Entrevista
Recém-filiada ao PSB, a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça analisa o governo Dilma e a parceria do socialismo com Marina Silva nas eleições
Laryssa Borges, de Brasília
Eliana Calmon, ex-corregedora nacional de Justiça (José Cruz/ABr)
A baiana Eliana Calmon Alves nunca foi de meias palavras. Primeira mulher a ocupar uma cadeira no Superior Tribunal de Justiça (STJ), sempre foi chamada de rebelde pelos colegas de magistratura. Em 2011, virou alvo de críticas de juízes ao comprar briga ao apontar "bandidos que estão escondidos atrás da toga". Na época, ela era corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que investiga o próprio Judiciário. Foi acusada de promover uma devassa – em alguns casos abusiva – na vida de juízes do país. No ano passado, decidiu abandonar a magistratura antes de sua aposentadoria na Corte para tentar um voo na política. Ex-eleitora de Lula e Dilma Rousseff, Calmon filiou-se ao PSB para disputar uma vaga no Senado e hoje é crítica do PT: "O PT veio com a ideia de ética na política, mas se perdeu e perdeu feio. Terminou piorando, porque os integrantes do partido aderiram à mesma forma de proceder que antes condenavam". Leia a entrevista ao site de VEJA.:
Biografia
ELIANA CALMON, 69 ANOS
Bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), já foi procuradora da República, Diretora-Geral da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM) e corregedora-nacional de Justiça do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Pediu aposentadoria antecipada do STJ – antes da compulsória, aos 70 anos – e se filiou ao PSB em dezembro de 2013 para concorrer a uma vaga no Senado Federal pela Bahia.
Bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), já foi procuradora da República, Diretora-Geral da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM) e corregedora-nacional de Justiça do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Pediu aposentadoria antecipada do STJ – antes da compulsória, aos 70 anos – e se filiou ao PSB em dezembro de 2013 para concorrer a uma vaga no Senado Federal pela Bahia.
A ética na política será a bandeira da sua candidatura? Há uma queixa geral de que a política não presta, de que há muita corrupção e que ninguém quer sujar as mãos com a politica. Os eleitores querem uma pessoa séria, rigorosa, porque as pessoas mais fragilizadas não têm vez. Os eleitores querem candidatos sérios, porque hoje o que existe é a cooptação dos partidos para se ganhar eleições. Todos abrem mão de princípios para se filiar a grupos que tenham domínio sobre o eleitorado. Não pode ser assim. Será que minha candidatura vai dar certo? Não sei, mas alguém tem que tentar.
O PSB é aliado histórico do PT. Por que a senhora acha que o PSB é diferente? Nas conversas que tenho com Eduardo (Campos, presidente do PSB e pré-candidato à presidência da República), a ideia é fazer política diferenciada. Isso é o que ele diz. Eu tive convites de cinco partidos. Como governador (de Pernambuco), Eduardo tem empenho e uma gestão muito presente. Me encantei.
A sua ideia é filiar-se futuramente à Rede? Não digo que seja, estou no meio do caminho. Quando Marina Silva chegou, eu já estava comprometida, encaminhada com o PSB. A Rede ainda tem estrutura muito frágil, aqui na Bahia ainda está se montando. O PSB também não é um grande partido na Bahia, mas pelo menos tem tradição.
A senhora diz que está ‘no meio’ do PSB e da Rede. Quem é o melhor político: Eduardo Campos ou Marina Silva? O Eduardo Campos tem a praticidade de um jovem executivo e ele deu certo em um Estado complicado. A Marina é uma mulher com tenacidade, força, ética, e não abre mão dessa ética, mas não teve um teste de gestora direta. Não que a Marina seja uma política teórica, mas apesar dos 20 milhões de votos em 2010, para a Presidência, ela ainda não foi submetida à prática do dia a dia da administração.
O PSB deveria abrir mão da cabeça de chapa pelo capital político da Marina? Não sei se deveria mudar a chapa. Como ela já aceitou ser a vice de Eduardo, fica perfeito do jeito que está. Além do mais, ela é o equilíbrio do Eduardo no mundo político. Ele é aquele intrépido que sai na frente, com toda a força de juventude e tenacidade de executivo. Mas a Marina traz o Eduardo para a realidade quando se opõe a alianças controversas. Ela é um freio para que ele não repita a velha prática dos políticos. A Marina segura a onda de Eduardo Campos para ele não buscar o ‘toma lá, dá cá’.
Se for eleita, qual o principal adversário a ser combatido? O maior problema, dentro da minha visão de Nordeste, é a fragilidade do federalismo. Depois dos desvios de dinheiro em campanha, aí está uma das maiores fontes de corrupção. Na divisão dos recursos, os municípios ficam nas mãos do governo central. Os prefeitos que baixam a cabeça e cedem acabam conseguindo tudo. Aqueles que não são cooptados têm dificuldade. Mais ainda: aqueles que estão mais próximos ao governo e fazem o apoio de base são beneficiados propositadamente com falta de fiscalização. A fiscalização é direcionada para os adversários.
Quando pleiteou uma vaga no STJ, a senhora procurou políticos influentes, como o ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Como avalia as alianças políticas do governo federal? O PT caiu na mesma prática dos outros partidos e, em nome da governabilidade, faz o clientelismo. Como candidata, sem dúvida alguma terei de enfrentar coronéis da Bahia, mas, no meu caso, as alianças estão sendo feitas de forma criteriosa – é bom deixar claro que isso não é uma troca. Os auxílios são em favor de uma política diferente, mas não haverá ‘toma lá, dá cá’.
Como avalia o governo da presidente Dilma? O governo se perdeu muito na questão da governabilidade. Teve de ceder demais em razão do projeto de reeleição. Essa política de reeleição muito antecipada mudou inteiramente o rumo das coisas. O governo começou com muitas trocas de ministros em razão das denúncias de corrupção, mas chegou a um ponto que isso parou. Os que tinham sido extirpados voltaram, e como aliados preferenciais. O PT veio com a ideia de ética na política, mas se perdeu e perdeu feio. Terminou piorando, porque os integrantes do partido aderiram à mesma forma de proceder que antes condenavam. Fora que o Brasil já está parado, não está crescendo e tem um PIB pífio.
Qual seu modelo de reforma política? O financiamento de campanha não pode ser só publico, mas tem que ter limites percentuais necessários. O problema também é que atualmente a legislação eleitoral favorece os grandes partidos. Esses partidos começam a ser propriedade dos grandes caciques e os novos políticos não têm vez. Continuamos com velhos caciques se perpetuando, com filhos e netos, como donos das legendas. Os partidos agem como camisas de força, passando de geração em geração e perpetuando o caciquismo. A Bahia está toda dominada pelos velhos caciques. A família Sarney está há 60 anos no poder no Maranhão.
A senhora acha que o mensalão será usado contra o PT nas eleições? Não. Somos devidamente esclarecidos, essas coisas já passaram pela Justiça e não devem ser questionadas ou usadas como arma. Estão resolvidas em favor da Justiça, que é um braço do Estado. Deixemos para lá. Vamos falar não do passado, mas do futuro. É com isso que temos que nos preocupar, com o futuro.
Quem são os piores: os “bandidos de toga” ou os parlamentares corruptos? Os juízes têm poder maior. Estão em muito menor número, mas a magistratura define o destino das pessoas, o patrimônio das pessoas, a família e até as questões de equilíbrio psicológico. Nós escolhemos os parlamentares, mas não escolhemos os magistrados. É a Justiça quem diz quais os juízes a quem a gente tem que se submeter. O poder de destruição de um juiz corrupto é muito grande e por isso eles são piores.
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