SÃO PAULO (Reuters) - Anúncios de governos paulista e paranaense sobre suspensão de reajustes tarifários reavivaram temores de intervencionismo estatal sobre prestadoras de serviços públicos, mas o mercado moderou as críticas, citando o momento político conturbado.
Ações das concessionárias que operam rodovias de São Paulo tombaram na véspera após o governador Geraldo Alckmin anunciar que cancelou o aumento de cerca de 6,5 por cento das tarifas de pedágios nas rodovias do Estado, que deveria entrar em vigor a partir de 1o de julho.
A ação da CCR caiu 3,3 por cento, enquanto a da Ecorodovias perdeu 2,7 por cento e a da Arteris perdeu 3,5 por cento.
Enquanto isso, a estatal paranaense de energia Copel, acatou o pedido do governo do Estado --seu controlador-- e pediu à Aneel o cancelamento do aumento médio das tarifas de 14,6 por cento. O pedido ocorreu após as ações da companhia terem tombado 17 por cento na sexta-feira, quando o governador paranaense, Beto Richa, afirmou que pediria a suspensão do reajuste.
Para profissionais do mercado, as medidas tomadas menos de uma semana após a revogação de aumento de tarifas de transporte público em várias capitais -- em resposta aos protestos populares que tomaram o país-- acirram a sensação de intervencionismo estatal.
As medidas levaram vários analistas a citarem o plano federal lançado em setembro para renovação antecipada das concessões do setor elétrico, que impuseram perdas pesadas às ações do setor desde então. No caso do Paraná, a decisão lembrou os investidores das suspensões de tarifa realizadas pelo antigo governador Roberto Requião, que causou significativas perdas para a companhia.
"As manifestações impõem risco político adicional a todos os reajustes de preços dependentes de concessões", disse o presidente da agência de classificação de risco SR Rating, Paulo Rabello de Castro.
O receio de que o esforço de governos para dar uma resposta às manifestações populares os levem a intervir nas tarifas de outras empresas com preços regulados, pesou em várias companhias. As ações da estatal paulista de saneamento Sabesp caíram 11,8 por cento só nos dois últimos pregões.
"Todos os papéis que são ligados a reajuste de tarifas sofrem", disse Walter Mendes, sócio na Cultinvest Asset Management. "Normalmente esses são setores bem defensivos, onde investidores buscam refúgio nesses momentos ruins de mercado, mas esse cenário (de manifestações) não ajuda muito."
Apesar da preocupação com o impacto do congelamento dos pedágios sobre os resultados das companhias, o mercado mostrou reação moderada, devido à interpretação de que, pelo menos por enquanto, não houve quebra de contrato.
A ABCR, que representa o setor de concessionárias de rodovias, disse que a avaliação ocorre porque a decisão do governo paulista veio acompanhada de medidas que preservam o equilíbrio econômico financeiro dos contratos de concessão.
Já a ação da Copel terminou o dia em alta de 0,7 por cento, após ter chegado a cair 6,1 por cento na mínima da sessão, com o tombo recente de 17 por cento do papel atraindo compradores.
Na avaliação do analista-chefe da Quantitas Asset Management, Marcel Kussaba, o cenário para empresas de energia é "mais delicado" que o de concessionárias rodoviárias, já que as primeiras têm um "arcabouço regulatório mais fraco".
Para Kussaba, as instabilidades no Brasil não ajudam o desempenho da Bovespa, embora o impacto negativo para o mercado seja marginal. "A piora da percepção sobre o governo não é novidade para o mercado financeiro", avaliou.
Segundo ele, o tombo da bolsa paulista no ano reflete muito mais uma conjuntura externa global desfavorável, diante da perspectiva de redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos ainda neste ano, que afasta fluxos de capitais de mercados emergentes para ativos considerados mais seguros. No ano, o Ibovespa acumula queda de 24,6 por cento.
(Por Danielle Assalve)
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