sábado 01 2012

Os 30 anos do combate à aids no Brasil: vitórias da ciência emperram na tragédia da saúde pública


veja.com

Apesar da contribuição brasileira para o desenvolvimento do combate à doença, pacientes ainda sofrem com a falta de médicos e demora no atendimento

Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Fita vermelha, símbolo do combate à aids
Fita vermelha, símbolo do combate à aids (Thinkstock)
Ministério da Saúde estima que 630.000 brasileiros têm HIV ou já desenvolveram aids, e 255.000 sequer sabem que têm o vírus
Três meses. Foi esse o tempo de vida entre os primeiros sintomas e a morte do primeiro paciente com aids no Brasil, um morador de São Paulo de 34 anos. O óbito data de março de 1981, mas a família demorou um ano para saber que aquela era a primeira vítima do vírus no país. A sigla da insuficiência imunológica adquirida começava a assombrar o mundo e tomava o lugar do câncer como o mal mais temido e letal à espreita da humanidade. O trigésimo aniversário do histórico diagnóstico do HIV lembra o início de uma luta contra o tempo, para salvar vidas. Atualmente, o Ministério da Saúde estima que 630.000 brasileiros têm o HIV ou já desenvolveram aids, e 255.000 sequer sabem que têm o vírus. Neste sábado, um evento do ministério em Salvador vai celebrar o Dia Mundial de Combate à Aids.
Há três décadas, pouco se podia fazer. Vulnerável a infecções, o paciente sucumbia logo nas primeiras doenças que se aproveitavam da fragilidade no sistema imunológico. O resultado era a morte em poucos meses. Desde então, o Brasil alcançou vitórias importantes, tornando-se inclusive referência em distribuição universal dos medicamentos que podem retardar o avanço da doença e garantir qualidade de vida aos pacientes. Em 2007 — último dado disponível — a sobrevida dos pacientes de aids atingiu nove anos, mas há registros de brasileiros que manifestaram a doença e administram os sintomas do HIV há mais de 20 anos. Pesquisadores brasileiros têm participado de descobertas decisivas, como o uso eficaz do antirretroviral como método de redução de transmissão do vírus.
Os avanços da ciência tropeçam, no entanto, naquele que é o maior desafio do Brasil de hoje: as políticas públicas de saúde, incapazes de levar à população de forma eficiente o resultado do trabalho intenso de médicos e pesquisadores dedicados a entender e vencer o vírus. Como se imagina em um país de dimensões continentais, há diferenças regionais marcantes, mas, de forma geral, todos os estados têm falhado na missão de prover a assistência. Todos os dias, 32 pessoas morrem em decorrência da aids no Brasil. No Rio de Janeiro, segundo estado em mortalidade de pacientes soropositivos, são nove mortes a cada dois dias. A primeira consulta após o diagnóstico do HIV pode levar até seis meses, como em São Gonçalo, município da região metropolitana do Rio.
A lentidão não é o único obstáculo. A condição financeira influencia muito na qualidade de vida de um paciente com o vírus HIV. Uma consulta com um infectologista na rede particular leva em média uma hora. Na rede pública, o mesmo procedimento é feito em 15 minutos. É o jeito que os médicos encontraram para conseguir atender à quantidade de infectados e pacientes que buscam ajuda na rede pública no Rio. No PAM 13 de Maio, por exemplo, são cerca de 2.100 pacientes para cinco infectologistas — uma relação de 420 pacientes para cada médico. O número de pacientes por médicos, no entanto, é maior porque uma infectologista está de licença maternidade e não foi substituída.

Nenhum comentário: