Bichos
Depois dos hotéis e dogwalkers, o extremo conforto dos pets agora são as babás, que oferecem serviço por mais de 50 reais a hora para quem trabalha muito ou precisa viajar com frequência
Letícia Cislinschi
Com pouco tempo livre na agenda e muita preocupação com seu cão shih tzu Frodo, de 4 anos, a doutoranda Michelle Veronese não conseguia ficar tranquila de deixar o animal em um hotel. “Eu sempre tinha a impressão que ele estava triste, que emagrecia e ficava estressado”, conta. Ela encontrou a solução em um serviço já conhecido quando o assunto são filhos, mas que há algum tempo chegou ao mundo pet: a babá – que nesse caso ganha o nome de pet sitter.
A vantagem de levar o profissional para dentro de casa é o serviço personalizado e de mais fácil aceitação do animal que tem dificuldades de se adaptar a ambientes estranhos e a dividir espaço com outros bichos. Além disso, formam parte da clientela cativa das pet sitters pessoas que trabalham muito, viajam frequentemente, que tem animais que precisam de medicação em horários determinados ou que ainda não tem idade para sair à rua. Mas há também quem recorra ao serviço por algumas horas para uma ia ao shopping ou a uma festa.
Com a demanda concentrada na classe média alta, o serviço custa por volta de 55 reais a hora na capital paulista. Todo esse conforto pode ser considerado um luxo, mas a realidade é que o brasileiro tem se disposto a gastar mais com seus bichinhos de estimação. A média atual é de 315 reais por mês para quem tem cachorro, e cerca de 84 reais para gatos.
Satisfação – Para Michelle o dinheiro gasto valeu a pena. “Deixei Frodo por 25 dias com a pet sitter e, quando voltei, nem parecia que eu tinha viajado”, conta sobre o estado de humor do cachorro ao reencontrar a dona. Nas grandes cidades, onde se concentra boa parte dos quase 40 milhões de cães e gatos de estimação que hoje existem no país, o serviço começa a se popularizar – aquecendo ainda mais o fervilhante mercado pet brasileiro, que em faturamento perde apenas para os Estados Unidos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), só em 2012, as indústrias de alimentação, equipamentos, veterinária e serviços faturaram juntas 14,2 bilhões de reais.
Em apenas três anos, a veterinária Andressa Gontijo, de 31 anos, viu a clientela da sua empresa, My Pet’s Nany, crescer 250%, tendo hoje setenta clientes ativos (que requisitam o serviço com frequência). Justo quando enfrentava dificuldade para encontrar um hotel especializado para deixar seus dois cachorros, Andressa ficou sabendo da existência no exterior das pet sitters e decidiu importar a ideia. Começou sozinha, conciliando com o trabalho em uma fábrica de ração para animais. Mas a procura começou a crescer e ela passou a se dedicar integralmente ao negócio. Hoje, tem seis pessoas trabalhando para ela. Segundo a veterinária, 45% dos atendimentos são com cães, 45% com gatos e os outros 10% com outros animais domésticos, como aves, coelhos, hamsters e etc.
Rotina – O primeiro passo na contratação do serviço é uma entrevista com a pet sitter. O profissional precisa de informações como qual local da casa o animal mais gosta de ficar e quais ele não pode entrar, a quantidade de comida ideal, o que o pet mais gosta de fazer, além de detalhes logísticos, como se a chave da residência ficará na portaria, com um vizinho ou com a própria pet sitter, e os horários de atendimento.
É o dono quem escolhe quais atividades os pets devem realizar: quantas vezes e onde ir passear, tomar banho de sol, comer, brincar, a hora de pentear os pelos e escovar os dentes ou de ministrar medicamentos em bichos que precisam desse acompanhamento.
Com todas essas informações na cabeça, a pet sitter Cintia Cardoso, de 49 anos, começa seu dia por volta das 10h e atende, em média, cinco clientes por dia. Depois de trabalhar 27 anos na área financeira de uma empresa e ficar três meses desempregada, ela decidiu trabalhar com o que realmente gosta: animais. Dona de sete gatos, se inscreveu no curso de babá de animais e há um ano trabalha na área.
Com horário flexível, Cintia começa o dia por volta de 10h da manhã e atende em média cinco clientes por dia. Em época de férias e feriados, o número de visitas aumenta. "Já cheguei a atender dez pets em um dia só.”
Por volta de 12h, ela chega para a primeira das duas visitas diárias que faz a casa dos gatos de 16 anos Charlie e Emma, da raça tonquinês – uma mistura de siamês e com birmanês. Os donos dos gatos, Matt e Susannah Thomas, são americanos que moram no Brasil, mas viajam com frequência. “Para nós foi muito importante, já que os nossos gatinhos estão velhos e precisam de cuidado. Não poderíamos deixá-los sozinhos”, conta Matt.
Cintia coloca a comida e, enquanto eles fazem a refeição, troca a areia dos animais. Aplica insulina em Charlie e, em seguida, é a hora do banho de sol na sacada. "Gatos são diferente dos cachorros, eles precisam confiar em você", explica a babá.
Depois de uma hora, Cintia sai da Vila Nova Conceição e segue para Pinheiros. Às 13h30, ela chega para visitar Frodo, o shih tzu da doutoranda Michelle. “Ele é um espoleta”, conta a cuidadora. Nos primeiros dias, para evitar que o animal a estranhasse, Cintia montou uma estratégia: “Procuro ir com a mesma roupa que eu fui à entrevista, para que o animal me reconheça pelo cheiro”, disse.
Quando entra na casa, Frodo já está esperando a babá na porta com o rabo abanando. O shih tzu também precisa de cuidados especiais e, logo quando chega, Cintia aplica o primeiro medicamento do dia nos olhos do cão. Depois de brincar um pouco, trocar a água e colocar comida, Frodo já de coleira sai para passear. "A gente prefere essa vila ao lado porque não passa muito carro e não tem perigo do Frodo sair correndo e ser atropelado", explica apet sitter.
Acompanhamento – No fim do dia, Cintia prepara um relatório com todos os detalhes do atendimento. “A gente descreve todas as atividades. Temos que falar se o animal comeu normalmente, se passeou ou se ficou em casa, se o intestino funcionou, se ele está bem hidratado e se ficou agitado ou calmo”. O relato vai acompanhado de imagens dos animais para conhecimento do cliente.
Ainda não há um tipo de regulamentação específico para o serviço de babá de animais de estimação. O Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) orienta os donos a, antes de contratar o serviço, buscar referências do profissional e se há um veterinário responsável pelos pets.
O serviço não é vantagem apenas para os donos dos animais. Quem entra no ramo pode faturar de 1 500 a 2 000 reais por mês. "Eu acabei faturando quase o mesmo de quando eu trabalhava em uma empresa convencional, às vezes até mais. A diferença é que agora eu ganho fazendo o que eu realmente gosto", contou Cintia.
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