terça-feira 11 2012

Abelha encontrada na África e na Europa sacrifica filhas mais velhas para favorecer caçulas


Comportamento animal

Estudo suíço mostra que abelhas rainhas da espécie 'Halictus scabiosae' dão propositalmente menos nutrientes a suas filhas mais velhas, condenando-as à morte, para que elas possam ajudar no desenvolvimento das irmãs mais novas

abelha suíça ninhada
Fêmea da Halictus scabiosae. As rainhas deixam intencionalmente parte de suas filhas malnutrida (Francis Ratnieks)
Dizem que as mães devem amar e cuidar de seus filhos de forma igual, sem mostrar predileção por um ou outro. Não parece ser este o caso das abelhas Halictus scabiosae, encontradas na Europa Central e no Norte da África. Um estudo publicado nesta segunda-feira no periódicoFrontiers in Zoology sugere que elas praticamente sacrificam suas filhas mais velhas em benefício das caçulas.

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EUSSOCIAL
Eussocial é o termo utilizado para os animais que são organizados nas mais complexas sociedades, o que inclui divisão de tarefas (como entre reprodutores e operárias). São exemplos formigas, abelhas e cupins.
DIAPAUSA
A diapausa é uma espécie de hibernação dos insetos e de alguns outros seres vivos. Em condições climáticas adversas, como em temperaturas muito baixas, ocorre a redução do desenvolvimento de um determinado organismo.
As abelhas Halictus scabiosae são chamadas eussociais, o que significa que são capazes de formar sociedades complexas, com notável divisão de tarefas. Quando acaba o inverno, as rainhas dessa espécie saem em busca, sozinhas ou em grupos, de novas colônias. Na Suíça, onde foi realizado o estudo, elas dão origem a duas ninhadas ao ano, uma entre junho e julho e a outra entre agosto e setembro. Só que as fêmeas da primeira geração, que têm a função de ajudar a mãe na criação de suas irmãs mais novas, são significativamente menores e têm menos reservas de energia. Como essa reserva é fundamental para suportar o rigoroso inverno seguinte, quando as abelhas precisam até mesmo entrar em estado de diapausa (espécie de hibernação dos insetos), a grande maioria das filhas mais velhas morre. Se elas, assim como as caçulas, também têm capacidade reprodutiva, por que são mais frágeis?
A resposta encontrada por Nayuta Brand e Michel Chapuisat, pesquisadores do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Lausanne, na Suíça, é bastante simples: a abelha rainha propositalmente deu menos nutrientes às filhas da primeira ninhada, quando elas ainda estavam em estado larval, fazendo com que seus corpos ficassem menores e mais fracos. "Fêmeas com corpos menores podem ser mais fáceis de manipular em um papel subordinado por meio de agressões e interações de dominância", escrevem os autores no estudo. Ao intencionalmente restringir o desenvolvimento das filhas primogênitas, a abelha-mãe aumenta as chances de sobrevivência das caçulas, que após o inverno reiniciarão o ciclo como novas rainhas.
O acompanhamento de dois anos envolveu 2.498 abelhas e mostrou que o total de pólen e néctar dado à primeira ninhada era menor: as larvas de abelha mais novas receberam, em média, 40% mais recursos do que suas irmãs mais velhas.
"Embora seja difícil distinguir manipulação maternal da disponibilidade natural de recursos, que é influenciada pela vegetação e pelo clima, o fato de termos visto que o tamanho do corpo (das fêmeas) da primeira ninhada permaneceu constante, apesar das diferentes condições climáticas, mostra que as rainhas restringem o alimento para suas filhas, de modo a relegá-las a papéis de operárias", afirma Chapuisat.
Chapuisat pondera, no entanto, que ainda não está claro até que ponto se pode dizer que a rainha "sacrifica" a primeira ninhada. "Sabemos que existe uma manipulação de alimentos. Mas pode ser que as abelhas mais velhas façam isso voluntariamente, uma vez que ao ajudar suas irmãs e irmãos elas também estão transmitindo seus genes, só que indiretamente."

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