O curador Leandro Karnal posa ao lado da Estela MaiaFoto: Reinaldo Marques/Terra
Quem sabe o que é máquina de escrever tem mais de 30 anos. Mas qualquer pessoa vai poder "viajar" no tempo e descobrir a importância do ato de escrever - seja qual for o instrumento usado - para a perpetuação das culturas.
A Escrita da Memória, nova exposição do Instituto Cultural Banco Santos, em São Paulo, será aberta nesta quarta-feira, dia 7, e a curadoria espera receber um público de aproximadamente 100 mil pessoas. Ainda não há previsão de quanto tempo ela ficará em cartaz, mas a idéia inicial é que seja de 8 meses a 1 ano.
A mostra reúne cerca de 500 objetos, todos originais, que vão desde peças, e arqueológicas, passando por documentos históricos, livros raros e instrumentos de escrita.
Dividida em três partes, a exposição começa com os Berços da Escrita, onde o visitante poderá se ver diante de peças milenares. Entre os destaques, uma pedra do Saara de 7 mil anos (período neolítico); um tinteiro do Mar Morto, usado para escrever os textos mais antigos da Bíblia; e um Quipo, sistema de escrita tridimensional com cipós e nós, desenvolvido pelos Incas e cujas últimas pessoas capazes de decodificá-lo morreram recentemente.
Outra peça rara é uma Bíblia, datada de 1493 e sem os versículos, que só foram criados no século seguinte. Uma curiosidade de peça são anotações em Nurembergue nas laterais das páginas.
"O conceito central é a memória", afirma o Professor Doutor Leandro Karnal, diretor do departamento de História da Unicamp e curador da exposição. "Mas a mostra pode ser lida de três formas: história da arte, história do Estado e percurso da memória."
Quem está mais interessado na história contemporânea também terá um cardápio vasto. Na segunda parte da exposição, Arte e Ciência, um corredor separa as duas formas de manifestação humana, mostrando, segundo o cenógrafo Marcello Dantas, que elas nunca se encontram, mas estão sempre lado a lado. As curiosidades são tantas que, logo na entrada, o visitante poderá ver exercícios de caligrafia de Pedro II.
De um lado, uma carta do compositor Carlos Gomes sobre a recepção a ele no Brasil e sobre sua obra O Escravo. Do outro, uma carta de James Watt sobre a máquina a vapor. Escrevendo sobre a atividade do artista, Gauguin afirmou, em 1885: "Você fará progressos e cedo ou tarde saberão reconhecer o seu valor, se você tiver algum." Como nem só de fórmulas vivia Einstein, um aforismo do cientista é outro destaque: "A natureza oculta seus segredos por sua grandiosidade intrínseca não por sua astúcia."
Uma atração a mais nessa segunda parte são as imagens dos autores dos documentos projetadas neles. "São imagens bem humanas. É um pequeno encanto da exposição", revela Marcello Dantas.
Entre os poetas, há o original de A Minha Roza, de Gonçalves Dias; Peccador, de Olavo Bilac, Carlos Drummond de Andrade, que usou uma mesma folha de papel para criar dois poemas; Tennessee Williams, trocando "he" por "she" no último verso do poema Efebo, que fez para o namorado.
Na terceira parte da exposição, Poder e Cotidiano, uma curva sinuosa revela os bastidores do poder através da escrita. Ali será possível se deparar, entre outras peças, com: uma carta de Maquiavel, datada de 1510; o documento de casamento de Napoleão Bonaparte e Josephine, em 1798; um cartaz de leilão de escravos na Geórgia, de 1850; uma carta de Trotski sobre um panfleto anti-Stalin que ele estava redigindo, de 1937.
Alguns documentos não têm tanto valor histórico, mas atraem pelos personagens. É o caso de uma autorização de Adolf Hitler sobre o uso de uniformes, em 1936. Logo ao lado, mais personagens históricos marcantes, como Indira Gandhi falando sobre os terrorismos e conflitos na Índia, em uma carta de 1984, e Mahatma Gandhi escrevendo sobre sua saúde, em 1926.
Como os bastidores do poder exalam histórias curiosas e inusitadas, o visitante poderá ler a irônica carta de Getúlio Vargas, três anos antes de chegar à presidência, afirmando que era um "simples camponês" e que assim queria permanecer para sempre.
Projeto educativo
A Escrita da Memória poderá ser visitada por escolas particulares e públicas. As escolas que forem à exposição serão brindadas com um CD educativo recomendado para crianças na faixa etária de 11 anos, que não será vendido e nem doado aleatoriamente. As visitas escolares estão sendo marcadas desde o dia 5 de junho e podem ser feitas pelo telefone (11) 3818-9591.
A Escrita da Memória poderá ser visitada por escolas particulares e públicas. As escolas que forem à exposição serão brindadas com um CD educativo recomendado para crianças na faixa etária de 11 anos, que não será vendido e nem doado aleatoriamente. As visitas escolares estão sendo marcadas desde o dia 5 de junho e podem ser feitas pelo telefone (11) 3818-9591.
Além do CD e do catálago, a mostra terá também um livro acadêmico, com artigos de 13 historiadores.
Dedicada aos 16 milhões de analfabetos do Brasil, a exposição quer aproveitar essa ironia de associar o analfabetismo à escrita para gerar reflexão.
"Esse número é inquietante do ponto de vista social. Essas pessoas são os excluídos da memória coletiva. Queremos que a pessoa com poder e dinheiro que venha à exposição pense nesse desafio social", afirma Leandro Karnal.
Serviço
A Escrita da Memória
Onde: Instituto Cultural Banco Santos (Rua Hungria, 1100 - Jardim Paulistano - São Paulo/SP)
Quando: a partir de 7 de julho, sem previsão para a data de encerramento. De terça a sexta-feira, das 10h às 17h30, aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h30
Ingressos: Entrada gratuita
A Escrita da Memória
Onde: Instituto Cultural Banco Santos (Rua Hungria, 1100 - Jardim Paulistano - São Paulo/SP)
Quando: a partir de 7 de julho, sem previsão para a data de encerramento. De terça a sexta-feira, das 10h às 17h30, aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h30
Ingressos: Entrada gratuita
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