João Santana, em e-mails a ministros, afirma que abalo na imagem da presidente não é irreversível e assegura que oposição não representa insatisfações populares
Brasília - A equipe de comunicação da presidente Dilma Rousseff avalia que ela levará quatro meses para reconquistar a popularidade perdida, mas não vê abalo irreversível em sua imagem. Em troca de e-mails com ministros e dirigentes do PT, o marqueteiro João Santana garantiu que Dilma tem todas as condições de se recuperar do "terremoto neopolítico" instalado no País com a onda de protestos e o clima de "tensão pré-eleitoral".
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A estratégia de reação consiste agora no lançamento de projetos em várias frentes, principalmente em saúde e educação. O assunto foi tratado na reunião ministerial de segunda-feira, na Granja do Torto, quando Dilma encomendou uma "força-tarefa" para tirar projetos da gaveta. "Eu quero resultados, coisas concretas. Não adianta só publicidade", afirmou ela, de acordo com relato de ministros presentes à reunião.
O prazo de quatro meses para curar as feridas tem como base o tempo que projetos levam para ganhar visibilidade nas ruas e também o cenário previsto para a melhora de indicadores econômicos, apesar das dificuldades enfrentadas. O Planalto aposta no avanço de concessões e leilões neste segundo semestre.
A avaliação no núcleo político do governo é que a presidente reverterá o desgaste porque encarna o papel de líder forte, que abraça causas coletivas e acena para uma solução negociada. No diagnóstico do Planalto, a proposta do plebiscito sobre reforma política não teria aprovação tão alta nas pesquisas se ela tivesse uma imagem de descrédito. Os últimos levantamentos mostraram que a sugestão da consulta popular tem a simpatia da maioria da população.
Santana disse a Dilma e a um grupo seleto de petistas, nos últimos dias, que um "terremoto neopolítico" pode aparecer de repente, em qualquer governo, não se tratando de um movimento específico contra a presidente. Por esse raciocínio, os chefes do Executivo dos principais Estados e capitais foram questionados, sem levar em conta os partidos, como se as manifestações tivessem "efeito dominó" contra autoridades em geral.
Na análise enviada aos ministros, Santana também chamou a atenção para um dado importante: para ele, o caráter difuso das manifestações mostra que o poder central não foi abalado. O marqueteiro escreveu, ainda, que não há líder de oposição capaz de representar as insatisfações populares.
Apesar da tentativa de Santana de tranquilizar o PT, o governo admite que a campanha veiculada por partidos de oposição, escancarando na TV a alta de preços e a escalada inflacionária, foi bem sucedida.
Faxina. Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma também dizem que ela fará tudo para recuperar a imagem do combate à corrupção. Em 2011, Dilma demitiu seis ministros envolvidos em suspeitas de desvio de dinheiro público. Recentemente, porém, representantes de partidos "varridos" pela "faxina ética" reconquistaram espaço na Esplanada, em troca da garantia de apoio a Dilma na campanha da reeleição, no ano que vem.
O estrago provocado na imagem da presidente pela onda de protestos também pode ser revertido, na avaliação dos petistas, com maior atenção ao Congresso e aos movimentos sociais. A presidente escanteou a política do governo, mas agora a ordem é pôr a simpatia na vitrine.
Acostumada a decidir sozinha as principais diretrizes de sua administração, Dilma adotou, a contragosto, o estilo de "ouvidora" da República. Para o Planalto, com essa fórmula, não há efeito bumerangue à vista. / COLABOROU TÂNIA MONTEIRO
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