Congresso de Endocrinologia e Metabologia
Aparentemente inofensivos, fórmulas podem conter substâncias danosas à saúde dos atletas
Natalia Cuminale, de Gramado (RS)
(Thinkstock)
“Não tem receita de bolo, um atleta que deseja melhorar precisa consultar um nutricionista para definir – e seguir - a dieta ideal”, sugere a nutricionista Ana Paula Fayh.
Vendidos com o objetivo de complementar a dieta, os suplementos alimentares podem oferecer um risco oculto aos praticantes de esporte. Quem faz o alerta é o educador físico Jocelito Martins, oficial de controle antidoping da Agência Mundial Antidoping (Wada). Segundo ele, ao consumir o suplemento, o atleta pode ingerir, sem saber, substâncias como sibutramina (utilizada para emagrecimento), furosemida (que tem efeito diurético) e hormônios anabolizantes. O uso desses aditivos não é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), porém, eles estão presentes em pelo menos um terço dos suplementos importados e entre 25% e 50% dos nacionais.
Os suplementos são encontrados sem dificuldade pelos atletas: na internet, em lojas especializadas, nas academias e inclusive em supermercados. O problema, segundo Martins, é que o rótulo não avisa sobre as outras substâncias contidas na fórmula. “Em alguns casos, ocorre a contaminação intencional para que tenha o efeito desejado. Os atletas precisam ficar atentos porque isso nunca está descrito no rótulo. No Brasil, a Anvisa regula, mas só age sob denúncia”, diz Martins.
A recomendação do especialista é que os atletas fiquem atentos à procedência dos suplementos. Além disso, é preciso desconfiar da composição declarada em rótulos e bulas e de preparações farmacêuticas manipuladas para esse objetivo.
Efeitos para a saúde – O uso consciente ou inconsciente de substâncias como hormônios, sibutramina e anfetaminas é desaconselhado pelos médicos por conta de seus efeitos prejudiciais à saúde.
Em geral, a ânsia por resultados rápidos de ganho de massa muscular e a necessidade de superar os próprios limites, aumentando o próprio desempenho, fazem com que os esportistas não pensem nos resultados a longo prazo. “O excesso de hormônio como a testosterona, por exemplo, pode diminuir a capacidade de ereção, causar espinhas, provocar crescimento de pelos pelo corpo - fatos que podem trazer reflexos para o resto da vida”, diz o endocrinologista José Egídio Oliveira.
Helena Schimidt, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, chama a atenção para o uso do hormônio do crescimento, mais utilizado por pessoas de alto poder aquisitivo, por conta do alto preço. “Esse hormônio aumenta a massa muscular e a força – exatamente o que as pessoas buscam quando fazem musculação. As pessoas que usam esse medicamento podem desenvolver a acromegalia, doença existente em pessoas que secretam o hormônio do crescimento excessivamente”, avisa. Nesse caso, as mãos, os pés, o queixo e a testa crescem de uma forma anormal. Além disso, aumentam as chances de doenças cardiovasculares – problema comum em quem utiliza outros tipos de aditivos, como a sibutramina.
“Primeiro é importante perguntar ao médico se o suplemento serve. Não existe remédio mágico que transforma um indivíduo normal em um atleta de um dia para o outro. O endocrinologista poderá servir como orientador”, diz Egídio.
Necessidade – Os especialistas ponderam, no entanto, que nem sempre os suplementos alimentares são os vilões. A nutricionista Ana Paula Fayh explica que eles podem ser necessários em dois casos: quando houver uma alimentação desequilibrada ou para atletas que precisam de um alto consumo de calorias diárias. Ela acrescenta ainda que todo atleta necessita de um repositor hidroeletrolitico, as conhecidas bebidas do esporte.
Katiuce Borges, que também é nutricionista, lembra que o consumo de alimentos antioxidantes são necessários para que os atletas combatam o stress oxidativo, que é o desequilíbrio entre a produção de radicais livres e as defesas do organismo, capaz de causar o envelhecimento precoce, aparecimento de patologias e diminuição da performance. Ela explica que alimentos ricos em vitamina A, C, E, flavonoides e minerais como zinco, selênio podem combater esse problema. “Se o atleta não tem uma alimentação regrada, ele vai precisar de suplementos vitamínicos”, diz.
“Não tem receita de bolo, um atleta que deseja melhorar precisa consultar um nutricionista para definir – e seguir - a dieta ideal”, sugere Ana Paula Fayh.
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