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Sabemos, e como!, que não adianta ter um equipe de jogadores que não sabe a diferença entre disciplina e subserviência. Se alguém tem alguma dúvida a respeito, pergunte a Dunga e a Jorginho, o pequeno cérebro que dirigia a carranca do outro. Atribui-se ao lendário técnico João Saldanha a máxima de que o futebol não precisa de jogadores que queremos para casar com as nossas filhas. Até aí, estamos de acordo.
Mas o futebol tem uma importância cultural no Brasil que requer certos ajustes. O caso estarrecedor do goleiro Bruno vem se juntar a outras polêmicas recentes envolvendo jogadores do Flamengo, como Vagner Love e Adriano, que já deixou o time. Os dois foram flagrados, vamos ser mansos, em relações excessivamente cordiais com traficantes.
Pode-se apelar à história, à sociologia, à antropologia e até à luta de classes para especular por que as coisas são assim: meninos pobres, alçados à fama e com uma montanha de dinheiro, teriam dificuldades para… Bem, vocês sabem onde explicações como essa terminam: na justificação da bandalheira.
O caso Bruno excede a imaginação mais perversa. Parece se tratar de uma verdadeira conspiração de psicopatas; de gente que veio ao mundo sem culpa, que pode amarrar as mãos de uma mulher, mãe de um bebê que está presente (e sobre cujo assassinato também se especula), e anunciar: “Você vai morrer”. A ser verdade o que diz um menor que participou do crime, o corpo de Eliza foi retalhado e dado como comida aos cães. Bruno é um ponto fora da curva até mesmo dos crimes mais hediondos.
Mas uma coisa certa: testemunhos anteriores da vítima e declarações do próprio jogador sugeriam que o atleta tinha uma vida, digamos, bastante heterodoxa para quem era o goleiro do time que tem a maior torcida do país — e que o tinha como ídolo. O futebol brasileiro não precisa de escoteiros cretinos mais ocupados em dar vivas a Jesus — como se o Nazareno se interessasse por futebol! — do que em obedecer ao evangelho da bola. Mas estará cometendo um erro se não exigir dos talentosos um comportamento compatível com a sua função e com aquilo que representam num país apaixonado por esse esporte.
As profissões todas têm códigos de ética. A associação que reúne os clubes e a própria CBF poderiam se ocupar de elaborar um conjunto de procedimentos decorosos a que o atleta se obrigaria — devidamente previstos em contrato.
Alguém dirá: “Não há regras contra os psicopatas”. Pode até ser. A questão é saber se, nesse caso, o próprio Bruno já não havia dado uma pista importante quando convocou o testemunho pessoal de jornalistas, convidando-os a revelar quem, ali, nunca havia dado uns tabefes na própria mulher. O clube o forçou a pedir desculpas, ele pediu. E continuou, com o direi?, em seu ritmo dissoluto…
Flamengo, Corinthians, Vasco, Palmeiras ou o meu Mocoembu, de Dois Córregos… A disciplina sem o talento é uma tristeza; o talento sem a disciplina é uma estupidez. Em ambos os casos, o desastre fica à espreita.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-caso-do-goleiro-bruno-precisa-ser-pensado-pelo-futebol-brasileiro-alem-da-tragedia-episodica/
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