sábado 22 2012

A dentista dos mortos


Nossos antepassados não escovavam bem os dentes. E, para a ciência, isso é ótimo. Conheça a nova e estranha ferramenta dos arqueólogos para explorar os segredos do passado: o tártaro

por Caroline d´Essen
Ele é feio, nojento, inconveniente. Mas para a americana Christina Warinner, o tártaro é o maior dos tesouros - uma chave para desvendar civilizações antigas. Christina é arqueogeneticista na Universidade de Zurique, na Suíça, onde se especializou num trabalho inusitado: examinar os dentes de cadáveres fossilizados, encontrados em sítios arqueológicos espalhados pela Europa. "O tártaro é uma cápsula do tempo, que preserva todas as coisas que passaram pela nossa boca: bactérias, proteínas, grãos de comida, até o pólen de plantas." Com essas informações, dá para saber o que as pessoas comiam, que doenças tinham, como viviam.

A arqueologia costuma trabalhar com múmias, que são ricas em DNA, mas difíceis de encontrar, e esqueletos - que são mais comuns, mas não revelam tantos dados. Já o tártaro junta as qualidades de ambos. "Ele pode ser encontrado em todo lugar, fossiliza como um esqueleto e retém muitas informações", explica Christina. Tudo porque os povos antigos tinham dificuldades de higiene bucal. Quando vamos ao dentista e fazemos uma limpeza, de 15 a 30 miligramas de tártaro são removidos. Milhares de anos atrás, uma pessoa chegava a acumular 600 miligramas ao longo da vida.

Atualmente, Christina está analisando dentes encontrados num cemitério medieval alemão do ano 1100. Mas sua equipe também começou a coletar tártaro de pessoas vivas, com a intenção de formar um banco de dados para futuros pesquisadores. "Em nome dos futuros arqueólogos, gostaria de pedir: pensem duas vezes antes de escovar os dentes", brinca.

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