segunda-feira 16 2012

Nazista mais procurado viveu por 17 anos com tranquilidade(VEJA)


ungria

Laszlo Csatary levava uma vida normal em Budapeste, mesmo após descoberta sua verdadeira identidade e apesar de tantas informações transmitidas à justiça

Laszlo Csatary
Laszlo Csatary (Reprodução)
criminoso nazista ainda vivo mais procurado do mundo, o húngaro Laszlo Csatary, de 97 anos, viveu dias tranquilos em Budapeste durante 17 anos, mesmo após a descoberta de sua verdadeira identidade e apesar das informações transmitidas à justiça sobre o seu passado há mais de dez meses pelo Centro Simon Wiesenthal, com sede em Jerusalém. Csatary, acusado de cumplicidade na morte de 15.700 judeus durante a II Guerra Mundial, foi encontrado em Budapeste, conforme anunciou no domingo o diretor do Centro Wiesenthal, Efraim Zuroff.
Em um edifício moderno de um sofisticado bairro da capital húngara, há dois nomes em uma caixa de correio: "Csatary/Smith". Esses são os nomes de uma única pessoa, Laszlo Csatary, o chefe de polícia no gueto judeu da cidade eslovaca de Kosice (Kassa em húngaro, Kaschau em alemão) durante a II Guerra Mundial. Nesse gueto, cerca de 15.700 judeus foram assassinados ou deportados para o campo de concentração nazista de Auschwitz, na Polônia, durante a ocupação pela Alemanha nazista.
De acordo com documentos dos arquivos do centro israelense, Laszlo Csatary tratou cruelmente os judeus do gueto. Espancava as mulheres e obrigava as pessoas a cavar trincheiras com as próprias mãos. Segundo seus vizinhos, que parecem ignorar o seu passado, Csatary possui um apartamento de dois quartos no quinto andar. "Eu cruzo de vez em quando com esse idoso senhor; ele tem vivido aqui há muito tempo", contou uma vizinha. "Ele não aparece nas reuniões de condomínio, mas sempre pagou suas despesas", indicou I. Vasarhelyi, um ex-síndico do edifício. O carro de Laszlo Csatary, um Ford Scorpio cinza escuro, está estacionado na garagem. 
Fuga - Antes de regressar a Budapeste, Csatary, que foi condenado à morte à revelia em 1948 na Tchecoslováquia, refugiou-se no Canadá, Montreal e Toronto, onde, sob uma falsa identidade, foi um negociante de arte. Em 1995, as autoridades canadenses descobriram a sua verdadeira identidade, mas deixaram que ele fugisse para a Hungria. Antes de sua fuga, admitiu aos investigadores canadenses sua participação na deportação de judeus, embora afirmasse que seu papel era "limitado". Em abril, o Centro Simon Wiesenthal, nome do famoso caçador de nazistas, um judeu austríaco que morreu em 2005, e cujas investigações em todo o mundo permitiram a descoberta de dezenas de criminosos nazistas, colocou Laszlo Csatary no topo da sua lista de criminosos de guerra nazistas mais procurados do mundo.
Alimentados por informações fornecidas pelo Centro, repórteres do jornal britânico The Sundescobriram o paradeiro do antigo chefe da polícia e conseguiram encontrá-lo. De acordo com o artigo publicado domingo, 15 de julho, no site do Sun, o criminoso de guerra nazista declarou aos repórteres: "Eu não fiz nada, saiam daqui", antes de bater a porta na cara deles. Desde então, Laszlo Csatary já não responde ao toque da campainha. Contatado pela AFP, o procurador-adjunto de Budapeste, Jeno Varga, limitou-se a declarar nesta segunda-feira que "examina as informações que nos foram transmitidas, incluindo pela imprensa". A França pediu que Budapeste conduza Csatary à justiça, porque "crimes nazistas são imprescritíveis".
Justiça - "Acreditamos que os criminosos nazistas, onde quer que estejam, devem responder pelos seus atos perante a justiça", acrescentou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Bernard Valero, durante uma coletiva de imprensa. "O procurador-geral de Budapeste disse que a justiça vai analisar os fatos. Cabe às autoridades húngaras tomar as medidas adequadas neste caso", acrescentou. "Esse homem está saudável e dirige seu próprio carro", disse por sua vez o americano Efraim Zuroff, que é autor do livro Caçador de nazistas.
Sobre a justiça húngara, ele se mostrou crítico: "Nada foi feito e estou muito frustrado. Com a idade de Csatary, a saúde pode deteriorar-se de um dia para o outro. Temos de agir rapidamente". Para Zuroff, a passagem do tempo não diminui sua culpa, e a velhice não pode fornecer proteção para os perpetradores do Holocausto. "Se ele é considerado o criminoso nazista mais procurado, é porque existem poucos até hoje ainda em fuga, todos com idade superior a 90 anos", disse Serge Klarsfeld, presidente da Associação de filho e filhas de judeus deportados da França.
"Não tenho certeza de que haverá ação legal com esse governo conservador" do primeiro-ministro Viktor Orban, acrescentou. Orban é alvo de críticas por causa de seguidos incidentes anti-semitas na Hungria nos últimos meses e uma frouxidão quanto ao envolvimento nesse assunto de muitos de seus parentes, incluindo o presidente do Parlamento, Laszlo Kover. Isso levou o Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel, um sobrevivente do Holocausto, devolver uma condecoração ao governo em 19 de junho.

Centenas participam de homenagem a judeus presos e deportados há 70 anos pela polícia francesa
Centenas participam de homenagem a judeus presos e deportados
Homenagem - Centenas de pessoas participaram nesta segunda-feira em Drancy, comuna ao norte de Paris, de uma cerimônia em homenagem aos 13.152 judeus presos e deportados há 70 anos pela polícia francesa, evento que ficou conhecido como "rafle du Vel d'Hiv". É a primeira manifestação em território francês, em memória ao acontecido. As homenagens terminam domingo com uma cerimônia com a participação do presidente francês, François Hollande, no local do antigo Velódromo de Inverno de Paris (Vel d'Hiv), onde milhares de judeus foram presos.

Em 16 e 17 de julho de 1942, 13.152 judeus foram detidos em Paris e seus subúrbios por 9.000 policiais e gendarmes franceses destacados para a operação, antes de serem deportados para campos de extermínio nazistas, incluindo Auschwitz. Do número total de deportados, apenas uma centena deles sobreviveram e nenhuma das 4.000 crianças entre 2 e 12 anos, detidas pela própria iniciativa da polícia francesa, sem a demanda nazista. 
Em Jerusalém, centenas de pessoas devem participar de uma cerimônia no Yad Vashem, memorial da Shoah (Holocausto), organizada pela Aloumin, a associação israelense de crianças escondidas na França durante a Shoah, e a delegação israelense da FDJF (Filhos e filhas de judeus deportados da França).

O embaixador francês em Israel, Christophe Bigot, depositou um buquê de flores sobre a inscrição "Drancy" no coração de Yad Vashem (Autoridade de Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto). A oração pelos mortos foi recitado pelo neto de um deportado. "Esses homens, essas mulheres, essas crianças acreditavam na França e foram abandonados pelo estado francês à barbárie nazista. Setenta anos depois, essa mancha em nossa história não foi apagada", afirmou o embaixador em seu discurso.
(Com agência France-Presse)

Nenhum comentário: