemas é que as políticas de hoje são voltadas apenas para o envelhecimento ativo. “Temos academia da terceira idade em cada esquina, centros de convivência, universidades para idosos, mas estamos deixando de lado o velho frágil e pobre”, diz a pesquisadora Ana Alice. “E não temos mais tantos cuidadores familiares. As famílias estão diminuindo e as mulheres hoje participam ativamente do mercado de trabalho. Elas não podem mais ficar em casa”, afirma. A especialista defende que seja dada uma compensação financeira ao parente que se dedique ao cuidado do idoso, já que muitos saem do mercado de trabalho para isso.
Foi o caso da empresária Mariana Lima, 32 anos, que teve de fechar a empresa de marketing para cuidar de uma tia de 80 anos, que sofre de Alzheimer. “Ela ficava agitada em casa. Dizia que não era a casa dela e queria fugir”, conta a empresária. Mariana banca parte das despesas da tia, já que a pensão que ela recebe é insuficiente. “Somente um dos remédios custa R$ 400. E ainda pago R$ 1.808,33 de plano de saúde”, diz.
10- A imortalidade dos ídolos
Antes de morrer, o popstar Michael Jackson estava à beira da falência. No ano passado, contudo, ele foi o cantor morto com o maior rendimento no show business: faturou US$ 145 milhões. Se essa cifra prova que as chamadas “delebs” (celebridades falecidas) continuam vivas na memória de seus fãs, uma nova tecnologia veio mostrar que elas podem ser imortais: o holograma. A família Jackson já declarou que uma cópia digital do Rei do Pop está em estudo para uma turnê este ano, numa lista que inclui Elvis Presley, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Freddie Mercury, Kurt Cobain e até Marilyn Monroe. No Brasil, um Cazuza versão digital está sendo feito pela empresa francesa 4DMotion para um show em comemoração aos seus 55 anos, em abril. “Temos de admitir que hoje a definição de carreira não se refere apenas ao período em que o artista era vivo”, afirma Mark Roesler, um dos maiores agentes desse segmento.
Tentativas de “ressurreição” de astros pop já vinham acontecendo há mais de uma década, mas só mostrou seu incrível resultado no início do ano passado, com a apresentação do rapper Tupac Shakur no festival Coachella, nos EUA. Seu “ersatz” foi desenvolvido por meio de um método revolucionário: uma pessoa com físico semelhante ao do cantor repete seus gestos e é gravada segundo a técnica de animação “motion capture”; na sequência, um rosto idêntico ao dele é criado digitalmente a partir de fotos e imagens de arquivo. Isso havia sido feito no cinema em filmes como “O Senhor dos Anéis” e “O Curioso Caso de Benjamin Button”. Agora chega aos shows. Para se reproduzir ao vivo, a apresentação pré-gravada do cantor é projetada em um espelho no piso do palco e refletida numa tela especial de poliéster Mylar.
A próxima etapa é fazer a projeção em formato 3D, dispensando a tela e permitindo que o astro se movimente em todas as direções. “Esse é só o primeiro passo. Eles vão chegar lá”, diz o empresário Rafael Reisman, que trouxe ao Brasil as apresentações virtuais (só que ainda em telão) de Elvis Presley, todas com lotação esgotada. Outro fator que vai revolucionar o mercado de shows no futuro é que a cópia virtual custa menos que um popstar real: a criação do Tupac Shakur holográfico ficou entre US$ 100 mil e US$ 400 mil e pode fazer infinitos shows. Já o cachê cobrado por um popstar do nível de Paul McCartney, por exemplo, chega a US$ 4 milhões por apresentação.
Revista IstoÉ
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