O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro alertou hoje para a presença cada vez maior de elementos estrangeiros nos conflitos na Síria e aponta o envolvimento de militantes jihadistas no país, lutando ao lado de rebeldes. Hoje, Pinheiro entrega à ONU uma lista confidencial de nomes de indivíduos e de unidades militares que teriam cometido crimes contra a humanidade na Síria.
O brasileiro, que lidera a comissão de investigação sobre a Síria, apresentou ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas o que seria seu relatório final das violações que documentou no país, acusando governo, milícias e mesmo forças rebeldes por crimes de guerra. A principal novidade de seu estudo foi a constatação do envolvimento cada vez maior de forças externas atuando na Síria. A presença de jihadistas estaria confirmada, algo que a oposição nega.
Essa é a primeira vez que um documento da ONU confirma a presença de militantes islâmicos. Para Pinheiro, isso é “alarmante” e estaria levando a oposição a uma atitude mais violenta. Pinheiro também acusa os grupos de oposição de não estarem respeitando civis.
No dia 15 de agosto, Pinheiro lançou um informe em que apelava à comunidade internacional para que atuasse para frear a violência na Síria. Mas prometia entregar à ONU uma lista que, no futuro, poderia servir de base para um eventual processo no Tribunal Penal Internacional.
A lista entregue agora conta com pessoas que se considera como “responsáveis por crimes contra a humanidade e violaçoes de direitos humanos”. A comissão liderada pelo brasileiro espera que seu trabalho de coleta de informações permita que os responsáveis por mais de 20 mil mortes sejam levado à Justiça. A lista nao se limitaria aos que cometeram os crimes nas ruas das cidades sírias, mas tambem incluria toda cadeia de comando, inclusive aqueles que os ordenaram e estimularam os atos. Pinheiro evita falar de Bashar al Assad. Mas já indicou que existe a “implicaçao dos mais altos niveis das forças armadas e do governo” nos crimes.
“As ordens se aplicam com a ponta de uma pistola. Quem duvida se arrisca em ser executado de maneira sumária”, apontou o documento. Pinheiro também acusou a liderança dos rebeldes de estar implicado em crimes de guerra e deixa claro que a Síria vive um “conflito armado nao internacional”, termo legal para designar uma guerra civil.
O governo americano já indicou que irá propôr uma ampliaçao e fortalecimento do mandato de Pinheiro para continuar a investigar os crimes cometidos na Síria. “A crise nao acabou e o que o comitê de inquérito fez foi fundamental para reunir dados sobre crimes”, explicou a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Eileen Donahoe. “Queremos renovar o mandato da investigaçao e dar apoio financeiro para que possam fazer seu trabalho”, indicou a diplomata. Mas, até que o mandato seja renovado, Pinheiro quer deixar aos governos um amplo banco de dados sobre tudo o que ocorreu em Damasco desde março de 2011.
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