Aids
Ainda em fase inicial de testes, substância poderá ser usada no tratamento preventivo do HIV e do vírus causador da herpes
HIV: em pessoas infectadas pelo HIV e pelo HSV, a multiplicação de um vírus pode intensificar os sintomas do outro(Thinkstock)
Uma equipe de pesquisadores de diversos países está estudando um novo candidato a medicamento contra os vírus HIV, causador da aids, e HSV, causador da herpes. A substância, denominada PMEO-DAPym, não só afeta os dois vírus, como interfere na infecção pelo HIV por meio de dois mecanismos diferentes. Apesar de bastante promissor, esse novo medicamento ainda está em fase inicial dos estudos, e não há previsão de testes em humanos.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: A Multi-targeted Drug Candidate with Dual Anti-HIV and Anti-HSV Activity
Onde foi divulgada: periódico Plos Pathogens
Quem fez: Jan Balzarini, Graciela Andrei, Emanuela Balestra, Dana Huskens, Christophe Vanpouille, Andrea Introini, Sonia Zicari, Sandra Liekens, Robert Snoeck, Antonın Holy, Carlo-Federico Perno, Leonid Margolis e Dominique Schols
Instituição: Rega Instituto de Pesquisa Médica, na Bélgica, e outras
Resultado: O PMEO-DAPym, candidato a medicamento contra os vírus HIV, causador da aids, e HSV, que origina a herpes, age contra a infecção pelo HIV por meio de dois mecanismos distintos.
Pela prática clínica, sabe-se que é comum que pacientes infectados com HIV estejam também infectados pelo HSV. Os dois vírus têm a mesma forma de transmissão, sendo a principal via a relação sexual. Por isso, uma pessoa exposta a um dos vírus está, frequentemente, vulnerável também ao outro. Para complicar, a multiplicação do vírus da herpes estimula o HIV, piorando seus sintomas.
O novo candidato a medicamento, o PMEO-DAPym, é da mesma família do tenofovir, um remédio já muito utilizado para o tratamento do HIV. Um dos seus mecanismos de ação é o mesmo do tenofovir: inibir a produção da enzima que o vírus utiliza para infectar a célula. Mas há ainda outra estratégia de ação em que o novo medicamento aposta: deixar as células menos propensas à infecção pelo vírus. Agindo contra o HSV, o PMEO-DAPym também inibe a produção de uma enzima utilizada pelo vírus para se multiplicar.
“Além de inibir as enzimas do HIV (transcriptase reversa) e do HSV (DNA polimerase), o medicamento estimula a célula a produzir substâncias que se ligam ao receptor que o HIV usa para entrar na célula, o CCR5. Assim, esse receptor fica ‘ocupado’ e não permite a entrada do HIV na célula”, explica Ricardo Diaz, professor de infectologia da Unifesp.
Com dois mecanismos de ação distintos, este é o primeiro medicamento em potencial que atua em duas fases do ciclo do HIV. Segundo os autores do estudo, publicado nesta quinta-feira no periódico Plos Pathogens, essa ação múltipla pode resultar em uma supressão mais eficiente da replicação do vírus.
“O medicamento parece promissor, principalmente em virtude de sua ação dupla, mas ainda está em fase pré-clínica, então é cedo para dizer se ele vai funcionar da maneira esperada”, afirma Diaz.
Resistência — O PMEO-DAPym foi testado em amostras de vírus resistentes aos medicamentos comumente utilizados, tanto para HIV quando HSV, e se mostrou efetivo também nesses casos. Os pesquisadores ressaltam, porém, que mais testes serão necessários para determinar se os vírus não podem acabar desenvolvendo resistência também ao novo medicamento.
Por agir em dois estágios do ciclo de vida do vírus, uma delas anterior à infecção da célula, essa substância tem potencial para ser utilizada de forma preventiva. Antes de ser aprovada para eventuais testes clínicos, feitos com pacientes, a nova droga será testada em animais.
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